Em um mercado cada vez mais acirrado, destacam-se os profissionais que estão alinhados com o que há de mais avançado em suas áreas. Os cursos de pós-graduação dão acesso a essas inovações e, mais do que isso, servem como ferramenta de networking, reunindo pessoas de diferentes setores e experiências pessoais.
O cenário pós-pandemia promete dificultar ainda mais a busca por colocação (ou recolocação). Com mais profissionais à disposição, as empresas precisam de critérios para acelerar processos seletivos, sem perder tempo.
— Existe uma oferta muito grande de mão de obra, e a forma mais fácil de filtrar é pela titulação. As pessoas interpretam como alguém dedicado à carreira, que corre atrás de aprendizagem — explica o CEO da LEO Learning Brasil, Richard Vasconcelos.
Ainda que o certificado não garanta a qualidade do profissional, é a maneira mais prática de agilizar seleções que chegam a contar com centenas de candidatos para uma vaga.
— Não ter (pós-graduação) não é um problema, mas muitas vezes a pessoa não passa no filtro para conseguir uma entrevista e ter uma oportunidade — alerta Vasconcelos.
As opções são variadas: de quem busca aperfeiçoamento no que sempre fez àqueles que pretendem dar uma guinada na atuação, passando pela possibilidade de carreira acadêmica. Confira, a seguir, as tendências e diferenciais dos cursos de pós-graduação para os próximos anos.
Lidiani apostou em gestão de equipe
Muitos profissionais buscam cursos que complementem a graduação, agregando temas que não foram abordados ou aprofundados na faculdade. Outros procuram especializações em áreas que pouco ou nada têm a ver com a formação original, a fim de obter conhecimento útil aos rumos que a carreira vai tomando.
A engenheira de energias Lidiani Lenz passou por ambas as experiências. Primeiro cursou pós-graduação em Engenharia de Segurança do Trabalho, uma necessidade relativamente comum no dia a dia de um engenheiro. Mas sua atuação se tornava cada vez mais administrativa, então resolveu seguir a dica de seus gestores e se matriculou em um curso de gestão de equipe e liderança.
— Superou minha expectativa. Aplico muitas ferramentas na minha vida profissional e, também, pessoal. Convivi com profissionais de outras áreas e houve muita troca de conhecimento — avalia Lidiani, que fez o curso na PUCRS.
Procura deve crescer entre profissionais da educação
A correria para manter as aulas durante a pandemia fez com que professores e gestores de instituições de ensino aprendessem em poucos dias o que talvez levasse anos. A adaptação às novas formas de transmitir conhecimento deve levar muitos deles a cursos de especialização de agora em diante.
— Muitos professores não tinham experiência na incorporação de tecnologia no processo de aprendizagem e, por isso, tiveram muita dificuldade em ensinar de forma remota — observa a diretora-presidente do Centro de Inovação para Educação Brasileira (CIEB), Lucia Dellagnelo.
Segundo ela, há pelo menos três categorias de competências a serem desenvolvidas pelos professores: prática pedagógica, cidadania digital e desenvolvimento profissional. Essa formação precisa ser iniciada ainda na graduação e atualizada de forma sistemática posteriormente.
Aplicabilidade
Os cursos de pós voltados ao mercado se preocupam cada vez mais com a curadoria dos conteúdos, de forma que sejam aplicáveis no dia a dia dos alunos, em seus trabalhos. Para isso, lançam mão de aulas especiais com profissionais experientes, realizam atividades que reproduzem ambientes de produção e ajudam no desenvolvimento de projetos reais. É comum que os alunos optem por trabalhos de conclusão que se convertam em benefício palpável para a empresa onde trabalham, sejam donos ou não.
— O aluno quer conhecer tudo, mas, ao mesmo tempo, quer saber como vai aplicar, quem já aplicou, qual foi o resultado, o que deu certo, o que deu errado. Isso diferencia bastante a maioria dos cursos de graduação para a pós — conta o coordenador do eixo de cursos de pós-graduação em gestão da ESPM Porto Alegre, Jorge Dietrich.
Tecnologia
O uso de equipamentos e mídias digitais cresce nos próximos anos. Com a pandemia, as pessoas entenderam as vantagens de fazer transmissões online ou via streaming de reuniões, palestras, shows e aulas. Em um público de pessoas bastante ativas no mercado, esse tipo de distribuição de conteúdo deve ter ainda mais força daqui para a frente.
Tecnologias como inteligência artificial, realidade virtual e big data aparecem de forma consistente nos próximos anos. Elas são tendência de forma pedagógica, ou seja, como ferramenta de aprendizado, mas também como conteúdo, já que fazem parte do cotidiano das empresas e precisam ser dominadas pelos profissionais mais atualizados do mercado
Adaptabilidade
Para se encaixar em rotinas cada vez mais apressadas, muitos cursos de pós-graduação devem explorar os sábados. Além disso, grades curriculares em forma de bufê, em que o aluno monta seus horários, também ganham força. Há casos de MBA em que, para as disciplinas eletivas, o aluno recebe uma lista de opções, cada uma com as datas e horários previstos (com os sábados, inclusive).
Perfil dos alunos
É cada vez mais comum, nos últimos cinco anos, ver estudantes recém-saídos da graduação ingressando nas salas de aula dos cursos de especialização. Este fenômeno tende a se acentuar. Atentas a isso, algumas instituições inclusive começam a definir programas específicos para o público iniciante. Em razão do poder aquisitivo, que via de regra ainda é menor, até mesmo o valor e as formas de pagamento podem ser ajustados.
Apesar da tendência de um certo rejuvenescimento, a maioria dos alunos continuará sendo de profissionais mais experientes em busca de aprimoramento ou mudança de trajetória. Por se tratar de um público bastante atarefado, os cursos devem oferecer cada vez mais opções de horários e acesso remoto.
Aulas online
Engana-se quem pensa que o uso de tecnologia tende a flexibilizar completamente os horários dos alunos.
— O presencial vai voltar porque quem busca essa modalidade quer ter interação, mas não quer dizer que não possa ter momentos de online — defende Jorge Dietrich, do campus de Porto Alegre da ESPM.
Ele conta que aproveita essa possibilidade para contar com palestrantes de outras regiões do Brasil e até mesmo de outros países, com custo bastante reduzido.
Além disso, há a questão da agenda. As aulas online se diferenciam do ensino a distância porque dependem da presença simultânea de todos no mesmo ambiente virtual. Isso faz com que os alunos cumpram a mesma agenda de um curso presencial, sem risco de deixar para depois e perder tarefas pelo caminho.
A pós-graduação do Brasil em números
- 1,2 milhão de alunos (número aproximado)
- 74% de aumento no número de alunos entre 2016 e 2019
- 80% de incremento na rede privada, nesse período, e 41% na rede pública
- 125% de crescimento no número de alunos em cursos EAD, apenas entre 2016 e 2018
- 45% dos alunos, aproximadamente, tinham entre 25 e 34 anos em 2019
- 31% dos cursos são nas áreas de ciências sociais, negócios e direito
- 35% são na área da educação
- 24% são relacionados ao setor de saúde
Fonte: Instituto Semesp (Sindicato das Entidades Mantenedoras de Ensino Superior)