A questão da sustentabilidade nas empresas começa no setor de recursos humanos. Atitudes ecológicas nas organizações pressupõem profissionais diferenciados, capazes de acrescentar a suas funções a preocupação com o ambiente.
Essas transformações nas carreiras e as novas atividades que devem ser criadas para suprir essa necessidade estarão entre os assuntos a serem tratados no CongregaRH. O evento promovido pela Associação Brasileira de Recursos Humanos no Estado (ABRH-RS), que será realizado de 22 a 24 de maio, em Porto Alegre.
Empregos verdes estão ligados às novas tecnologias e aos processos, avalia Nelson Savioli, superintendente executivo da Fundação Roberto Marinho e presidente do Conselho Deliberativo da ABRH-RJ. Para isso, afirma, os setores de RH das organizações precisam se antecipar:
- Se as empresas não se anteciparem, poderão sofrer o mesmo que ocorreu quando a computação e a web começaram a despontar. Não houve essa preocupação, e faltou pessoal qualificado para assumir os cargos voltados para a informática, que depois se tornaram essenciais - destaca Savioli.
Além disso, uma economia verde criará novos empregos. De acordo com Sheila Villas Boas Pimentel, presidente do Instituto Humanitare - entidade que aproxima a sociedade civil os temas propostos pela Organização das Nações Unidas (ONU) -, a inclusão de uma postura sustentável pelas empresas afetará principalmente os setores de agricultura, edificações, energia, silvicultura e transporte. Antecipando essas demandas, os profissionais já começam a se preparar.
- Hoje se fala muito no desenvolvimento sustentável, e os profissionais reagem de diversas formas, buscando autoconhecimento, cursos mais estruturados e trazem para dentro das empresas programas concretos. O tema é relativamente novo. Então, as empresas estão aprendendo com seu pessoal - diz Sheila.
Na busca por incorporar os preceitos da sustentabilidade, tanto nos produtos quanto nos processos, a nutricionista Mara Cristina de Souza Miranda contou com a ajuda de diversos profissionais com perfil verde para montar o Empório da Papinha:
- A empresa surgiu com a proposta de utilizar alimentos orgânicos. Assim, procuramos pessoas que compartilhem nossas crenças, desde engenheiros especializados em ambiente até fornecedores preocupados com a preservação da natureza.
CONGREGARH
- Tema: Re-evolução da Gestão: Inovar sem perder a essência
- Quando: de 22 a 24 de maio
- Onde: Centro de Eventos da PUCRS (Avenida Ipiranga, 6.881), na Capital
- Eventos paralelos: Fórum de Gestão Pública (dia 22 de maio) e ExpocongregaRH (feira de negócios voltada para empresas prestadoras de serviços na área de gestão de pessoas)
- Inscrições: telefone (51) 3254-8239 ou pelo e-mail congregarh@abrhrs.org.br.
- Programação: no site
Arquitetura em transformação
Formada desde 1985, a arquiteta Marta Peixoto é testemunha das mudanças pelas quais a sua atividade tem passado a fim de contemplar uma exigência de mercado: a busca de processos e produtos pró-ambiente. Professora na UFRGS e na UniRitter (onde também é coordenadora do curso de Arquitetura), a profissional percebeu alterações nos currículos para contemplar a questão da sustentabilidade.
Entre seus clientes está Brenno de Ales (foto), dono de uma franquia do Empório da Papinha, que precisava de um profissional capaz de criar um projeto que seguisse os preceitos pró-ambiente para a sua loja.
- No projeto que fiz para o Empório, por exemplo, a orientação era a de obedecer o projeto da franquia, o conceito da alimentação orgânica somada à preservação da natureza. Para isso, utilizei madeira de reflorestamento e materiais reciclados - conta a arquiteta.
As novas carreiras
- Engenharia de materiais sustentáveis
- Profissões ligadas a sistemas de monitoramento e implementação de desenvolvimento sustentável
- Gestores públicos qualificados para desafios de transformação social
- Novo perfil de pedagogos especializados no uso de novas tecnologias
- Profissionalização de novas competências do terceiro setor
- Renovação de profissões como geologia, oceanografia, geoprocessamento, geopolítica
- Atividades como nanotecnologias de informação, reconfiguração na gestão e fomento das mídias e das redes sociais
- E-governance (governança eletrônica) das cidades sustentáveis e inteligentes
- Engenheiros com talentos criativos e alternativos no uso de recursos sustentáveis
- Novos papéis para a diplomacia multilateral
Fonte: Instituto Humanitare
ENTREVISTA: Roberto DaMatta, antropólogo
Entre os conferencistas que estarão presentes no congresso, Roberto DaMatta abordará o tema Sociedade e Organizações Criando Valores Sustentáveis. Sobre o assunto, o antropólogo respondeu a algumas perguntas feitas pelo caderno Pense Empregos.
Zero Hora - As empresas que não adotarem uma postura verde perderão lugar no mercado?
Roberto DaMatta - A longo prazo, sim. E a curto prazo depende de como o Estado e os poderes públicos vão navegar nessa nova onda de uma maior consciência para a sustentabilidade e para os deveres que todos os empresários e industriais devem ter para com o meio onde vivem e atuam.
ZH - Que tipo de qualificação é necessária para continuar competitivo no mercado de trabalho?
DaMatta - Ter uma visão especializada do seu negócio e atividades sem esquecer o todo. O ambiente, a ecologia, os efeitos e as consequências do que praticamos, seja individual ou coletivamente. Essa conexão do todo com a parte e vice-versa é um exercício crítico se quisermos ter bons profissionais em todas as áreas.
ZH - Quais serão as principais mudanças nas carreiras?
DaMatta - Mais competição, mais preparo sociológico no sentido de melhor conhecer os mecanismos básicos da operação de uma sociedade num conjunto global.
ZH - Profissões novas, com perfil ecológico, devem ser criadas?
DaMatta - Não sei, mas posso afiançar que ficarão de fora os insensíveis para os problemas sociais e culturais mais básicos como o da inclusão, da diversidade e das identidades.