Muita coisa a respeito dos pequenos hominídeos extintos apelidados "hobbits" permanece em aberto dez anos depois que os fósseis foram descobertos na ilha indonésia de Flores. Um novo estudo, entretanto, trouxe uma contribuição forte à hipótese original, segundo a qual o "hobbit" é remanescente de uma espécie até agora desconhecida do gênero Homo que desapareceu aproximadamente 17 mil anos atrás.
Comparações detalhadas mostram que o único crânio entre os restos de esqueletos é "claramente distinto" dos crânios de humanos modernos saudáveis, garante o estudo. Assim, o espécime fóssil pode muito bem merecer a designação de representante de uma espécie extinta, que os cientistas batizaram Homo floresiensis.
Boa parte do debate se concentrou em argumentos de céticos segundo os quais esses hominídeos de cérebro e corpo pequenos (mas pés desproporcionalmente grandes, conforme a raça humanoide imaginada na ficção de J. R. R. Tolkien, escritor de O Senhor dos Anéis e O Hobbit) não passavam de um Homo sapiens moderno com uma entre várias desordens de crescimento, possivelmente microcefalia, síndrome de Laron ou hipotireoidismo endêmico, conhecido como cretinismo.
Em estudo da publicação PLoS One, os pesquisadores afirmaram que seus achados "rebatem as hipóteses de condições patológicas".
A principal autora, Karen L. Baab, antropóloga da Universidade Stony Brook, Long Island, disse que o estudo gerou as medidas mais precisas e abrangentes até agora do formato externo - cada crista e sulco, cada caroço e saliência - do crânio do Homo floresiensis.
As mensurações foram comparadas com crânios de hominídeos fósseis extintos, incluindo o Homo erectus, neandertais e outras espécies arcaicas de Homo, com crânios de humanos modernos normais, além de humanos com cada uma dessas condições patológicas.
Os pesquisadores, incluindo Kieran P. McNulty, da Universidade de Minnesota, e Katerina Harvati, da Universidade de Tübingen, Alemanha, concluíram que o crânio do H. floresiensis era mais parecido com os vários hominídeos fósseis do que com os humanos modernos normais ou com aqueles com as patologias. Durante entrevista, Baab contou que eles "tentaram testar praticamente todas as hipóteses" e oferecer "uma visão muito mais completa" do formato do crânio do "hobbit", comparado aos estudos anteriores.
De acordo com ela, os achados completaram a pesquisa anterior conduzida por Dean Falk, antropólogo da Universidade Estadual da Flórida, especializado em evolução cerebral. Eles utilizaram tomografias computadorizadas para criar moldes internos mostrando o formato do cérebro a partir da impressão deixada por ele na superfície interna do crânio. Os estudiosos chegaram à conclusão que o "hobbit" era uma espécie nova relacionada estreitamente com o H. erectus, e não um humano com microcefalia.
Os fósseis do H. floresiensis foram encontrados em 2003, enterrados em sedimentos da entrada de uma grande caverna conhecida como Liang Bua. Desse nome veio o rótulo LB1 para o único crânio, que não é maior do que uma toranja. O tamanho sugere que o cérebro tinha menos de um terço do de um humano. A partir de outros pedaços do esqueleto de oito indivíduos, os hobbits mediam cerca de 90 centímetros, caminhavam eretos e, em termos anatômicos, eram mais primitivos do que o H. sapiens.