A demanda por engenheiros atuando em suas respectivas áreas deve triplicar até 2020, segundo projeção do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Se o cenário da economia nacional atingir um crescimento os 4% ao ano ambicionados pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, o número de profissionais requerido pelo mercado de trabalho formal deve atingir entre 600 mil e 1,15 milhão de profissionais.
Hoje, cerca de 300 mil, de um total de 937 mil no Brasil, trabalham na área - apenas um terço, conforme o levantamento. No Rio Grande do Sul, segundo o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-RS), há 46,5 mil profissionais registrados, mas não há dados de quantos atuam na área de formação.
Para o presidente do Sindicato dos Engenheiros no Estado, José Luiz Azambuja, a falta de investimentos em infraestrutura e a recessão das últimas décadas do século passado acarretaram na diminuição da oferta de trabalho formal para uma parcela significativa de profissionais da área:
- Parte optou pelo trabalho autônomo, muitos foram para outros ramos. A retomada do desenvolvimento foi muito mais rápida do que a capacidade do mercado e das próprias universidades em acompanhar o crescimento da demanda por profissionais em algumas áreas bastante específicas.
O texto traz ainda a evolução do salário médio dos engenheiros em relação aos dos demais profissionais com educação de Nível Superior. Entre 2000 e 2009, os setores que mais apresentaram elevação de remuneração foram os de cimento, álcool, artefatos de couro e calçados, serviços imobiliários e aluguel e construção.
No que diz respeito à evolução da formação de engenheiros e profissionais técnico-científicos no Brasil, os pesquisadores do Ipea Divonzir Gusso e Paulo Meyer Nascimento revelam que as áreas de Engenharia, Produção e Construção e de Ciências, Matemática e Computação apresentaram expansão tanto no volume total de matrículas como no de conclusões de curso, além de passar por grande diversificação de habilitações e por um considerável aumento da participação do setor privado.
Conhecimento aplicado para cultivar uma paixão
Há um ano, o engenheiro eletricista Paulo Kaltchuk, 49 anos, decidiu largar décadas de trabalho na área de engenharia para se dedicar a um negócio próprio. Entre as duas paixões - a aviação e a culinária -, achou que a segunda implicaria menos investimento inicial para empreender. Foi assim que montou a Pains du Monde: uma webstore que oferece pães diferenciados inspirados nas mais variadas regiões e culturas mundiais.
- A engenharia é bastante eclética e te dá uma visão sistêmica muito boa. Por isso, na minha nova empreitada, uso muito do meu conhecimento técnico: desde o desenvolvimento das receitas até a busca de tecnologias e mecanismos para otimizar a produção - conta Kaltchuk.
ENTREVISTA
José Luiz Azambuja Presidente do Sindicato dos Engenheiros no RS
Zero Hora - O cenário atual do mercado de trabalho para engenheiros no Estado é favorável?
José Luiz Azambuja - É bastante promissor em função de investimentos como no polo naval de Rio Grande, na celulose em Guaíba, na indústria metalmecânica, e claro, na construção civil. Por outro lado, percebe-se uma crescente desvalorização das carreiras públicas, manifestada, de um lado, pelo abuso das nomeações de natureza partidária em cargos de atribuição exclusiva de servidores concursados, de outro, nas más condições de trabalho, na falta de perspectivas de carreira e nos vencimentos pouco atraentes.
ZH- Há previsão de um apagão de mão de obra?
Azambuja - No caso da engenharia, acho uma demasia se falar em apagão. Se o ritmo de crescimento do país se mantiver nas atuais taxas, tudo indica que não teremos esse risco. Cresceu o interesse pelos cursos de engenharia nos últimos anos e, embora no Brasil o número de engenheiros por habitante seja inferior ao de outros países, ele é suficiente para dar sustentação às atuais demandas salvo em uma ou outra situação específica e pontual. É claro que o mercado pode impulsionar ou não o desejo de profissionais exercerem a atividade ou se dedicar à outras.