A trajetória dos 50 jovens selecionados para o Geração Caldeira, iniciativa de capacitação do Campus Caldeira, localizado no 4º Distrito, em Porto Alegre, está chegando ao fim. Na próxima sexta-feira (16), eles recebem o certificado de conclusão do programa que ofereceu qualificação técnica e capacitações para desenvolvimento de habilidades socioemocionais.
Mas além da bagagem de conhecimento adquirida desde agosto, alguns alunos saem do programa já empregados em empresas parceiras. Aqueles que ainda não deram “match” na oportunidade de ingressar no mercado de trabalho seguirão recebendo acompanhamento dos profissionais do Caldeira. Ao longo do programa, os jovens tiveram aulas presenciais – segundas, quartas e sextas-feiras –, além do auxílio financeiro de R$ 1,5 mil.
– Estamos com esse grupo do Geração Caldeira há quase dois meses e foi muito importante ter tempo e o fato deles virem para o Campus. É nesse momento que vamos conhecendo de fato quem são os alunos, em quais áreas eles têm potencialidades e o que ainda precisam desenvolver. É o que estamos fazendo para que eles possam estar preparados para o mercado. Agora, estamos os indicando para as vagas de trabalho nas empresas parceiras de empregabilidade – explica Felipe Amaral, gestor do Nova Geração.
Segundo Amaral, nesta última semana, pelo menos quatro alunos já estavam contratados e cerca de 35 estavam no processo de entrevista para vagas compatíveis com os perfis. Nos próximos quatro meses, os integrantes da turma serão apoiados pelo programa.
– Queremos empregar nesse período mais de 70% dos alunos, nosso sonho seria que 100% fossem empregados. Quem não conseguir vagas neste ano, seguimos apoiando. E para quem conseguir vaga e começar a trabalhar, vamos ter um acompanhamento, porque a ideia não é só colocar ele lá dentro da empresa, mas ajudar a se desenvolver, performar e entregar valor no dia a dia de trabalho – detalha o gestor.
No dia da formatura, os alunos receberão um certificado em um evento comemorativo preparado para mantenedores e familiares. Mas antes do encerramento, os alunos apresentarão na próxima quarta-feira os seus projetos de conclusão.
Segundo a líder educacional do programa, Juliana Vieira, foi um trabalho que focou na autonomia deles a partir de uma aprendizagem em projetos.
– Eles estão fazendo um projeto que a gente chama de TCC, que é Trabalho Construído em Conjunto, aprovado pelo MEC. Os alunos tiveram a oportunidade de, em grupo, escolher um tema que os fascinasse aprender nesse último mês. Abordamos um pouco de conteúdo sobre a importância do Lifelong Learning (em português, aprendizado contínuo), mas trazendo exemplos de aprender a aprender. E questionamos eles sobre o que sentem que ainda precisam aprender dentro do Caldeira.
A partir do questionamento, os alunos escolheram seus temas para o projeto de pesquisa. Juliana explica que a ideia não é avaliar o resultado, mas o processo educativo de como eles vivenciaram a construção coletiva. Um dos grupos, por exemplo, ficou um tempo sem utilizar redes sociais para a produção de um diário de sentimentos e análise do quanto conseguiram focar nas atividades com a privação.
Para Iasmim da Cunha Welter, 17 anos, o projeto é uma oportunidade de trabalhar um tema que agregue valor para o próprio aluno:
– A proposta da educação autônoma é ganhar espaço para nos desenvolvermos dentro das nossas potencialidades. O resultado fica muito bacana, porque é algo que nós desenvolvemos e que é parte de quem somos.
Neste sentido, Marlon Maverick Machado, 22 anos, entendeu, junto com o grupo, em qual tema suas potencialidades poderiam destacar. Ele participou da trilha de programação, oferecida pela Oracle, no primeiro ciclo do programa.
– Estamos organizando, tendo ideias, conversando, fazendo esse projeto. O do meu grupo é sobre um site com uma trilha para programação, com conteúdos gratuitos para a pessoa ter mais facilidade de achar, sem ter que ficar procurando cada área, em páginas diferentes – explica Marlon, que está cursando a graduação de Análise e Desenvolvimento de Sistemas.
“Match” com vagas e relações
Na formatura, a turma também vai receber alguns prêmios diferentes, conforme Juliana explica:
– São três prêmios, em que a votação ocorre entre eles. É o prêmio para quem é o altruísta, aquele que é o amigo da turma. Também tem para o aluno mais inovador e para o TCC que mais se destacou.
Afora a formatura, o momento que alguns dos jovens mais aguardavam era o “match” (em português, compatível) com os parceiros empregadores. Sair do programa contratado é sinônimo de passar pela experiência completa. Dos cinco alunos entrevistados por GZH em setembro, quatro foram selecionados para o Geração Caldeira. Uma das jovens deixou o programa ainda na primeira fase por questões pessoais.
Giovanni Chagas e José Otávio Marques, ambos com 20 anos, tiveram conversas promissoras e aguardam pela chance.
– Me chamaram para uma entrevista que acharam que meu perfil tinha a ver com a vaga. Eu acho que me saí bem, porque soube como dirigir a conversa, assim como aprendemos aqui (no Caldeira). Mas foi minha primeira entrevista online, sei que poderia ter sido melhor. O mais importante mesmo não é entrar aqui só pela vaga, mas conhecer as pessoas que estão fazendo a diferença – diz Giovanni.
Para Otávio, a busca pelo espaço no mercado de trabalho tem foco alinhado com a sua graduação. Ele é estudante de Serviços Sociais.
– Desde que eu entrei aqui deixei claro que queria atuar na parte social, e eu sabia que não seria indicado para vagas mais técnicas. Mas não me desmotivou e, através do Felipe, consegui um contato que deu match para o futuro – explica Otávio.
Ele também destaca a importância da criação da relações por meio do Linkedin:
– O Caldeira nos incentivou a usar o Linkedin. Eu achava que era só para procurar emprego, mas vai além disso.
Como incentivado pelos orientadores do programa, Otávio teve a iniciativa de indicar um empreendedor para palestrar para os alunos, no Caldeira. A ideia surgiu por meio de uma postagem no Linkedin.
– Os alunos têm autonomia para sugerir o que querem vivenciar, quem querem ouvir aqui no Caldeira. E o Otávio trouxe a indicação do Fabricio Goulart, participante do Shark Tank Brasil e empreendedor, e fez essa ponte. Muito legal – detalha Juliana.
Descobertas e desafios
Para o próximo ano, Giovanni pretende entrar na faculdade, mas ainda não decidiu o curso:
– Uma das minhas dificuldades, além da muleta e de ficar sem celular por um tempo, foram as muitas possibilidades apresentadas e não saber o que eu realmente quero fazer. Mas, a princípio, vou estudar para passar no Enem e tentar entrar em uma empresa pelo estágio – disse o jovem.
Agora, os alunos já conseguem fazer um balanço de tudo que aprenderam presencialmente sobre tecnologia e inovação na prática. Mas, além do conteúdo, a jornada foi de autoconhecimento.
– Eu descobri que posso falar mais, que posso me comunicar mais. Sempre tento trabalhar essa parte do meu perfil, porque acho que é muito importante ter uma boa comunicação – explica Marlon.
O aluno conta que uma das palestras que mais chamou a sua atenção foi sobre o metaverso – definido como um mundo virtual imersivo e compartilhado, que replica a realidade por meio de dispositivos digitais:
– Isso realmente me prendeu um pouco porque gostei desse assunto. Já não é uma coisa tão nova, mas agora é que está sendo mais trabalhada e mais conhecida.
Na primeira reportagem, Otávio contou que o contato com termos tecnológicos era uma das novidades. Ao longo do projeto, a linguagem de programação foi se tornando rotineira.
– O Geração Caldeira teve muita equidade, de colocar todos no mesmo patamar. Por exemplo, na programação, falam de Java, de Python, e a gente não sabe o que é isso. Mas em nenhum momento nos sentimos excluídos. Isso foi o mais importante, saber que nem todos estavam no mesmo nível, mas podíamos trilhar o caminho juntos.
Um dos desafios para os jovens foi o deslocamento até o 4º Distrito. Todos os quatro jovens acompanhados pela reportagem utilizam o transporte público para frequentar as aulas. De Estância Velha, Iasmim, fica pelo menos três hora por dia em movimento. Quando sai de casa, pela manhã, ela vai direto para a escola em São Leopoldo, onde cursa o 3° ano do Ensino Médio, e, no início da tarde, embarca no trem para Porto Alegre.
– Com o tempo, a gente acostuma e o cansaço vai diminuindo. Mas o que mais é complicado é conseguir conciliar tudo e dar o máximo em todas as atividades, com dedicação, articulando bem as demandas – comenta.
Os rapazes compartilham do mesmo desafio. Giovanni, por exemplo, está com parte da perna imobilizada após torcer o pé ao correr para pegar o ônibus. Marlon, que mora na Zona Sul, precisou organizar seus horários para não perder a viagem nem os compromissos da graduação:
– A distância da minha casa até aqui é um pouquinho longa. A parte mais complicada é de gerir o tempo que tenho, porque também tenho faculdade, tenho bastante trabalho para entregar, principalmente agora, reta final de dezembro.
Encaminhadas para o mercado de trabalho
O contato com conteúdos de marketing pessoal, preparação para o mercado de trabalho, atitude empreendedora, entre outros, ajudou as alunas Mia Oliveira, 18 anos, e Vitória Hernandes, 17 anos, a conquistarem espaço em empresas. Para Mia, moradora do bairro Aparício Borges, na Capital, os temas abordados no Geração Caldeira contribuíram com a maior segurança nos processos seletivos:
– Me ajudou a ter confiança para ir nas entrevistas de emprego, porque eu não tinha muita referência antes. Meus trabalhos eram informais ou com a família. E também, agora, tenho algo a mais para falar, que sou aluna do Geração Caldeira, iniciativa que nos prepara para entrar no mercado de trabalho com uma qualificação.
Ela, que cursou Marketing Digital, vai trabalhar na área administrativa da De Lage Landen (DLL). Já Vitória está na faculdade de Administração e, a partir de segunda-feira, deve iniciar o estágio na SLC Agrícola.
– Além de ter sido uma grande experiência, eu consegui a chance de emprego e adquiri novos conhecimentos com a Salesforce (empresa que apoiou a trilha de Gestão de Vendas). Também desenvolvi melhor a comunicação e comecei a ter novos horizontes – diz a jovem, moradora de Cachoeirinha.