O treinador da seleção japonesa, o bósnio Vahid Halilhodžić, tem uma história muito peculiar. Ex-atacante da seleção da Iugoslávia, na Eurocopa de 1976 e na Copa do Mundo da Espanha em 1982, ele foi ídolo no futebol francês atuando pelo Nantes, onde ganhou o campeonato nacional de 1981 sendo o artilheiro.
Após parar de jogar, Halilhodžić começou a carreira como treinador em seu país, no Velez Mostar, clube onde também deu seus primeiros passos como atleta. Na casamata, já dirigiu a Costa do Marfim e a Argélia. Com os argelinos esteve na Copa de 2014, no Brasil, e fez um grande enfrentamento contra a Alemanha no Estádio Beira-Rio.
Mas a história de Vahid, 65 anos, que está no comando do time japonês desde 2015, vai além dos gramados. Logo depois de começar a atuar como técnico, viu sua cidade natal Mostar ser dividida entre a parte leste com o exército da Bósnia e a oeste, dominada pelos croatas.
Após nove meses de intensos bombardeios, Halilhodžić acabou sendo uma das vítimas da guerra. Uma entrevista dele, à TV Yutel, que ainda pertencia à antiga Iugoslávia, ferido na cama de um hospital, ficou famosa no país e não agradou o Conselho de Defesa Croata, o exército do país vizinho, que o ameaçou de morte, fazendo-o sair às pressas da Bósnia e Herzegovina. Pouco tempo depois, sua casa foi saqueada e queimada pelos croatas.
Mas a França realmente foi seu destino. Após deixar Mostar ele foi treinar o pequeno Beauvais e, depois de uma passagem pelo Raja Casablanca, do Marrocos, voltou a trabalhar no país que lhe abriu as portas e comandou Lille, Rennes e PSG. Em maio de 2004, Vahid se tornou Cavaleiro da Legião de Honra do governo da França. A honraria é dada àqueles que têm o mínimo de 20 anos de serviços públicos ou 25 anos de atividade profissional com "altos méritos".
Em seu discurso de agradecimento afirmou que chegou a questionar se era merecedor de tudo que a França lhe deu.
— Isso vai direito ao meu coração. Nunca em minha vida eu senti algo assim. Essa é uma enorme emoção e um novo sentimento para mim, um troféu por mérito esportivo. Mas eu realmente mereço isso? — disse Halilhodžić, que tem nacionalidade francesa e residência fixa em Lille, local da partida desta sexta-feira.