Após uma reunião de mais de duas horas entre a Secretaria Estadual da Educação (Seduc) e órgãos públicos para discutir a ocupação das escolas, o secretário-adjunto da pasta, Luis Antônio Alcoba de Freitas, afirmou que a rede quer dialogar com os estudantes. No entanto, também disse que não descarta ter de acionar a Justiça para a desocupação.
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Participaram do encontro representantes do Conselho Tutelar, Defensoria Pública, Procuradoria-Geral do Estado (PGE), Conselho Estadual de Educação, Federação de Associações de Pais e Mestres e apenas um aluno, presidente do Grêmio Estudantil da Escola Técnica Estadual Senador Ernesto Dornelles. Conforme Freitas, "houve uma tentativa frustrada de tentar reunir os estudantes", na quarta-feira. A dirigente regional da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), Isabela Luzardo Monteiro, afirmou que a reunião teria sido desmarcada.
O acerto da reunião, conforme Freitas, é tentar dialogar com os alunos, com mediação dos órgãos públicos "que são de Estado e não de governo". Esses órgãos, segundo o secretário-adjunto, estão dispostos a formar uma comissão para mediar o debate. Freitas também afirmou que a pasta está procurando as escolas para iniciar a conversa. O objetivo do governo é listar as reivindicações de cada escola, verificar "o que é possível ser atendido" e montar um cronograma de melhorias para apresentar aos estudantes.
– Vamos para a terceira semana (de ocupação) e, se não conseguirmos diálogo, vamos ter de partir para outras ações. Não está descartada uma medida judicial para reintegração de posse, não podemos esticar muito (as ocupações) sob pena de perder o ano letivo, prejudicar a formação dos alunos – afirmou.
Isabela ressaltou que os estudantes querem a garantia de que ações sejam tomadas pelo governo. Por isso, pretendem ser ouvidos não apenas pela Seduc, mas pelo governador. Isso porque, entre as pautas, está o repúdio ao PL 44/16, de autoria do Executivo, cujo texto diz que "o Poder Executivo poderá qualificar como organizações sociais pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, cujas atividades sejam dirigidas ao ensino", o que "privatizaria a educação", conforme a estudante.
Os alunos também são contra a PL 190, de autoria do deputado estadual Marcel van Hattem (PP), que cria o Programa Escola sem Partido. Segundo o projeto de lei, seriam "vedadas, em sala de aula no âmbito do ensino regular no Rio Grande do Sul, a prática de doutrinação política e ideológica bem como quaisquer outras condutas por parte do corpo docente ou da administração escolar que visem impor aos alunos opiniões político-partidárias".
– Escola sem partido para nós é escola sem ideologia de direitos humanos e cidadania. As ocupações estão sendo uma amostra de cidadania, estamos mostrando que queremos discutir direitos humanos nas escolas – diz Isabela.