A redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) neste ano tem como tema a democratização do acesso ao cinema no Brasil. O texto, dissertativo-argumentativo, é parte da prova aplicada neste domingo (3), primeiro dia de exame. Também são cobradas as questões de Linguagens e Ciências Humanas.
Assim que o tema foi revelado, enquanto os estudantes ainda prestavam o exame, uma repercussão majoritariamente crítica à escolha do tema começou a tomar forma. Durante a tarde, o termo "Ancine" chegou ao topo dos trending topics do Brasil no Twitter. Os usuários questionavam o assunto apresentado aos estudantes e o relacionavam com os recentes problemas relacionados ao financiamento de produções audiovisuais brasileiras. O tema da redação geralmente é escolhido no primeiro semestre do ano — depois da reformulação da pasta da Cultura, portanto, mas antes do anúncio de cortes na Ancine.
A pontuação adquirida na redação é muito importante no desempenho final. Para ganhar a sonhada nota mil, a maior pontuação na redação do Enem, os textos devem ter as seguintes características:
- Possuir uma proposta de intervenção para o problema apresentado no tema.
- Ter repertório sociocultural produtivo no desenvolvimento da argumentação do texto.
- Respeitar os direitos humanos.
- Apresentar as características textuais fundamentais, como coesão e coerência.
- Demonstrar domínio da modalidade escrita formal da língua portuguesa.
- Atender ao tipo textual dissertativo-argumentativo.
Confira uma sugestão de redação nota mil feita pelo professor Henrique Araújo, do Me Salva!:
Se é verdade que o Brasil foi constituído por diversos povos — indígenas, africanos e europeus —, possuindo, assim, uma rica diversidade cultural, também é verdade que a produção cultural no país é pujante, e não raro conquistamos prêmios internacionais no teatro e no cinema. Entretanto, infelizmente, parte da população não consegue assistir a essas produções cinematográficas, pois o acesso à sétima arte não é democratizado. Tal fator se deve, principalmente, aos altos custos, aliados à pirataria e às novas plataformas de streaming, que distanciam o público. Nesse sentido, precisa haver mudanças a partir de medidas interventivas a fim de que essa experiência estética seja usufruída universalmente.
Quando surgiu, na França de 1895, pelas mãos dos irmãos Lumière, o cinema assustou seus primeiros espectadores, que fugiram da sala com medo do trem — em movimento na tela — os atingir. Isto comprova o impacto de tal experiência estética, que ganhou o mundo rapidamente, transformando-se no produto cultural mais rentável e num dos principais entretenimentos da classe média brasileira. Todavia, embora muitas produções tenham um altíssimo preço de custo, o valor do ingresso, na maioria das vezes, é muito caro, o que afasta a população menos favorecida. Um dos motivos para que isso aconteça é o fato dos cinemas estarem concentrados nos grandes centros urbanos — de acordo com o IBGE, apenas 11% das cidades brasileiras possuem salas de cinema — e, geralmente, em shoppings centers , o que, natural e infelizmente, já segrega parte da população.
Outrossim, nas últimas décadas, o comércio ilegal — popularmente denominado “pirataria” —aumentou significativamente, tendo como marco o filme “Tropa de Elite”, cuja estreia foi prejudicada por um vazamento antecipado da película na venda paralela. Além disso, os serviços de streaming , como a Netflix, popularizaram-se no Brasil e no mundo, facilitando o acesso a produções de qualidade de forma mais barata e mais cômoda. Logo, as antigas locadoras de vídeos foram paulatinamente fechando suas portas, e as salas de cinema, esvaziando no mesmo ritmo. Percebe-se, então, com o avanço das tecnologias, que as novas gerações perderam o hábito de ir ao cinema, mesmo quando possuem capital para frequentá-lo. Tal dinâmica torna-se um problema na medida em que a fruição estética de tal experiência, conforme Eisenstein, não se limita apenas ao filme, pois abrange também a imagem e o som possíveis apenas nas salas destinadas a este fim.
Portanto, é urgente que o cinema se revitalize, tornando-se mais barato e atingindo novos públicos. Para isso, a Ancine — órgão responsável pela produção cinematográfica do país —, em parceria com as escolas públicas e privadas, deve criar um projeto que leve mensalmente os estudantes ao cinema, com preços mais baratos para produções nacionais. Dessa forma, os jovens valorizarão a produção local e criarão um hábito desde cedo. Espera-se, assim, que, futuramente, o acesso ao cinema seja mais democrático e mais pessoas tenham acesso à sétima arte — e, consequentemente, mais conhecimento da diversidade cultural existente no Brasil.
O maior exame de acesso ao Ensino Superior do país continua no próximo domingo (10), com questões de Ciências da Natureza a e Matemática.