Como em 2015, o vestibular da UFRGS de 2016, que começa neste domingo, não deve entrar para a história como o último processo seletivo à graduação promovido pela maior universidade do Estado. Os rumores existem, são tema nos corredores dos cursinhos e se sustentam na consolidação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como avaliação dos estudantes que almejam uma vaga na universidade pública. Mas acabar com o vestibular, assim, de uma hora para a outra, não parece estar nos planos da UFRGS.
Primeiro porque isso requer avaliação e aprovação do Conselho Universitário, o que, de acordo com o vice-reitor Rui Vicente Oppermann, não está na pauta por enquanto. Segundo, este é um ano de eleições na reitoria, não seria conveniente mexer na maior seleção da instituição tanto para quem assume quanto para quem deixa o comando. Terceiro porque, de modo geral, a UFRGS prefere a mudança lenta e gradual à medida abrupta. Isso evita desgastes desnecessários com aquela polvorosa que se instala – geralmente pouco sustentada, em um primeiro momento, em argumentos além dos ideológicos – a cada novidade proposta. Assim foi com as cotas.
Aos poucos, a instituição foi ampliando sua oferta até chegar, neste vestibular, a destinar 50% de suas vagas ao sistema de cotas, conforme previsto em lei. Também já destina 30% das vagas ao Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que considera somente a nota do Enem. A passos firmes, as políticas de inclusão no Ensino Superior vão sendo absorvidas por professores, alunos e servidores e também compreendidas em sua essência pela comunidade acadêmica: a de fomentar a inclusão no Ensino Superior público.
Os bixos de 2016 encontrarão um campus muito mais heterogêneo social, cultural e economicamente do que se via 10, 15 anos atrás. Ainda se ouvem histórias de preconceito contra alunos cotistas? Sim, basta conversar com professores e alunos para descobrir algum episódio desse tipo entre os muros da universidade. Mas quem está há mais tempo circulando pelos campi percebe que definitivamente esses são casos cada vez mais raros. É a ruptura lenta e gradual com aquela educação superior elitizada pela nossa histórica desigualdade de oportunidades. Com a diversidade entre seus alunos, a academia tem a chance de ficar mais próxima da realidade do país que a sustenta.