Como boa anfitriã que uma cidade-irmã deve ser, a pequena Isola Vicentina, na Itália, está se preparando para receber quatro adolescentes de Marau, no norte do Estado. Filhos de famílias humildes e alunos da rede municipal de ensino, os quatro jovens embarcaram neste domingo para um intercâmbio cultural de 11 dias. A curiosidade, levaram na mala. O idioma italiano, na ponta da língua.
A viagem faz parte do programa Gemellaggio, um acordo de cooperação econômica entre as duas cidades. As 10 escolas municipais de Marau foram solicitadas pela prefeitura, que arca com todas as despesas do intercâmbio, a indicar seu melhor aluno. Para definir os finalistas, foram utilizados critérios como comportamento, participação em aula, resultado nas avaliações, frequência e respeito aos colegas. Dos 10 escolhidos, quatro foram sorteados.
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- Me esforcei bastante para conseguir. Sempre tive boas notas, mas não tinha como saber se teria esta sorte. Estou muito ansiosa - afirma Gabrieli Lourdes Giongo, de 14 anos, que nunca cruzou as fronteiras do Rio Grande do Sul: o lugar mais distante que visitou foi Santa Rosa, a 300 quilômetros de Marau.
Com a iniciativa, a secretaria de Educação busca mostrar que programas de cooperação cultural não são apenas para políticos e autoridades. Ao comemorarem o embarque de Gabrieli e dos colegas Dalberto Júnior da Silva, 16 anos, Júlia Pastre Teles e Luiza Bebber, ambas de 14, os demais estudantes das escolas municipais se motivam para poderem concorrer no ano que vem.
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- Os mais bagunceiros já estão estudando mais porque também querem ir para a Itália, pois consideram isso uma espécie de recompensa - aponta o prefeito Josué Longo (PP).
O quarteto vai se hospedar em casas de família, onde deve praticar a língua italiana que vêm ensaiando há três meses, sob a orientação do professor Zenésio Trevisan. Ele vai acompanhá-los durante a toda a missão em Isola Vicentina, cidade com pouco mais de 10 mil habitantes localizada na região do Vêneto, província de Vicenza, a uma hora de carro de Veneza.
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- Meu papel vai ser localizá-los geograficamente, auxiliá-los com o idioma, situá-los em relação à cultura italiana e levá-los a lugares importantes como a Universidade de Pádua, uma das mais antigas do mundo - conta Trevisan.
Enquanto Gabrieli anseia conhecer a biblioteca desta universidade, Luiza está entusiasmada para aproveitar a oportunidade de dividir a casa com outra família. A expectativa de Júlia é pela semana de aulas com outros adolescentes vicentinos, atividade já confirmada na programação.
Intercâmbio voluntário dá destaque ao currículo
Para Dalberto, que estuda de manhã e trabalha em uma lavagem de carros à tarde, o principal do intercâmbio é "o que vai poder trazer de lá para cá" (e a prefeitura já confirmou que, na volta, eles terão de relatar a experiência a todas as escolas da rede municipal):
- Conhecimento, diversão, aprendizado
tudo isso vai voltar no currículo. Ah, e duas viagens de avião.
Qual é a melhor idade para fazer intercâmbio?
O programa Gemellaggio
- É um convênio sociocultural entre cidades-irmãs do Brasil e da Itália.
- Já ocorre em diversas cidades gaúchas como Jacutinga (irmã de Pederobba, no Vêneto), Farroupilha (irmã de Latina, na região do Lácio), Monte Belo do Sul (irmã de Schiavon, no Vêneto) e Encantado (irmã de Valdastico, também no Vêneto)
- Em Marau, o acordo com Isola Vicentina foi assinado em 2013
- Já houve atividades como o 1º Curso de Culinária Vicentina, com um cozinheiro da cidade italiana, mas é a primeira vez que estudantes são selecionados para participar
- O programa está previsto para ter continuidade ano que vem e ampliar o número de vagas para 10: um aluno por escola municipal