A Universidade Federal de Pelotas (UFPel) desligou 24 estudantes de Medicina denunciados por fraude no sistema de cotas raciais. Os alunos, que estavam entre o 1º e o 6º semestres do curso, foram informados da decisão na quinta-feira. Eles tiveram matrículas canceladas, e as vagas poderão ser ocupadas por alunos que desejarem ser transferidos de outras universidades.
A denúncia que colocou em dúvida a veracidade da autodeclaração de raça dos então cotistas foi protocolada pelo Setorial de Negros e Negras da UFPel junto à reitoria da universidade há quatro meses. Desde então, foi criada uma comissão, formada por 12 pessoas, entre professores da UFPel e vinculados ao Movimento Negro, que avaliaram as declarações dos 31 alunos denunciados e as comparou com características fenotípicas de cada um deles – e 24 declarações foram indeferidas.
– O desligamento desses alunos é o fim do processo administrativo que foi aberto dentro da universidade. Em paralelo, corre um inquérito no Ministério Público Federal, que poderá gerar outras punições – afirma Mauro Del Pino, reitor da UFPel.
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Para preencher as 24 vagas e restabelecer a integridade do sistema de cotas, vigente desde 2013, a universidade abrirá um edital específico no início de 2017 para estudantes do 2º ao 7º semestres (para os quais iriam os alunos desligados) de outras instituições que queiram estudar na UFPel.
De acordo com Del Pino, foram também recebidas denúncias de alunos de outros cursos que teriam fraudado o sistema de cotas. Diante disso, a universidade vai instituir um grupo de trabalho para planejar a averiguação da veracidade das autodeclarações de estudantes e de servidores, técnicos e docentes que ingressaram pelas cotas raciais na UFPel do primeiro semestre de 2013 ao primeiro semestre de 2016, no caso dos acadêmicos, e do segundo de 2014 ao primeiro de 2016, para os servidores. Os estudantes que entraram pelas cotas raciais no segundo semestre de 2016 já passaram pela averiguação da veracidade das autodeclarações. O grupo de trabalho terá 90 dias para apresentar o planejamento à reitoria.
O Setorial de Negros e Negras estima que, em cada curso da universidade, haja de quatro a cinco alunos que tenha fraudado o sistema de cotas. Uma nova denúncia protocolada junto à reitoria traz nomes de estudantes do Direito e da História. Para o grupo, o desligamento dos 24 alunos de Medicina representa uma "vitória aos que lutaram pela instauração das cotas nas universidades brasileiras":
– Muitos negros e negras não acessaram o curso de Medicina devido a estes alunos desligados. Para alguns, foi a única oportunidade na vida de conseguirem uma acensão social, que acabou sendo ceifada por pessoas racistas, que são contra as cotas e mesmo assim vão lá e ocupam uma vaga que não lhes é de direito – afirmou o coletivo em entrevista a Zero Hora.
O Setorial de Negros e Negras e a reitoria da Ufpel não informaram a lista dos alunos que foram desligados.