A lista dos cursos superiores do Rio Grande do Sul com a melhor nota no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) , divulgada em 9 de outubro, surpreendeu muita gente ao trazer, na primeira colocação, uma graduação pouco conhecida de uma instituição que não tem tanta visibilidade. A formação em Tecnologia em Gestão da Produção Industrial, da Faculdade CNEC Gravataí, na Região Metropolitana, que conquistou o conceito 4,98 (equivalente a 5, a distinção máxima), tem somente 13 alunos matriculados e recém formou seus primeiros quatro profissionais, em agosto.
Foram apenas esses quatro que fizeram a prova do Enade em 2017, o que pode ter contribuído para a nota alta, conforme especialistas.
— Quando há um número muito pequeno de inscritos, maior a chance de esses estudantes não terem notas tão diversas. Quanto maior o número de concluintes de um mesmo curso, maior a possibilidade de o conceito final não ser tão alto — relativiza o doutor em Educação Sérgio Franco, coordenador do curso de Pedagogia da UFRGS.
A diretora da Faculdade CNEC Gravataí, Eunice Carolina Ohlweiler de Oliveira, destaca as virtudes do curso:
— Atribuo o bom conceito, principalmente, ao corpo docente, formado por profissionais atualizados e atuantes no mercado de trabalho, e ao comprometimento dos acadêmicos com as atividades de aula e com a prova do Enade.
Com duração de seis semestres, o Tecnologia em Gestão da Produção Industrial prepara o acadêmico para atuação em planejamento, implementação, gestão e controle de sistemas produtivos nas empresas. O curso também oferece quatro certificações parciais. Se o estudante completar os três primeiros módulos, ele obtém o certificado de assistente. Se concluir quatro, de analista. Depois de cinco módulos finalizados, ele pode se tornar supervisor de gestão da produção industrial. Os seis módulos lhe garantem o certificado de tecnólogo em gestão da produção industrial.
Ao longo dos semestres, são ofertadas também sete disciplinas optativas (Ética e Legislação Profissional, Língua Brasileira de Sinais — Libras, Empreendedorismo, Jogos de Empresa, Logística Internacional, Negociação e Gestão das Relações Comerciais e Planejamento Estratégico). E o curso está inserido no chamado Projeto Integrador da CNEC. Cada curso escolhe, por semestre, um problema de sua área profissional para ser estudado. Os alunos pesquisam, fazem entrevistas e, com amparo bibliográfico, apresentam soluções por escrito e em apresentação oral a uma banca de professores.
— O aluno é provocado a olhar um problema do cotidiano e buscar soluções, reforçando a identidade com a comunidade e ampliando o próprio conhecimento — explica a coordenadora acadêmica da faculdade, Maria Maira Picawy.
Ambiente familiar
Edson Luis de Lima, 31 anos, destaca que as aulas contemplam teoria e prática com o mesmo peso e lhe ampliaram o olhar para o mercado de trabalho.
— Hoje, consigo ver muito além da função que exerço e visualizar novas possibilidades dentro da empresa — comenta.
Também formanda em Tecnologia em Gestão da Produção Industrial, a auxiliar administrativa Adriana Ritta da Silveira, 31, celebra o ambiente familiar dentro da faculdade, pois a maioria dos estudantes é da própria cidade ou região, facilitando a convivência. Mãe de duas filhas, de sete e nove anos, Adriana recorda as vezes em que precisou levar as meninas para a sala de aula e não teve objeção dos colegas e professores.
— Nos sentimos acolhidos. Isso também nos move a fazermos o nosso melhor no Enade, porque é pela faculdade e por nós mesmos. Afinal, a boa nota na prova também valoriza o currículo — afirma Adriana.
Estudantes com foco
Coordenador dos cursos de Administração e de Tecnologia oferecidos pela CNEC Gravataí, Alexandre de Melo Abicht evidencia características próprias dos acadêmicos da faculdade. Por oferecer apenas cursos noturnos, a faculdade tem mais da metade dos mil alunos com idade acima de 25 anos, atuantes no mercado de trabalho e com filhos. Muitos chegam com uma primeira graduação concluída.
— São estudantes com foco definido, que valorizam a oportunidade e o dinheiro empregado na faculdade e querem fazer o melhor possível nos módulos e na prova do Enade — ressalta.
É o caso do técnico em mecânica Wagner Machado, 26 anos, que trabalha como operador de produção numa indústria automobilística. Wagner queria ampliar o conhecimento sobre o funcionamento de uma empresa e viu no curso de Tecnologia em Gestão de Produção Industrial a chance de crescer profissionalmente.
— Cheguei aqui com a cabeça de quem só pensava na função que exercia. Ganhei conhecimento, troquei experiências e já percebo que o mundo é muito maior. Vou sair com a certeza de que posso ir muito mais além — finaliza Wagner, que se forma neste semestre.
A história da Cnec
* A CNEC surgiu em Recife (PE), em 1943, a partir da ideia do estudante de Direito Felipe Tiago Gomes. Morador da periferia, Felipe queria criar alternativas comunitárias para oferecer aos jovens pobres possibilidade de obter conhecimento. Com a ajuda de outros universitários, Felipe fundou o núcleo inicial da Campanha do Ginasiano Pobre, que depois tornou-se Campanha de Educandários Gratuitos, em seguida, Campanha Nacional de Educandários Gratuitos (CNEG), e desde 1969 é denominada Campanha Nacional de Escolas da Comunidade (CNEC).
* Entre 1943 e 1949, a Campanha fundou ginásios em Pernambuco, Rio de Janeiro, Paraíba, Paraná e Amazonas e teve o curso reconhecido pelo Ministério da Educação.
* A Campanha chegou ao Rio Grande do Sul em 1950, em Santo Ângelo, nas Missões, criando o seu primeiro curso de graduação (Direito).
* O certificado de Entidade de Fins Filantrópicos — título que mantém até a presente data, com a nomenclatura de Certificado de Entidade Beneficente de Assistência Social — foi conquistado em 1964.
* Em 2004, ampliou as vagas no Ensino Superior e passou a fazer parte do Programa Universidade para Todos (Prouni). No ano seguinte, recebeu o Prêmio Darcy Ribeiro de Educação, concedido pela Câmara dos Deputados, em reconhecimento ao trabalho realizado pela defesa e pela promoção da educação no Brasil, resultando na formação de mais de 1 milhão de brasileiros.
* Hoje, a CNEC tem seis unidades presenciais no Estado (Osório, Bento Gonçalves, Nova Petrópolis, Farroupilha e Gravataí), com oito cursos de graduação, e ainda oferece 18 cursos em graduação EAD, distribuídos em 10 unidades (Osório, Gramado, Charqueadas, Estância Velha, Bento Gonçalves, Nova Petrópolis, Farroupilha, Gravataí, Santo Ângelo e Teutônia).