Claudia Chiquitelli
Especial
O Dia Global do Empreendedorismo Feminino é comemorado em 19 de novembro e é uma iniciativa oficializada pela ONU em 2014, para ressaltar a participação das mulheres no desenvolvimento econômico de um País. E aí as brasileiras têm boa representatividade, já que revelam iniciativas de sucesso, embora haja desigualdade de salários entre elas e eles.
No Brasil, embora elas sejam a maioria da população (51,4%), de acordo com o IBGE, e terem maior tempo de estudo (7,8 anos) em relação aos homens (7,4 anos), levantamento da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) aponta que a desigualdade de salários em comparação com os homens ainda excede os 25%. Diferença que, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), só será nula daqui 87 anos.
Leia mais:
De renda extra a negócio fixo: como começar?
Cinco dicas para começar a empreender
Participação feminina em obras da MRV Engenharia cresce 10% no RS
Porém, mesmo diante dessa realidade, transitar por esse universo não assusta muitas mulheres, que saem das suas zonas de conforto e enfrentam o mercado com iniciativas próprias, tornando-se empreendedoras de êxito. Esse é o caso de Andréa Varalta Abrahão, 37 anos, que ainda na faculdade abriu um consultório e contratou uma fonoaudióloga, tornando-se estagiária da própria funcionária.
– Isso aconteceu depois que um programa de doação de próteses auditivas foi aberto em Franca (SP). Eu me credenciei como empresa para prestar o serviço, mas como ainda não tinha me formado, contratei uma profissional que pudesse fazer o atendimento e adaptar os aparelhos. Ao atender a população, percebi que as pessoas que estavam ali tinham esperado muito pela prótese. Era minha oportunidade de negócio – relata.
Anos depois, Andréa criou a Direito de Ouvir, para fornecer aparelhos auditivos e ajudar pessoas com perda de audição a restabelecerem o sentido. Em 2013, lançou o sistema de franquias da marca. Um ano depois, a empresa foi adquirida pela multinacional Amplifon. Andréa tornou-se sócia e diretora técnica da rede. Atualmente a Direito de Ouvir conta com sede própria, cinco franqueados e mais de 80 fonoaudiólogas credenciadas que atendem em 400 localidades no Brasil.
Sonho realizado
Outro exemplo de liderança feminina no mercado de trabalho é o de Graziela Bezerra, 35. Quando concluiu a faculdade de Administração de Empresas, aos 23 anos, ela adquiriu sua primeira franquia, do Instituto Embelleze, em Divinópolis (MG).
– Sempre tive o sonho de ser empresária. Mesmo muito jovem, quando era funcionária nas empresas, ficava imaginando como seria quando eu tivesse o meu próprio negócio. Escolhi ter uma franquia de beleza, porque sempre gostei da área – revela.
Graziela diz ser muito gratificante capacitar pessoas e depois vê-las atuando na profissão que escolheram, muitas vezes com o próprio salão de beleza. De acordo com a empresária, a experiência positiva dos alunos e o boca a boca ajudaram a franquia a ficar conhecida.
– Investimos muito em ações sociais para divulgar nosso trabalho. A população se beneficiava com cortes, manicure e outros cuidados para levantar a autoestima; nós nos tornávamos mais conhecidos, com a divulgação do trabalho, e os alunos ganhavam com o exercício da prática das técnicas aprendidas.
Com o sucesso da primeira escola, Graziela expandiu o negócio para outras cidades e hoje tem 130 funcionários e administra a casa e as demandas da família. Para ela, a mulher tem um poder de superação incomparável.
– Somos capazes de chegar onde quisermos, se acreditarmos – garante.
Empreender e ser mãe? É possível, sim
No universo dos negócios liderado por mulheres conciliar trabalho e maternidade é uma tarefa ainda desafiadora. Mas cada vez mais elas mostram que ter filhos e estar à frente de uma empresa é decisão perfeitamente conciliável desde que exista foco e determinação.
Para a presidente da Canada Intercambio, Rosa Maria Troes, depois do saldo positivo de ter montado com uma amiga um grupo de estudantes adolescentes latinos para estudar inglês no verão, resolveu continuar o negócio, construindo reputação ao longo do tempo dentro da confiabilidade, segurança e seriedade que os pais tinham ao entregar os filhos sob os seus cuidados. Rosa chegou ao Canadá sem emprego e inglês fluente, com o objetivo de aperfeiçoar a língua local e depois buscar novas oportunidades.
Ela cita a comunicação boca a boca como fundamental para o negócio ter sucesso. A agência de educação focada no eixo Brasil-Canadá foi fundada por ela em 2003, em Vancouver, e atualmente possui 11 franquias no Brasil, escritório no México e duas unidades no Canadá, em Vancouver e Toronto. Depois do nascimento do filho, hoje com 9 anos, Rosa Maria Troes conciliou a carreira profissional com a maternidade.
– Se temos um compromisso, não importa nossos problemas pessoais. O importante é saber acomodar as duas tarefas, pois nunca é fácil administrar a maternidade com a profissão – conta a empresária que leva o filho desde bebê para compromissos de trabalho.
Gaúcha de Farroupilha, ela diz que trabalhou home office até o seu filho Nicholas completar 3 anos e 6 meses, pois acredita que a participação da mãe nessa fase inicial é de extrema importância, já que torna a criança mais segura, tranquila, confiante e menos estressada. O lado positivo de ser empreendedor é ter horários mais flexíveis e poder participar ativamente da vida dos filhos. Não é preciso escolher entre ser uma boa mãe ou uma profissional bem sucedida.
– É possível conseguir as duas coisas. A comunicação é muito importante e o afeto também. Enquanto você está com a criança aquele momento é só dela. Eles são seres muito inteligentes e é fundamental eles entenderem o mundo em que vivemos também – afirma a empresária.
Rosa Maria foi escolhida pela segunda vez uma das Top 100 mulheres empreendedoras do Canadá pelo grupo de comunicação Profit, Canadian Business e Chatelaine. Ela conta que a escolha dos parceiros é fundamental para o bom andamento do negócio.
– Quando você escolhe, você tem controle. Eu acredito que as mulheres tenham muita sensibilidade, uma visão periférica avançada, sejam super cuidadosas e vestem a camisa assim como os homens. Além disso, o empreendedor precisa ser previsível e honesto e leal com sua equipe e com seus clientes – enfatiza.
Uma pesquisa recente, da Catalyst, empresa de team building, aponta que uma mulher fundadora aumenta em 50% a possibilidade de sucesso de um negócio.