- Trajeto: 100 km
- Tempo: 5h
- Tipo de visitação: com guia credenciado. O preço nas agências para o passeio de quatro pessoas varia de R$ 110 a R$ 150 cada uma (o valor sobe se é apenas o casal). A viagem costuma incluir busca no hotel, quando localizado no centro de Cambará, e água.
Passeio de 4x4 leva visitantes a fazendas, florestas, rios, lajeados e cachoeiras nos Campos de Cima da Serra
Sempre gostei de água, então achei empolgante a promessa, logo no primeiro dia, de uma aventura radical: explorar em cinco horas o Circuito das Águas, um percurso de cem quilômetros feito em camioneta 4x4 cortando fazendas, florestas, rios, lajeados e cachoeiras. Há três paradas: Cascata dos Venâncios, Passo da Ilha e Passo do S – esta última, a única visitada pela nossa equipe.
O roteiro completo do circuito é feito com guia credenciado, autorizado a entrar nas propriedades privadas. Até é possível conferir cada ponto sozinho, mas é necessário entrar por estradas vicinais de difícil acesso – por isso, a maioria das pessoas contrata o passeio.
A melhor pedida para o inverno é o Passo do S, um percurso pelos campos de altitude que, ao cortar dezenas de coxilhas, chega a um rio, cruzado dentro do carro, e depois à Cachoeira do S. No verão, o legal é se banhar nas águas da Cascata dos Venâncios e do Passo da Ilha, que funcionam como camping. Evite os passeios em dias de chuva – as estradas de acesso viram um lamaçal.
Passo do S
- Ponto alto: cruzar o Rio Tainhas com um veículo e avistar a Cachoeira do S.
- Não é recomendado banho.
Empolgadíssimo, o guia Genaro Teixeira nos buscou na Avenida Getúlio Vargas, em sua Land Rover branca. Fazia 7ºC e eu achava frio (não imaginava que, à noite, faria 0°C). Tomamos a RS-020, seguimos por nove quilômetros na estrada de chão que leva ao município de Jaquirana e entramos em uma fazenda.
Avistamos a beleza dos campos de altitude, a vegetação dos Aparados da Serra. A camioneta seguiu por estradinhas de terra, ultrapassou terneiros, deixou casarões para trás e cortou coxilhas. No horizonte, a vegetação rasteira despontava, enquanto os morros surgiam até onde a vista alcançava. Diferentemente das cidades, onde os prédios são a moldura de nossa visão, aqui não há limitações, os únicos pontos de desvio são as araucárias.
– Para saber se a árvore é nova, basta olhar para os galhos. Se forem em formato de cone, a araucária é nova. Se forem em formato de candelabro, ela tem centenas de anos – explica Genaro.
O caminho era tortuoso, cheio de pedras que faziam a Land Rover quicar. Perdi as contas de quantas vezes paramos a camioneta para abrir e fechar as cancelas de madeira que limitavam as propriedades – ocasiões em que eu descia do carro, sujava os tênis de lama com muita plenitude e esperava que as vacas não fugissem dali.
As colinas viraram passado quando exploramos uma floresta fechadíssima de pinus, espécie canadense plantada na região para se tornar papel ou madeira.
Foi nítida a mudança de ambiente: o ar gelou e a trilha escureceu, adotando um tom marrom, terroso. Tudo o que se via em 360° eram finos troncos enfileirados – um cenário da Bruxa de Blair ou da Floresta Negra de Harry Potter.
Vencemos a última grande coxilha e chegamos ao Rio Tainhas, que cortava a paisagem terrestre. Estava ali o Passo do S, um lajeado cuja razão do nome saltava aos olhos: o curso da água era sinuoso, semelhante à letra “S”.
Em vez de parar na beira do rio, o carro avançou. Genaro não hesitou por sequer um instante.
– Preparem-se. Vamos entrar na água – disse, com emoção.
O barulho seco dos pneus por cima das rochas da estrada de chão deu espaço a um chiar aquoso. As rodas entraram no meio do rio, olhei para os dois lados da janela e só havia água a nossos pés. À direita, em cima de uma pedra, um carcará, espécie de ave de rapina, nos observava.
A travessia do Rio Tainhas é demarcada por estacas de ferro – algumas já caídas. Bem no meio do rio, o carro parou por um momento para apreciarmos a beleza à nossa volta. Aproveitei a oportunidade, agachei-me para fora da Land e coloquei a mão na água gélida.
A camioneta seguiu devagar até cruzarmos o rio. Já em terra, subi a pé uma coxilha e revi, do alto, o formato sinuoso do rio. Estava de pé, em um local que, antigamente, era cruzado por tropeiros a cavalo. De alguma forma, passado e presente se misturavam, sem rodeios.
Voltei à Land, cruzamos o rio de volta e estacionamos. Agora, era hora de seguir a pequena trilha até a Cachoeira do S, com 23 metros de altura. O trajeto é fácil, um percurso plano pela vegetação nativa, sem qualquer infraestrutura ou proteção. À esquerda, o desfiladeiro se delineia e o barulho da queda d’água se intensifica enquanto o sol se põe.
Paramos no penhasco e encaramos, em meio às cigarras que voavam em frente a nossos olhos, a cachoeira. Em frente, uma grande fenda que abriga araucárias cheias de barbas de pau verde, pintadas pela umidade, parece querer nos engolir.
No entardecer, a luz vermelha do sol cortou as coxilhas pela metade, como se os morros fossem divididos por uma grande faca de bolo e depois escondidos. Engraçado como a natureza mostra suas belezas pela manhã mas, ao fim do dia, oculta tudo, como se a hora do espetáculo já tivesse se encerrado. Agora é hora de fechar as cortinas mesmo e, quem quiser, que volte no dia seguinte.
Retornamos à camioneta com as cortinas desse teatro fechando atrás de nós. Percorremos o trajeto de volta em silêncio. Somos acompanhados pelo céu estrelado, sem qualquer nuvem. Vez em quando surgem vacas no caminho.
Como chegar
- Saia da Avenida Getúlio Vargas até a RS-020 e siga por 32 quilômetros. Na rotatória para o município de Tainhas, pegue a primeira saída para a BR-453 e ande 19 quilômetros.
- Vire à direita na RS-110 e siga por 16 quilômetros. Vire novamente à direita, saindo da RS-110, e siga por quatro quilômetros. Na terceira bifurcação, siga à esquerda por mais quatro quilômetros.
Outras paradas do Circuito das Águas
Cascata dos Venâncios
- Ponto alto: banhos em piscinas naturais e o camping
- Não há eletricidade
Formada pelo Rio Camisas, a cascata de cinco quedas d'água (uma delas com cinco metros de altura e cem metros de comprimento) fica na divisa de Cambará do Sul e Jaquirana. Para um passeio no dia, invista nas trilhas e nos banhos _ uma ótima pedida para quem vai com crianças em dias de calor (R$ 10 por pessoa para até duas horas de visitação, R$ 20 para mais de duas horas ou com uso de churrasqueira). Há um camping para acampar (R$ 20 a diária, sem eletricidade), mesas ao ar livre, banheiro (chuveiro com água fria) e café colonial, mediante reserva (R$ 40). Para o lanche, peça um pedaço de bolo de bergamota (R$ 5) ou um pastel de pinhão (R$ 7). O café é por conta da casa.
Como chegar
- Jaquirana, Estrada da Jaquirana, km 22. Saia de Cambará, siga na RS-020 por oito quilômetros em asfalto e dobre na Estrada da Jaquirana, seguindo por 14 quilômetros em estrada de chão. Tempo de viagem: uma hora.
- Contato: (54) 98425-7301 ou rosielemn@gmail.com
Passo da Ilha
- Ponto alto: banhos em piscinas naturais e o camping
- Não há eletricidade
A grande pegada do Passo da Ilha, uma área rochosa banhada por águas com uma ilha no meio, é relaxar em um dia de sol bem no meio da natureza. O local fica dentro de uma propriedade privada, o que garante a boa infraestrutura do local, um detalhe raro nos destinos em Cambará do Sul.
Quem quer só passar o dia paga R$ 15 pela entrada e aproveita as cachoeiras e poças d'água ideais para banho. Também dá para optar por fazer um churrasco (R$ 10 pela churrasqueira avulsa).
É possível acampar (R$ 25 a diária para adultos) com direito a água potável, banheiros, chuveiros, eletricidade, tanques para lavar roupa e minimercado. Agora, se você não abre mão do conforto, opte por uma das duas cabanas com capacidade para abrigar quatro pessoas (R$ 200 para adultos, R$ 150 com dois adultos e duas crianças).
Como chegar
- Fica em São Francisco de Paula. Saia de Cambará, siga na RS-020 por 20 quilômetros, dobre à direita na Estrada Passo da Ilha e siga reto por 40 quilômetros em estrada de chão.
- Contato para reservas: (54) 99966-6636 ou (54) 99916-6414