As impressionantes fendas do cânion mais conhecido do Estado, a 18 quilômetros de Cambará do Sul, podem ser conhecidas em três trilhas

  • Onde: Parque Nacional de Aparados da Serra
  • Tamanho: 13,1 mil hectares
  • Extensão dos paredões: 5,8 km
  • Profundidade: 720 metros
  • Largura: 600 metros
  • Vegetação: Campos de Cima da Serra
  • Funcionamento: terça a domingo, 8h-17h
  • Trilhas: do Cotovelo, do Vértice e do Rio do Boi
  • Estrutura: não há lanchonetes, mas há banheiros
  • Ingresso: gratuito


Número de turistas no Cânion Fortaleza ano a ano

2012

72.274

2013

73.590

2014

76.058

2015

106.899

2016

111.808

2017

124.907

Como chegar


Ônibus

Com seus paredões verticais e suas fendas estreitas, o Itaimbezinho é o cânion mais conhecido dos Campos de Cima da Serra. Pudera: o Parque Nacional de Aparados da Serra, onde fica a atração, existe desde 1959, o que contribuiu para talhar a fama da atração. Aqui, a vegetação predominante são os campos de altitude, com suas araucárias, e a Mata Atlântica. Eis a raiz da criação do parque: preocupado com o desmatamento da espécie, o botânico e padre Balduíno Ramos decidiu transformar o espaço em reserva natural.

A fenda que faz a divisa vertical entre Rio Grande do Sul e Santa Catarina pode ser acessada por cima do cânion, via Cambará, ou por baixo, via Praia Grande (SC). O principal acesso – e o mais fácil – é por Cambará mesmo, apesar da péssima sinalização, com pouquíssimas placas indicando direções.

Embora quase todo o trajeto seja feito em estrada de chão, a estrada ainda está em melhores condições do que a via que leva ao cânion Fortaleza. No caminho, trafegue devagar para não danificar o carro e aproveite a geografia da região.

O Itaimbezinho tem melhor infraestrutura do que o Fortaleza (há banheiros, bebedouros e alguns guarda-corpos), mas ainda assim deixa a desejar. Não há lanchonetes, e o único controle é uma guarita no acesso, onde o visitante assina um formulário afirmando estar ciente dos riscos.

A origem do nome do cânion vem da língua dos caingangue, naturais da região. “Ita” significa pedra e “imbe”, afiado. O “zinho” veio do português mesmo, para dar um pouco de afeto. E o parque se chama Aparados da Serra porque, graças às fendas, parece ter sido aparado com um facão gigante.

Há três trilhas para passeio. Duas são com acesso via Cambará do Sul, pela parte de cima do cânion (isto é, nas bordas): a do Vértice e a do Cotovelo. Ambas dispensam guia e podem ser realizadas de bicicleta.

Por baixo, no interior do cânion, a opção é a Trilha do Rio do Boi, de nível difícil e recomendada para quem é praticante de trekking – o passeio dura um dia inteiro e só é permitido com guia credenciado. O acesso desta é por Praia Grande (SC). Opte por este trajeto fora do inverno: é preciso entrar na água em vários trechos e fazer o percurso com uma perneira (espécie de polaina de nylon) para se proteger contra galhos, pedras afiadas e, eventualmente, cobras.

ZH realizou todas as trilhas do parque. Confira a seguir.

  • Distância: 6 km ida e volta
  • Duração: cerca de 2h
  • Dificuldade: leve a moderada
  • Pode ser feita de bicicleta

Em geral, é a primeira trilha recomendada no Itaimbezinho. Daqui são feitas as fotos mais clássicas no cânion, uma vez que a vista permite ver 70% do perau.

O trajeto começa ao cruzar a ponte do Rio Perdizes que, mais adiante, formará a Cachoeira das Andorinhas, avistada na Trilha do Vértice.

Chegamos ao parque no início da tarde, atentos para não estourar as 15h, horário limite de entrada. O percurso é fácil, em uma antiga estrada de terra e pedras que dava acesso ao parque – o “moderado” na dificuldade é por conta da extensão. Preste atenção às araucárias com até cem anos de idade (na forma de candelabro). Há, no meio da trilha, um banheiro disponível aos visitantes.

Trilha do Cotovelo

Entre os possíveis amiguinhos a serem vistos, estão quati, graxaim e veado-campeiro. Há também pumas, conhecidos como leão-baio – mas, como a trilha é muito acessada por humanos, o bicho se afugenta e não chega perto. Além disso, a espécie – em extinção – tem hábitos noturnos.

Após 2,5 quilômetros, já há um mirante, à esquerda. A vista é o mais próximo que é possível ficar entre os dois paredões do cânion, com 720 metros de altura. Procure, também, por uma pequena queda d’água: o Véu da Noiva. Daqui de cima, já foram filmadas cenas da série A Casa das Sete Mulheres (2003) e da novela Chocolate com Pimenta (2003-2004). Onde pisamos é Cambará do Sul, mas a partir de um metro abaixo da borda do penhasco, já é Praia Grande, em Santa Catarina. Só não dá para colocar os pés nos dois Estados ao mesmo tempo.

Trilha do Cotovelo
Trilha do Cotovelo

Ainda do mirante, ouça as águas do Rio do Boi. Entre as lendas que explicam a nomenclatura, o guia Gerson Patricio conta que o primeiro nome era Rio do Boi Morto, porque o gado caía dos precipícios, em meio à neblina, e as carcaças eram arrastadas pelas águas.

Com o pôr do sol, um misterioso jogo de sombras fatia o cânion pela metade. A natureza é assim, um espetáculo que, a depender dos ponteiros do relógio, exibe traços singulares que podem ser fotografados por diversos ângulos.

  • Distância: 1,5 km, sendo metade em calçada
  • Duração: 40 minutos
  • Dificuldade: fácil
  • Pode ser feita de bicicleta

Em geral, é feita após a Trilha do Cotovelo. O nome é porque se passa pela fenda de abertura do cânion (ou seja, o vértice) no caminho. Apesar de nomear a trilha, o local não tem qualquer placa trazendo a explicação, e o vértice justamente tem um amontoado de areia, malcuidado. O ápice aqui é o mirante que permite visualizar a Cascata das Andorinhas, uma queda d’água de 300 metros de altura.

Logo de início, há uma bifurcação. À direita, está o mirante da Araucária. Você pode até fazer um pit-stop aqui, mas a vista mais legal é seguindo em frente, no Mirante das Cachoeiras.

Chegamos justamente no pôr do sol ao local, de onde é possível avistar a Cachoeira das Andorinhas, formada pelo Arroio dos Perdizes, avistado na Trilha do Cotovelo. Atente-se ao barulho da água, cesse os pensamentos do dia a dia e se deixe envolver pela atmosfera de paz. Mais à frente, em um segundo mirante, esforce-se um pouco para ver a Cascata Véu da Noiva, formada pelo Arroio do Preá.

Trilha do Vértice

Na volta, vale fazer um desvio no Café do Vô Marçal e Artesanato da Vó Maria, o único local que oferece lanches no cânion Itaimbezinho. Uma família foi criada na casa, erguida em 1945 pelo casal que hoje dá nome ao pequeno comércio. A decoração foi conservada desde então – não há eletricidade, e a única fonte de calor é um fogão à lenha (contamos melhor essa história em uma reportagem especial.

Trilha do Vértice

Os turistas são recebidos na sala de estar por herdeiras de Marçal e Maria, prontas para preparar um bom pastel de pinhão (R$ 8) ou mesmo um almoço campeiro (R$ 25, mediante reserva). Chegar até ali é fácil, há uma série de placas de madeira fincadas no chão.

  • Distância: 14 km
  • Duração:7-8h
  • Dificuldade: difícil

É a trilha mais difícil para realizar no Itaimbezinho, no acesso por Praia Grande (SC). São 14 quilômetros sobre pedras e com cerca de 20 travessias no Rio do Boi.

Nossa equipe não teve tempo, nesta viagem, para fazer esta trilha de oito horas por baixo do cânion Itaimbezinho. Mas o repórter de GaúchaZH Humberto Trezzi encarou esta aventura no verão passado e conta como foi a seguir:

Você e eu conhecemos muitas pessoas que já visitaram os cânions entre São Francisco de Paula e Cambará do Sul, pelo alto. Estivemos várias vezes nesses mesmos locais. Enfrentamos estradas esburacadas, cravejadas de rochas, capazes de rasgar pneus e estragar a suspensão de carros comuns. Um passeio com pitadas de aventura.

Que tal agora incrementar essa aventura com grandes doses de esforço físico, cansaço, suor, água gelada, trilhas na mata e equilíbrio entre rochas grandes e pequenas? Montanhismo na veia, só que para principiantes. Vamos nessa?

A região é a mesma, os Aparados da Serra. A diferença é que, em vez de ir até os cânions de automóvel, pela parte de cima, o neo-aventureiro chega aos desfiladeiros por baixo, ao nível do mar. Melhor do que isso: percorre eles POR DENTRO.

Sem meias palavras, é muito melhor do que apenas observar a paisagem de cima. Uma coisa é ver, outra é sentir-se parte dos cânions, penetrar neles, fazer uma imersão na natureza selvagem.

São duas as portas de entrada para um passeio pelo interior dos cânions, ambas por Santa Catarina. A mais utilizada e melhor estruturada é pela cidade de Praia Grande, a poucos quilômetros da divisa com o Rio Grande do Sul. Ela está encravada no sopé da Serra do Mar, a cerca de 25 quilômetros da BR-101, próximo a Torres (RS). Os dois passeios possíveis, a partir desta cidade, são aos cânions Itaimbezinho e Malacara. O primeiro é um passeio de sete horas e meia, bastante difícil. O segundo leva três horas e tem dificuldade média. A outra possibilidade é ir até a cidade de Jacinto Machado (SC) e ingressar dentro do cânion Fortaleza (também divisa catarinense-gaúcha).

Eu e minha mulher, Angélica, topamos o desafio e fizemos um dos trajetos mais difíceis, o que leva ao Itaimbezinho. Praia Grande tem toda uma estrutura para esse tipo de aventura. São dezenas de pousadas, cada uma conectada a empresas com guias. Atenção: não é permitido ingressar nos cânions por dentro sem guia. É exigência do ICM-Bio (órgão governamental que administra os parques federais).

Uma exigência razoável, diga-se de passagem. Sem guia seria muito difícil, para não dizer impossível, que alguém conseguisse percorrer a profusão de trilhas na Mata Atlântica, morro abaixo e morro acima, e também as passagens dentro do Rio do Boi (o que percorre o interior do Itaimbezinho).

Trilha do Rio do Boi

São quatro horas pela mata dentro do Parque dos Aparados, em trilhas no morro pela quais o forasteiro conhece belezas – orquídeas, bromélias, frutas nativas – e também resquícios de população que outrora viveu ali. As outras quatro horas são literalmente dentro do Rio do Boi, cujo nome se deve a uma situação sinistra: com a neblina dentro do cânion, que costuma ocorrer quase todos os dias, o gado se perdia nas alturas dos campos de cima da serra e caía penhasco abaixo, dentro do desfiladeiro. Isso quando ainda havia gado no parque.

É passeio para quem não tem medo de água gelada. No trajeto os turistas atravessam 20 vezes o Rio do Boi (sim, você leu certo, 20 vezes!). Fazem isso de mãos dadas, para evitar que as corredeiras ou o limo das pedras gerem tombos e carreguem o vivente correnteza abaixo.

Idosos e adolescentes menores de 15 anos dificilmente são incluídos nos grupos guiados. Isso porque a travessia não é brincadeira, exige um pouco de preparo. No dia em que percorremos a trilha, uma senhora de 65 anos teve de ser carregada em maca, morro acima, porque não conseguia mais caminhar. Foi um transtorno que demandou até ambulância e atraso no passeio.

Assustado? Não fique. A paisagem é deslumbrante. O silêncio, calmante. A água, translúcida. A mata, espetacular. Cachoeiras diversas junto aos paredões do cânion propiciam, ao turista, banhos inesquecíveis. E, no fim de tudo, uma grande história para contar aos amigos. Precisa mais?

Trilha do Rio do Boi

Algumas dicas

  • Em primeiro lugar, obedecer conselhos do guia. Caso contrário, esta trilha oferece grandes perigos. Horários devem ser cumpridos em função da neblina e do rio, que levantam com rapidez incrível. Os passos devem ser guiados para evitar perder-se, quedas de grandes alturas e ferimentos.
  • Estar em forma para o exercício. Com muito alongamento antes e depois da caminhada. Caso contrário, será difícil caminhar no dia seguinte.
  • É imprescindível levar calçados confortáveis e, ao mesmo tempo, resistentes. Tênis é a pedida, desde que a cola do solado aguente (o meu não aguentou e tive de amarrar o calçado aos pés). Outras opções são botinas de montanhismo e papetes fechados (calçados de borracha usados por mergulhadores).
  • A roupa também deve ser funcional. No verão, camiseta leve, que ajude a transpiração. Shorts e perneiras (essas, fornecidas pelos guias, evitam torções, cortes provocados pelas pedras e impedem mordedura de cobras). No inverno, caso o sujeito tenha coragem de enfrentar águas geladas, um blusão e calças cargo. Além de chapéu, claro.
  • Protetor solar, mesmo que o sol fique grande parte do dia obstaculizado pelos paredões.
  • Repelente de mosquitos. O passeio na mata é torturante para quem não usa.
  • Uma mochila com garrafinhas de água e um lanche leve (frutas, barras de cereais, sanduíche. Passoquinha é uma boa ideia que uma companheira nossa ofereceu. Energizante.).
  • Máquina fotográfica ou, no mínimo, celular (que não funciona para ligar, só para fotografar, já que não há qualquer sinal telefônico dentro do despenhadeiro).

O que levar