A Amazônia abriga mais espécies de aves do que qualquer outro bioma. São mais de 1.300, e a floresta também ostenta a maior quantidade de espécies por unidade de área. Então não seria assim tão surpreendente que descobrissem 15 novas espécies de aves por lá, certo? Nem tanto: desde 1871 não havia tantas descrições originais apresentadas assim, numa só tacada.
Diversos graduandos e pós-graduandos brasileiros estão entre os mais de 30 autores que assinam as descrições. As nacionalidades dos ornitologistas incluem a Colômbia, a Argentina e o Reino Unido, sendo que a maior parte das espécies foi identificada pelo americano Bret Whitney (Museu de Ciências Naturais da Universidade de Louisiana) e pelo brasileiro Mario Cohn-Haft (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) por meio da detecção de sutilezas no canto dos pássaros.
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Preocupados com o futuro da fauna amazônica, Whitney e Cohn-Haft alertam que as paisagens e os cursos fluviais da região têm sofrido "o seu período mais sério de alteração desde que a orogenia andina começou a defini-los 25 milhões de anos atrás. Autoestradas internacionais e enormes barragens para hidrelétricas (mais de 20 somente no Brasil) têm obviamente causado mudanças catastróficas e acionado 'efeitos dominós' invisíveis realmente além da nossa imaginação".
Os pesquisadores veem com ironia o fato de que, por um lado, a destruição de grandes porções da Amazônia contribui para a extinção de organismos, e, por outro, isola certos habitats, levando ao fechamento de "pools" genéticos e a um surto artificial na dinâmica da especiação.
- Mostramos a "ponta do iceberg" da documentação emergente sobre a biodiversidade amazônica. O que achamos animador sobre o iceberg, entretanto, não é apenas nossa habilidade aprimorada de reconhecer níveis sutis de divergência [entre as espécies], mas também o início da construção de mapas de introgressão genética [fluxo de genes de uma espécie para outra] que vão revelar de modo sem precedentes as dinâmicas da especiação - afirmam os ornitologistas.
Doze das 15 novas espécies foram descritas conforme a tradição de honrar certas personalidades, de Chico Mendes (conservacionista brasileiro assassinato em 1988) a Barack Obama, atual presidente dos Estados Unidos, homenageado em função de seu fomento ao uso da energia solar.
O feito, publicado neste mês em edição especial do Handbook of the Birds of the World (Manual das Aves do Mundo), chama atenção para o fato de que a era das descobertas de novas espécies está longe do fim. Segundo comunicado dos pesquisadores, as descobertas devem "avançar ainda mais com o progresso tecnológico, que já permite o mapeamento de características da paisagem via satélite, gravadores digitais e microfones ultrassensíveis; análise genética para revelar a diversificação histórica das linhagens; e computadores potentes para processar todos os dados".