Com número de ingressantes e formandos em queda nos cursos de licenciatura, o Brasil tem formado menos professores a cada ano. Desde 2010, apesar do aumento no acesso ao Ensino Superior, menos estudantes têm procurado faculdades para seguir a docência - e muitos dos que completam o curso sequer têm a sala de aula como meta.
O declínio é perceptível em todos os níveis de formação das licenciaturas: desde a quantidade de matrículas e concluintes até as altas taxas de evasão, tanto na rede pública quanto na particular.
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Dados do Censo de Educação Superior de 2013 (o levantamento de 2014 só deverá ser divulgado em setembro) apontam que poucas dessas áreas tiveram aumento na procura. Para cada curso que atrai mais alunos, há pelo menos três cursos com procura em queda nas licenciaturas.
- É uma realidade com a qual convivemos há algum tempo: parte da juventude não tem interesse na docência, tem até uma visão de que a qualidade do trabalho docente é pior do que outros serviços - lamenta o professor Ricardo Takahashi, pró-reitor de graduação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que viu a demanda por licenciaturas cair cerca de 50% nos últimos anos.
Incentivos por todos os lados
Para atrair mais alunos, governo e universidades buscam incentivar a formação de professores. Quem escolher trabalhar na rede pública de ensino pode ir quitando a dívida do Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies) com o serviço. Os alunos de licenciatura também podem ganhar uma bolsa de incentivo bastante parecida com a de iniciação científica na área de exatas, por meio do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid) - um dos poucos destinado às ciências humanas.
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Em seus últimos vestibulares, com o objetivo de incentivar a formação de profissionais voltados à educação, a Universidade de Passo Fundo (UPF), no norte do Estado, ofereceu gratuidade nas inscrições para quem procurasse cursos de licenciatura.
- Precisamos incentivar a formação de professores porque os alunos que escolhem a docência realmente querem seguir essa carreira. É a vocação deles. Por isso, nosso compromisso é tão profundo com esses alunos. Eles pretendem ser professores, e nós temos de ser os primeiros a incentivá-los - ressalta a vice-reitoria de Graduação da UPF, Rosani Sgari.
Diploma, sim; docência, não
O crescente desinteresse pela docência vai além da queda no número de matrículas: mesmo entre os que se formam, são poucos os que realmente desejam seguir carreira em sala de aula. Geralmente menos concorridas, as licenciaturas podem servir como porta de entrada na universidade para quem deseja, eventualmente, pedir transferência para outro curso.
Há também aqueles que escolhem seguir a faculdade até o final, mas apenas como segunda formação - mais um diploma, e não uma profissão desejada.
- Tem aquele aluno que entrou querendo ser professor, mas também quem não sabe bem o que quer e gostaria de ir para outra área. Ou ainda quem prefere seguir a carreira acadêmica. Precisaríamos ter pelo menos o dobro de formandos para atender à necessidade de professores - entende Sérgio Franco, pró-reitor de Graduação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
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O professor Ricardo Takahashi explica que "muitas pessoas que cursam licenciatura estão lá por falta de opções" ou porque buscam algum diploma de nível superior. Ele destaca, porém, que ainda é grande o número de estudantes com clara vocação para a docência - uma profissão que, apesar de cada vez menos procurada, continua reunindo oportunidades.
- Mesmo o mercado do bacharelado não é tão receptivo quanto o da licenciatura. O licenciado praticamente sai empregado, ele não tem dificuldade de começar a trabalhar. Pena que o salário ainda não seja tão bom - completa Franco.