Apesar de não oferecer nenhuma infraestrutura ao visitante, o cânion a 23 quilômetros de Cambará do Sul vale ser visitado muitas vezes

  • Onde: Parque Nacional da Serra Geral
  • Tamanho: 7,5 km
  • Extensão dos paredões: 1.240 metros
  • Profundidade: 2 km
  • Largura: 17,3 mil hectares
  • Vegetação: Campos de Cima da Serra
  • Funcionamento: diariamente, 8h-17h
  • Trilhas: Mirante Principal, Pedra do Segredo, Borda Sul e Tigre Preto
  • Estrutura: não há qualquer infraestrutura, exceto um banheiro na guarita de acesso
  • Ingresso: gratuito


Número de turistas no Cânion Fortaleza ano a ano

2013

52.139

2014

55.243

2015

82.440

2016

87.485

2017

98.169

Como chegar

Sete anos após visitar o cânion Fortaleza, em uma viagem desafortunada na qual vi apenas neblina em minha frente, voltei ao irmão menos conhecido do Itaimbezinho. A fama não poderia ser mais injusta: o Fortaleza, apesar de estar atrás em termos de infraestrutura (não há), oferece trilhas abertas com paisagens panorâmicas que, o tempo todo, assombram pela beleza.

Saímos do centro de Cambará em direção ao Parque Nacional da Serra Geral, a área de conservação criada em 1992 que protege o precipício com paredões que lembram muralhas – daí o nome Fortaleza. A manhã estava tão nublada que temi repetir a experiência de anos atrás, mas antes mesmo de chegar ao destino, o tempo já tinha aberto.

Descobri nesta viagem que a melhor época de conferir os cânions é no inverno, quando há menor diferença na temperatura da umidade fria dos desfiladeiros em relação à massa de ar quente do litoral catarinense – é o choque entre as duas frentes que gera a neblina.

O trajeto até o Fortaleza pede paciência: ignore a sensação de estar em um liquidificador por causa da péssima estrutura da estrada de chão repleta de pedras. Aliás, evite ir com carro rebaixado e se prepare para rodar devagar. Após cerca de 45 minutos, você chegará ao parque. Fique atento: celular não pega por aqui.

Antes de entrar, assine um termo sobre estar ciente quanto aos riscos de quedas ou fraturas. O aviso tem razão de ser: o cânion Fortaleza tem pouquíssima estrutura para turistas, bem pior do que no Itaimbezinho. Há escassez de placas de sinalização, banheiros apenas na entrada (faça xixi antes de sair do hotel!), quase nenhuma contenção para proteger as pessoas dos precipícios e raras latas de lixo. Tampouco há lanchonete (leve água e lanche).

O parque pede que o visitante seja acompanhado por guia, mas você pode ir sem. Só não passeie sozinho – a ideia nunca é boa, devido à ausência de sinal de celular e à possibilidade de surgir neblina de uma hora para outra. E evite o passeio após a chuva: o trajeto de terra batida será um mar de lama.

Há três trilhas amadoras: da Borda Sul, da Pedra do Segredo e do Mirante Principal. Para os mais experientes, considere a do Tigre Preto, que só pode ser feita com guia credenciado. O guia, aliás, é uma boa pedida: além de contar a história e a geografia da região, ajuda a se achar em meio a trilhas praticamente sem placas de sinalização.

  • Distância: 4 km ida e volta
  • Duração: 1h30min
  • Dificuldade: Moderada
Trilha do Mirante Principal

Este é o percurso mais frequentado. Do mirante principal, a visibilidade do cânion é de 95% e ainda dá para vislumbrar, com a ajuda do bom tempo, a cidade de Torres.

O trajeto é fácil, seguir o caminho é quase natural: começa plano e depois se transforma em uma subida gradual, sempre com o percurso em campo aberto, o que possibilita uma vista panorâmica. Não esqueça do boné e do protetor solar – o sol vem direto na cabeça.

Caminhe pela vegetação rasteira de cor amarelo-queimado e aproveite a visão de coxilhas dos Aparados da Serra ou da garganta do próprio Fortaleza, que fica mais imponente a cada passo.

A trilha, apesar da falta de placas, é bem demarcada, uma vez que era uma antiga estrada. Há muitas pedras de basalto no caminho, o que não deixa o solo liso, por isso não vá com bota de salto alto ou tênis de sola fina.

Após cerca de meia hora de caminhada, dobre à esquerda no primeiro mirante da trilha, protegido por uma tela, para evitar que os visitantes caiam de uma altura de 800 metros. Ao observar a vista, use um pouco a imaginação para enxergar, à esquerda, uma grande pedra na forma do rosto de um elefante.

Siga adiante e não se importe em perder um pouco o fôlego quando a trilha começa a se inclinar e a planície se transforma em colina. Aqui, o passeio já está bem aberto e panorâmico, mas o caminho é mais estreito. A vista ganha altitude e profundidade – as árvores grandes e os carros no estacionamento ficam pequenos. Não perca de visão a fenda profunda do Fortaleza, que acompanha o passeio sempre à margem.

Após cerca de 50 minutos de caminhada, a subida íngreme se transforma em uma pequena planície rochosa circular, como uma enorme bandeja de garçom. Desfrute, por fim, da vista em 360º do mirante principal: os paredões do Fortaleza estão logo à frente, imponentes como se fôssemos a menor fração de poeira do universo. À esquerda, você verá uma pequena queda d’água, a Gravata do Noivo.

Trilha do Mirante Principal

Entre o viajante e o outro lado da fenda do Fortaleza, há 1,5 quilômetro de desfiladeiro, mata nebular e o Rio Tigre Preto, onde se realiza a trilha homônima. Foque, ao fundo, nas cadeias de montanhas tão distantes a ponto de adquirir uma coloração azulada do céu. Acima dos morros, há uma coroa de uma fina linha de nuvens – o relevo mais ao fundo é Criciúma (SC), distante 130 quilômetros de Cambará.

Do outro lado do mirante, oposto ao cânion, foque na lagoa de Sombrio, no município catarinense de mesmo nome. Mais adiante, você verá Torres, a 30 quilômetros de distância. Abaixo do desfiladeiro, visualize as plantações de arroz, quadradas como se fossem feitas pelo carimbo de um burocrata gigante querendo despachar documentos. Tome cuidado com o vento forte que desestabiliza na hora de caminhar.

Perdidos em questionamentos frente à visão memorável, estavam o garçom Menderson Machado, 23 anos, e a técnica contábil Schaiane Costa, 30. O casal viajou de Canoas no dia anterior e acabou aproveitando o silêncio do Fortaleza.

Trilha do Mirante Principal

– É sensacional. Depois de um dia assim, vamos voltar tranquilos para o trabalho – diz o rapaz.

Schaiane, que foi de bota, reclamou que escorregou algumas vezes na trilha. Mesmo assim, apreciou o passeio:

– Gostamos muito de natureza. Isso aqui é muito bom.

  • Distância: 3 km
  • Duração: 1h
  • Dificuldade: Moderada
Trilha Pedra do Segredo

A ideia era percorrer a trilha que passa por cima de uma cachoeira para entender um “segredo” que espanta muita gente: um pedregulho que se equilibra sobre uma base de alguns centímetros.

O trajeto é tranquilo, um pouco mais difícil do que a Trilha do Mirante Principal, porque é preciso passar por mata fechada em áreas íngremes.

Saímos da mata e visualizamos um lajeado banhado pelo Arroio do Segredo que, alguns metros adiante, transforma-se na Cachoeira do Tigre Preto. Respire o ar puro e, com cuidado, passe por cima das pedras escorregadias banhadas pela água, focando em cada passo. Agache-se para tocar a água gelada e vislumbre, de cima, a queda d’água de cerca de 200 metros.

À frente, uma garganta profunda que dá medo. Este trecho é também chamado de Trilha da Cachoeira do Tigre Preto. Cruze o Arroio do Segredo por cima da cachoeira e siga na trilha, por vezes inclinada e salpicada de pedras. À direita, um pequeno mirante permite a vista da cachoeira por onde você molhou os tênis. Abra os braços, abrace a vista. Se estiver em um dia de sol, olhe para baixo, em direção à queda d’água. Talvez tenha a sorte de ver um arco-íris.

Trilha Pedra do Segredo

Volte à trilha e suba mais um pouco, sempre margeando a borda do cânion. Siga adiante até uma espécie de clareira que termina na beira do desfiladeiro. Não há qualquer placa sinalizando, então a dica é chegar à borda e olhar à esquerda: enfim, a misteriosa pedra de cinco metros de altura e 30 toneladas sustentada por outra, bem menor, de 50 centímetros.

O segredo está aí: na verdade, as duas pedras são apenas uma única rocha talhada pelo vento e pela chuva ao longo de milhares de anos. De posse desta verdade, sente-se um pouco em uma pedra de basalto, encare lá embaixo o Tigre Preto e deixe o barulho do vento lambendo os galhos e folhas de árvores tomar conta de você. Apesar de desvendado o segredo da pedra, a natureza segue cheia de mistérios.

  • Distância: 13 km
  • Duração:5h-6h
  • Dificuldade: Moderada a difícil

Este é o passeio mais completo para conferir as belezas do Fortaleza: aqui se percorre toda a borda sul do cânion. O início é no mirante principal, ponto de partida para a Cachoeira do Tigre Preto, a Pedra do Segredo e, por fim, a subida até o pico do Quebra-Cangalha, o ponto mais alto do cânion, com 1.150 metros de altura. O trajeto é quase todo feito nos campos de altitude, a paisagem típica dos Campos de Cima da Serra, o que permite visualizar o cânion por vários ângulos. Mas é difícil pela duração da caminhada.

É indispensável ter guia por aqui. Se a neblina surgir, o viajante pode ficar perdido – há vários casos de casais que se perderam e precisaram ser socorridos.

  • Distância: 15 km
  • Duração:7h-8h
  • Dificuldade:difícil

Esta trilha é feita a partir de Jacinto Machado (SC), dentro do cânion, percorrendo suas fendas lá embaixo e caminhando por dentro do rio, em cima de pedras grandes e escorregadias. Como o percurso envolve entrar de fato na água várias vezes, deixe para fazer o passeio em uma época de temperaturas mais elevadas. Vale investir no repelente e em uma bota específica para trekking (tênis podem se desfazer no meio do caminho). Não é indicado para pessoas com menos de 12 anos e/ou sedentárias.

O que levar