O presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Anderson Ribeiro Correia, está à procura de um emprego fora do Ministério da Educação (MEC). Correia se inscreveu no processo seletivo para reitor do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), cargo que ocupava antes de assumir a Capes.
O movimento ocorre em meio a uma campanha do governo para fundir o órgão com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a cortes de recursos para bolsas de pós-graduação.
Capes (hoje ligada ao MEC) e CNPq (sob o comando do Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações) são os dois órgãos que financiam a pesquisa e a ciência no Brasil com dinheiro público.
Correia, o presidente da Capes, é um dos 13 candidatos que se inscreveram no processo seletivo e um dos seis convocados para a segunda fase. Ligado às Forças Armadas, o ITA seleciona o reitor a partir de um concurso aberto. O prazo para envio da documentação para a candidatura se encerrou dia 7 de outubro.
Em 5 de novembro, Correia é esperado às 8h no auditório B do ITA, em São José dos Campos (SP), para fazer sua apresentação. A entrevista está marcada para o mesmo dia, às 14h, em local a definir.
A banca de seleção deve encaminhar uma lista tríplice ao Comando da Aeronáutica, responsável pela decisão final. O edital não estipula a data em que o novo reitor assumirá o cargo, mas a expectativa é que seja em janeiro, para um mandato de quatro anos.
Ex-reitor do ITA, Correia chegou ao MEC no início do ano, ainda na gestão do então ministro Ricardo Vélez Rodriguez. Seu nome ganhou força para substituir o de Vélez, com simpatia da ala militar do governo, mas ele acabou preterido por Abraham Weintraub.
Superado um distanciamento inicial, os dois se aproximaram. Na Capes, porém, a imagem de Correia foi abalada pelos cortes de bolsas, o que culminou em protestos de servidores contra sua gestão e a suposta passividade diante do esforço do ministério em capitanear a fusão com o CNPq.
Por causa de bloqueio de recursos do MEC, a Capes cortou até agora 7.590 bolsas de pesquisa, ou 8% do que havia no início deste ano. Mesmo após a liberação parcial de recursos, o órgão tem R$ 549 milhões da verba prevista para 2019 congelados.
A Capes também perderá metade do orçamento no ano que vem, segundo proposta encaminhada ao Congresso pelo governo. Sairá dos R$ 4,25 bilhões autorizados para 2019 para R$ 2,20 bilhões em 2020. O MEC diz ter garantido mais R$ 600 milhões para 2020 e a Capes tenta convencer deputados a construir uma emenda parlamentar que traga mais R$ 300 milhões.
Na semana passada, o MEC enviou ao Ministério da Ciência uma proposta de medida provisória para fundir a Capes e o CNPq. A ideia é transformar as duas agências em uma fundação gerida pela pasta.
A fusão, entretanto, é criticada no meio acadêmico e científico e enfrenta resistência do ministério comandado pelo astronauta Marcos Pontes. Ele se declara contra a ideia, ao mesmo tempo que articula para que o novo órgão fique sob seu comando, caso a ideia vingue.
Por meio da assessoria de imprensa da Capes, Correia disse que não vai se pronunciar sobre o concurso.
Engenheiro civil pela Unicamp, Correia tem mestrado pelo ITA e é doutor em engenharia de transportes pela Universidade de Calgary, no Canadá.
Entre os seis finalistas ao cargo de reitor estão, ainda, o ex-secretário de Educação Básica do MEC Luiz Antonio Tozi e o ex-secretário de Educação de São Paulo Herman Voorwald, ex-reitor da Universidade Estadual Paulista (Unesp).