O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reiterou nesta segunda-feira (22) que, devido ao momento de incerteza, há agora alguns cenários possíveis para os próximos passos do Comitê de Política Monetária (Copom).
— Se a incerteza diminuir, voltamos para a forma de atuação que tínhamos começado. Outra forma é o aumento da incerteza ficar mais tempo e criar ruídos crescentes, então teremos que trabalhar como seria o "pace" (ritmo), teríamos que diminuir o "pace" — disse, em participação em evento da Legend Capital, em São Paulo.
Em março, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central promoveu novo corte de 0,5 ponto percentual na taxa Selic. Com essa atualização, o juro básico da economia do país cai de 11,25% ao ano para 10,75% ao ano. Esse foi o sexto corte desde agosto, quando o Copom interrompeu o ciclo de aperto monetário. Antes disso, a Selic estava em 13,75% ao ano. Desde então, o comitê vem reduzindo a taxa no mesmo ritmo: 0,5 ponto percentual a cada encontro. A expectativa do mercado financeiro é de que a Selic termine 2024 em 9% ao ano.
Campos Neto ainda acrescentou:
— Outro cenário seria o crescimento da volatilidade da incerteza subir mais ainda e começar a afetar o balanço de riscos. Em outro cenário, chega um ponto em que muda as variáveis de tal forma que faz com que a realidade que projetamos não seja mais verdadeira, muda o que chamamos de cenário base.
O presidente do BC defendeu que a visibilidade dos próximos passos da autarquia aumenta a eficiência do canal de transmissão da política monetária, mas que isso tem que ser feito quando de fato há visibilidade:
— Se quiser passar visibilidade quando não tem, o que acontece é que dará um guidance e terá que trocar.
Campos Neto repetiu que o guidance foi alterado de duas para uma reunião devido ao entendimento de que há mais incerteza na conjuntura atual. Ele acrescentou que, ao falar sobre os cenários possíveis agora, o objetivo é mostrar uma gradação do que pode ocorrer, a fim de dar mais transparência à política monetária:
— Não temos como dar um guidance porque temos muita incerteza — frisou.
Câmbio
Campos Neto repetiu que a autarquia só vai intervir no câmbio se houver problemas relacionados a uma distorção do mercado, mas não por uma mudança no valor do real decorrente de alteração nos fundamentos.
— Se tiver uma percepção de que o risco piorou, o câmbio vai refletir — disse o presidente do BC.
Ele repetiu que uma intervenção excessiva no câmbio pode levar a um aumento dos juros longos, já que investidores tendem a procurar outros intrumentos para fazer hedge.
E acrescentou que o câmbio flutuante serve como amortecedor para o país, que tem grandes reservas em dólar, porque, quando a moeda americana se valoriza, a dívida líquida cai.
Inflação baixa é "a melhor política social"
Roberto Campos Neto afirmou também que manter a inflação sob controle é uma das melhores políticas sociais que existem. Para o banqueiro central, o mundo emergente corre o risco de entrar em um ciclo vicioso, no qual, para combater a desigualdade gerada pela inflação, acaba gerando mais dívida que resulta em mais inflação.
Ele frisou que não estava falando especificamente do Brasil.
— A inflação tem o elemento de causar desigualdade, que é gigantesco. A melhor coisa que o BC pode fazer é manter a inflação sob controle, porque esse é o crescimento com sustentabilidade; o empresário tem visibilidade de investimento e gera emprego sustentável. Essa é a melhor política social que se pode ter — salientou Campos Neto.
Mercado de crédito
O presidente do Banco Central afirmou também que o mercado de crédito no Brasil está saudável e salientou que o país espera um crescimento de crédito de 9,5%, um dos maiores do mundo emergente;
— Houve um momento com juros mais altos que existia o medo de que poderia ter um estresse maior, nós não víamos esse problema, mas entendíamos que o risco tinha aumentado. A grande probabilidade era passar por esse cenário de forma sustentável e foi isso que aconteceu.
Campos Neto ponderou que há ainda alguns pontos com inadimplência mais alta, mas que na margem este cenário está melhorando:
— Precisamos avançar nas microreformas para termos cada vez mais um aprofundamento de mercado maior.
O presidente do BC também afirmou que um dos objetivos da autarquia é que os bancos possam cada vez mais extrair liquidez do crédito privado, a fim de terem mais segurança para produzir mais volume e créditos mais longos.
— Muitas modificações foram feitas na crise para dar liquidez para o sistema bancário se mostraram programas que queremos manter — disse.
Ainda em sua fala, o banqueiro central ressaltou que o Brasil tem uma história de sucesso em aprofundamento de mercados financeiros.
— O aprofundamento de mercados que o Brasil tem é muito maior que o do México — afirmou. —É um instrumento que serve como um colchão nos momentos de crise — concluiu o banqueiro.