Claudia Chiquitelli
Especial
O coworking, espaço de trabalho com foco na interação dos profissionais, é uma opção importante diante de um cenário recessivo da economia, principalmente para quem quer empreender. A paulista Office&Co., empresa do ramo, fez uma pesquisa que indica que o empresário pode economizar até 60% ao optar por um coworking ao invés de um escritório convencional. E é a economia, o network e a qualidade de vida que definem esses locais espalhados por várias regiões do país e de Porto Alegre.
O Atum Workstyle, no Viva Open Mall, é uma dessas empresas que abriu as portas a menos de um ano com foco no bem-estar de quem ali trabalha. Embora não denomine de coworking, mas um espaço compartilhado, um dos sócios da empresa, Alexandre Balestrin Corrêa, direciona o local, com seu gerenciamento, para o genuíno sentido desses locais – foco nas pessoas.
– Trabalho em uma empresa que eu gosto muito e queria oferecer isso para as pessoas , um lugar bacana para as empresas trabalharem. Nosso objetivo partiu do conceito de ajuda mútua e da qualidade de vida profissional – ressalta o empresário.
No empreendimento até a iluminação foi pensada na qualidade de vida: pela manhã, a luz é mais amarela, para as pessoas se acostumarem com a luminosidade, e vai ficando mais branca no decorrer do dia, como que acompanhando a luz do sol, e no final da tarde vai diminuindo para as pessoas perceberam que a noite está chegando.
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Em 200m2 estão distribuídas nove empresas e 24 profissionais de tecnologia da informação, redes sociais, gestão de patrimônio, coaching, entre outras atividades. O espaço tem cinco salas privativas, com portas envidraçadas que possibilitam ver a circulação das pessoas, 28 estações de trabalho, sala de reuniões e um lounge com vista para o parque Germânia.
– A crise foi boa para esse tipo de negócio, pois as pessoas estão procurando otimizar os seus recursos. Para abrir um negócio aqui a empresa vai gastar R$ 800 mensais (estação individual – as salas privativas, para até quatro pessoas custam R$ 2,5 mil). Já para abrir uma sala, locar um o espaço, mobiliar, vai gastar muito mais. Aqui paga uma conta só, não se preocupa com CEEE, condomínio, mobiliário etc. A empresa começa pequena e o coworking dá possibilidade dela crescer. Oferecemos mobilidade – diz Corrêa.
Mobilidade e liberdade
Percebendo que os negócios tradicionais estavam complicados de trabalhar, o empresário Beto Araujo transformou a maneira de gerenciar a sua empresa, a imobiliária Attive, e abriu no mesmo imóvel, uma casa de 500m2, na Bela Vista, um coworking, na metade de 2015.
– Transformei a Attive em uma conexão imobiliária, na qual os corretores podem trabalhar de onde quiserem, não precisando ficar no local, e abri a casa para compartilhamento com profissionais e empresas, ao perceber que mobilidade e liberdade são palavras-chave nos negócios – declarou Araujo.
O imóvel de dois andares sedia empresas em salas privativas de e-commerce, agência de modelos, imobiliária e um serviço de transporte por aplicativo, além de cinco profissionais liberais que ocupam estações de trabalho e outros empreendedores que seguidamente usam salas com capacidade para até 60 pessoas.
– Não é uma atividade lucrativa e talvez nunca venha a ser uma atividade que vise o lucro. O bacana do coworking é a espírito colaborativo, a diversidade e a interação entre os participantes – explica o empresário que oferece locação de R$ 600 reais mensais para um profissional e R$ 3 mil para uma empresa em uma sala de 15m2.
"Gaúcho não é muito coletivo"
No Menino Deus, o Catalise Coworking oferece posição fixa (mesa e cadeira), internet, café, lockers, salas de reunião, cozinha e secretariado. Atualmente 20 profissionais, principalmente das áreas de design e web, atuam no espaço de 400m2 a um custo mensal de R$ 295 por pessoa em turno integral.
– Os diferenciais do Catalise são o custo, pet friendly (o pet é bem-vindo) e desburocratização para trabalhar – diz Rodrigo Furtado, que abriu o espaço em 2012.
O empresário avalia que o segmento na Capital está saturado, pois o "gaúcho não é muito coletivo por natureza e o sistema tem certa resistência a profissionais preferindo seu próprio espaço, mesmo pagando muito mais caro".
Primeiro coworking
O Centro Histórico abriga o Coletivo202, espaço que abriu com foco no coworking, mas hoje tem uma administração mais direcionada a uma demanda que prioriza investimento em salas individuais e de reunião, para empresas que tenham interesse, independente de estarem sediadas no local. No empreendimento estão empresas de RH, de pesquisas, cursos para a terceira idade e profissionais liberais, como sociólogos, psicólogos e advogados.
– Vamos desativar a cozinha, para receber uma sala individual, pois acreditamos que a demanda está diferente. Estamos passando para um sistema corporativo, dando preferência para pequenas empresas – observa um dos sócios, o sociólogo Aírton Calmo, lembrando que o espaço foi um dos primeiros a surgir em Porto Alegre.
São 10 estações de trabalho, sala de reunião e recepção distribuídas em 72m2, em um ambiente simples. Os profissionais e empresas têm internet, telefone para recados e lockers. O preço para ocupar o local vai de R$ 290 a R$ 490 mensais.
Era só um atelier
Transformar a empresa em um coworking por uma questão de oportunidade foi o que aconteceu com o Jaqueline Konrath Atelier, sediado no Moinhos de Vento e inicialmente direcionado a artesanato para noivas. A empresária Jaqueline Konrath observou em 2014, seis anos depois de inaugurar o empreendimento, que havia chance de investir e oferecer mais estações de trabalho para profissionais liberais e outros artesãos. Daí, surgiu o coworking, que hoje abriga dois ateliers, profissionais de e-commerce e de comércio exterior – e ainda dispõe de duas vagas.
– O objetivo foi dividir os custos e somar experiências e o retorno é incrível, pois as trocas entre a equipe que aqui trabalha rendem bons negócios. Nossas vendas cresceram. Só entre os dois ateliers de artesanato a interação é um sucesso. Chegamos a fazer vendas casadas. O coworking aqui é feito diariamente e os resultados são surpreendentes – comemora a publicitária e artista plástica.
O local de 70m2 oferece internet, telefone, sala para reuniões, cozinha equipada, jardim interno e um pet friendly, para momentos de descontração.
– Nosso espaço se diferencia dos outros por que aqui não tem rotatividade de pessoas, considero um coworking plus, pois vai além de um ambiente coletivo de trabalho. A informação circula com mais agilidade, proporcionando que todos ganhem maiores oportunidades de conquistar novos clientes, uma empresa indica a outra. Muitas vezes um cliente meu torna-se cliente de outra empresa e vice-versa – observa.
Vantagem para os negócios
Os empreendimentos que escolhem esses espaços garantem que as vantagens são muitas em relação ao aluguel de salas em prédios comerciais. A Illex, especializada em softwares para a área jurídica, comemora o ganho com um ambiente com arquitetura e decoração que permitem mobilidade.
– Uma das vantagens é a produtividade que vem de não precisarmos ficar na sala privativa, mas também de trabalharmos em um sofá do lounge, fazer uma reunião na bancada próxima ao café, ocupar a sala de reuniões. Tudo isso ajudou a empresa a crescer – assinala Rodrigo Silveira, um dos sócios da Illex.
Para a psicóloga da Parallax Move to Change, Rita Michel, cuja empresa é direcionada para gestão do conhecimento, houve uma grande mudança ao sair de um virtual office, padrão mais tradicional, com salas fechadas e várias empresas, onde as pessoas não se cruzavam, para um coworking.
– O Atum tem mais a ver com a nossa proposta de trabalho, já que acreditamos no compartilhamento do conhecimento. Então, estar em um lugar tradicional era incoerente com o que acreditávamos. Aqui conseguimos exercer aquilo que nos propomos a vender no mercado, existe uma troca efetiva, tudo é decidido junto. E estar dentro de um shopping oferece a possibilidade de podermos expandir a forma de nos reunir com os clientes, com em um café ou em uma reunião-almoço em um restaurante do local. O nosso cliente se identifica com o local – assegura Rita.
As empresas lembram que a interação entre elas é muito importante e que surge a partir da entrada de um novo membro pela divulgação em uma página na internet e também pelo happy hour mensal promovido pelos proprietários do workstyle.
Coworking Premium fatura mais de 1 milhão
Em São Paulo, a Office&Co., coworking premium, oferece quatro salas de reunião com uso ilimitado, internet, atendimento telefônico personalizado e serviço de copa, em um pacote mensal entre R$ 900 e R$ 1,2 mil (sem cobrança pelo uso de sala de reunião). Conforme as proprietárias do estabelecimento, na Vila Olimpia, Luciana Dleizer e Renata Costa, o faturamento é de mais de R$ 1,5 milhão ao ano.
As empresárias gerenciam o empreendimento priorizando a multiplicidade de negócios. Atualmente a maioria dos espaços é ocupada por advogados, mas há um ano eram agências de publicidade on-line e empresas de RH.
– Aos poucos, as diversas empresas vão percebendo que é muito prático e acessível trabalhar em um coworking e a variedade vai crescendo, melhorando a oportunidade e diversidade do networking – acentua Luciana.
As administradoras do empreendimento, iniciado em 2012, comentam que a Office&Co. é uma rede de franquias, cujo valor do investimento é entre R$ 400 mil e R$ 600 mil e que o retorno costuma ser entre 24 e 36 meses. Para este ano, a previsão é aumentar o número de espaços.
Para o assessor de investimentos da CigaInvest, Leonardo Faviere, trabalhar em um escritório compartilhado premium traz diversos benefícios: o capex inicial e a possibilidade de crescer ou enxugar a estrutura são pontos muito importantes. A empresa está sediada na Office&Co. desde 2014.
Censo aponta o RS em 5º lugar no segmento
O Coworking Brasil, projeto que reúne e divulga informações sobre esse mercado, realizou, juntamente com o Movebla e Ekonomio (sites especializados em economia criativa e colaborativa) um censo no inicio de 2016 que apontou 378 espaços ativos no Brasil, 52% a mais que no ano anterior. O RS ocupa o quinto lugar em número de coworking no país, com 24 unidades – São Paulo é o primeiro com 148, seguido de Minas Gerais, 37, Rio de Janeiro, 35, e Paraná, 34. Em nível nacional, 53 espaços funcionam 24 horas.
Conforme a pesquisa, as principais fontes de renda que mantêm os espaços abertos são locação das posições de trabalho (73%), locação de salas privativas (61%), locação de salas de reuniões (47%), locação para eventos, treinamentos e workshops (47%), serviços gerais, escritórios virtuais, endereço fiscal, entre outros (35%), recursos próprios (18%), outros (7%) e contribuição voluntária (2%).O perfil dos coworkers, de acordo com o estudo, revela que as principais áreas de atuação são consultoria (65%), publicidade e design (50%), marketing, internet e startups (45%), advocacia (38%), negócios sociais, vendas e outros (24%), jornalismo e educação (20%), jurídico e artes (13%) e terceiro setor, contabilidade e moda (10%).
Segundo o co-fundador do Coworking Brasil Fernando Aguirre, atualmente deve ser mais de 400 espaços no país. Em nível mundial, são mais de 6 mil, segundo a Deskmag – revista on-line do setor, sediada na Alemanha. Aguirre acredita que se seguir a tendência mundial, o setor continuará crescendo neste ano e que players internacionais devem chegar ao Brasil, o que também pode aumentar a concorrência para os espaços locais, mas ao mesmo tempo injetar mais dinheiro no segmento. O censo 2017 deve sair até fevereiro. Os dados de 2016 podem apresentar variações de região para região, pois muitos espaços não se denominam como coworking e alguns foram fechados ou abertos durante a pesquisa.
Entenda:
Coworking: são espaços compartilhados que visam a interação entre os profissionais que ali trabalham;
Escritórios virtuais: são condomínios comerciais onde não existe troca de experiência entre as empresas residentes. Há um compartilhamento de estrutura física, mas cada empresa fica no seu espaço;
Casas colaborativas: em geral, os próprios residentes precisam se preocupar com 100% das tarefas de manutenção do local.
Dicas para aproveitar o espaço
1. Ao escolher o espaço, priorize o perfil de profissionais que frequentam e como o espaço incentiva o networking e não o preço.
2. Depois de se juntar a um espaço, conheça as pessoas que o frequentam. Passe pela copa para tomar um café pelo menos duas vezes ao dia para bater um papo.
3. Permita que as pessoas saibam o que você faz e como você faz.
4. Aproveite tudo que o espaço oferece. O local promove eventos? Participe. Faz confraternizações entre os coworkers? Participe. Oferece consultoria? Participe.
5. Aproveite a flexibilidade que os espaços de coworking oferecem. Se está chovendo e você está cansado, se permita um dia de home office. Se o seu espaço não parece estar acrescentando muito ao seu negócio, experimente outro.
Fonte: Coworking Brasil