Você já conversou com uma criança? Essa pequena vida sem os vícios e responsabilidades da sociedade é o mais perto da liberdade verdadeira que podemos chegar. É um grande aprendizado para qualquer adulto. Nos faz perceber o quanto criamos complexidades desnecessárias para tentar consertar nossas vidas.
A criança não sabe muito sobre a vida em sociedade. Em sua ingenuidade, toma decisões impulsivas, baseadas no momento presente, alinhadas com a percepção direta daquilo que se apresenta. Ela ainda está livre das castrações herdadas dos seus criadores e aprendidas pelas frustrações. Por isso, para nossa sociedade, esses pequenos têm um lugar secundário, devem ser protegidos e nunca levados a sério.
Adultos, por sua vez, querem ser protagonistas. Querem ter suas ideias e comportamentos valorizados, suas conquistas exaltadas e seu status invejado. Somente os espertos teriam vez nesta batalha de egos. Nesse contexto, espiritualidade acaba significando a Deuzificação do Eu, o apogeu da individualidade como caminho para liberdade. Esquecendo que o ser humano é uma criatura social e não sobrevive sozinho?, ao menos não sem perder a sanidade mental.
Se prestarmos bem atenção às pessoas veremos que na verdade somos todos um bando de crianças crescidas com meia dúzia de truques aprendidos e uma roupinha que a mamãe moda nos vestiu. Algumas são birrentas, outras são os valentões e também tem aquelas que querem fazer bonito para ganhar algo em troca. A diferença é que não temos colo, não temos mamadeiras e ainda temos que comprar nossos próprios brinquedos.
E se a criança pudesse continuar viva dentro de cada um de nós? Viver com o foco no presente, valorizando cada experiência, ressignificando os problemas e não ter vergonha de ser humano. Para viver a tão sonhada vida equilibrada de verdade é preciso valorizar tudo o que enxerga de bom sem ignorar o que há de ruim? Se é que isso existe, prefiro dizer aquilo que convém ou não convém. Mas porque é tão difícil colocar isso em prática?
Há um linha tênue entre a ingenuidade e a positividade. É possível ser internamente positivo em seus pensamentos e atitudes sem ser ingênuo, porém nem sempre podemos controlar a maneira como somos interpretados pelas outras pessoas. Você pode acabar passando por bobo, chato ou inocente, aquele que ninguém dá valor de verdade.
Para ser positivo além da média há de se pagar o preço do julgamento alheio. Colocar na balança e se perguntar se o que vale mais é a sua felicidade ou a sua imagem externa. Quando ficar difícil a decisão, principalmente no começo, lembre-se que os resultados de uma mentalidade e atitude positiva podem te dar a contrapartida de ter uma imagem genuína de sucesso.
Viver uma vida boa pode significar diferentes coisas para cada um de nós. No entanto, ninguém pode viver bem ignorando que tudo está em constante mudança. Até viverá bem por certo tempo ou em certas circunstâncias, mas será acompanhada pelo medo da perda. Isso sim é ingenuidade. Essa pessoa vai ser o amargurado que odeia positividade, porque ele já se deu mal, mas não abre os olhos para se curar da desconfiança.
Portanto, ser um adulto positivo não significa ser inocente. Não adianta sufocar sua criança inocente em uma piscina particular de desilusões e angústias despejadas por outras crianças crescidas frustradas. O melhor a se fazer é curar sua criança e mostrá-la ao mundo para que todos aprendam como é bom ser feliz sem culpa e principalmente, sem ter que estragar o brinquedo dos outros. Na vida somos eternos cafés-com-leite.