Ter uma tela grudada no corpo em contato com o mundo abre possibilidades ainda não imaginadas. As principais, segundo constatou-se no evento mais consagrado do planeta na área de tendências, o South by South West (SXSW), são na área de saúde. Cristiano André da Costa diz que o atual prontuário dos pacientes é muito espalhado
e que novas tecnologias vestíveis serão capazes de compilar informações e dar a elas muitas aplicabilidades, podendo controlar parâmetros e compartilhar os resultados.
- Para os hipocondríacos, será uma mão na roda - brinca Cristiano André da Costa, doutor em Ciência da Computação e professor da Unisinos.
Um dos usos promissores é uma espécie de backup da memória, para pacientes com Alzheimer. Junto com a Tunisian Alzheimer Association, a Samsung criou o Backup Memory, um app voltado para auxiliar pacientes com a doença a identificar pessoas. O
software funcionará como um álbum de família que permite contornar a perda de memória. Quando um usuário vai ao encontro da pessoa com a doença, o app envia para o celular uma notificação com informações e fotos sobre o indivíduo para que ela reconheça se é um amigo ou familiar.
Iniciativa semelhante é a da Siemens, que melhorou um dispositivo nascido como wearable. Novos aparelhos de surdez terão uma tecnologia que permite ao usuário
ouvir em ambientes ruidosos, como restaurantes, festas lotadas e em situações de vento. Outra aposta da próxima geração de wearables é combinar as funções de coletar dados pessoais e, em seguida, analisá-los para fornecer informações personalizadas
e sugestões baseadas neste contexto.
Exemplo disso seria detectar partículas do ar para verificar os níveis de poluição e, então, ajudar o usuário a decidir se quer permanecer ali. Trata-se de ter a informação certa na hora certa. Daniel Silva de Souza, professor da Faculdade de Física da PUCRS, explica que funcionaria como se um sensor usado no pulso pudesse capturar o espectro do céu e as características do comportamento do ar.
- Nem todos sabem, mas no entardecer de Porto Alegre, quando o céu está bem laranja, é quando está mais poluído - exemplifica.
Ele relembra um caso no Japão, em Fukushima, quando um equipamento com medidores de radiação portáteis foi usado para verificar em tempo real a quantidade de radiação no ambiente. A implantação de nanorrobôs dentro do corpo de um paciente, para obter dados sobre a saúde de forma menos invasiva, é outra forma de colocar
os wearables a favor da ciência. Um mecanismo externo controla o biochip, capaz de obter dados e servir como "informante dos médicos".
É parecido com o que já fazem atualmente as cápsulas gastrointestinais.
- Seria uma forma de escanear o corpo de modo não invasivo para melhorar qualidade de vida dos pacientes - afirma Souza.
É questão de tempo para que todos esses dados estejam sendo gerados e ajudem a ciência a evoluir suas pesquisas na área da saúde.
Saiba como os wearables podem interagir com o nosso corpo:
Wearables são bons para a saúde ou nem tanto?
Dispositivos acoplados ao corpo podem ser úteis, mas quais os efeitos da energia eletromagnética que eles geram nas nossas células? Se você desconfia deste ponto,
saiba que a dúvida tem embasamento. Engenheiro elétrico e professor da UFRGS,
Álvaro de Salles afirma que é arriscado usar tecnologias vestíveis junto ao corpo
porque, segundo ele, não houve tempo hábil para que possíveis efeitos fossem
suficientemente testados.
A recomendação emitida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2011, de que celulares, tablets e roteadores wifi são possivelmente cancerígenos, é motivo para sugerir um uso moderado dessas tecnologias.
- A proximidade é indesejável, pois quanto mais próximo maior a absorção de energia pelos tecidos do corpo. Outro problema é que as pessoas irão se expor por um longo tempo a essas frequências - diz Salles.
Para quem não pode ficar sem o celular, Salles sugere o uso do viva voz, mensagem de texto ou fone de ouvido quando possível. Daniel Silva de Souza, físico da PUCRS, acredita que os estudos existentes até hoje são insuficientes para afirmar qual o efeito da radiação eletromagnética nas células cerebrais. A principal consequência do uso dos wearables como o Google Glass seria a adaptação do cérebro de forma sensorial e a variação de temperatura na região próxima ao ouvido, que faria as células absorverem glicose ou outros componentes de forma mais rápida.
- À medida que o olho recebe a mensagem mais próxima da retina, ele não consegue diferenciar a distância entre outros objetos e a pessoa. Ao longo do tempo, isso poderá ser uma dificuldade - afirma Souza.
Cristiano André da Costa, Doutor em Ciência da Computação pela Unisinos, faz um meio de campo entre as opiniões divergentes dos dois:
- A gente vai descobrir os efeitos mais a longo prazo. Mas o benefício é muito maior do que um eventual problema por poluição eletromagnética. Os wearables usam sensores que têm baixíssima energia e baixa frequência, que geram interferências muito pequenas.