Influenciado pela queda na atividade agropecuária, o Produto Interno Bruto (PIB) do Rio Grande do Sul encolheu 0,1% no terceiro trimestre de 2023 na comparação com o trimestre anterior. Em relação ao mesmo período do ano passado, a variação foi de +0,1% na economia gaúcha.
No Brasil, o PIB teve variação de +0,1% entre os trimestres e de 2% sobre o mesmo período de 2022.
O trimestre de julho a setembro é tradicionalmente marcado pelo menor impacto das atividades ligadas ao campo, segmento que tem no primeiro semestre o seu maior reflexo. Ainda assim, a queda de 15,5% no setor contribuiu para o desempenho mais fraco da economia no Estado. A estiagem deste ano, apesar de menos severa do que a anterior, influencia os resultados do campo e se soma aos eventos climáticos do El Niño.
— O trigo já tinha uma tendência de queda este ano por vir de uma supersafra no ano passado, mas, possivelmente, o desempenho seria melhor no trimestre, não fosse o excesso de chuvas — explica o pesquisador do Departamento de Economia e Estatística (DEE) do Estado, Martinho Lazzari, lembrando que o maior impacto do cereal é contabilizado nos últimos três meses do ano.
Na avaliação do economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz, o resultado da agropecuária não surpreende, diante das perdas nas culturas de inverno devido ao excesso de chuvas. Apesar dos crescimentos residuais nas produções de milho e soja, o trigo e a aveia, cereais da estação, tiveram variações negativas na quantidade produzida, de -29,8% e -16,9%, respectivamente.
— Continuamos convictos de que haverá crescimento (no fechamento de 2023), mas será algo para não ser comemorado, pois é o resultado de um ano muito ruim comparado a um péssimo que foi 2022 — diz da Luz.
Na indústria, o crescimento foi de 1% no trimestre, sustentado pela indústria de transformação (+1%) e pelas atividades de eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana (+7,4%).
— A transformação é a parcela mais representativa da indústria como um todo. Mas viemos de uma base de comparação muito deprimida. Mesmo positivo, é um dado que ainda é preocupante porque o quadro como um todo é ruim — comenta o economista-chefe da CDL Porto Alegre, Oscar Frank, chamando atenção para o acumulado negativo de 5,6% do segmento em 2023.
Já nos serviços, houve avanço de 0,6% no trimestre, o mesmo do registrado no país, puxado pelas atividades do comércio (1,8%), intermediação financeira e seguros (1,5%) e serviços de informação (1,4%).
Os resultados da economia foram divulgados nesta quinta-feira (28) pelo Departamento de Economia e Estatística, vinculado à Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (DEE/SPGG).
Acumulado do ano e futuro
Mesmo com a estiagem, o desempenho da agropecuária, com alta acumulada de 26,5% no ano, ajudou a sustentar a variação positiva da economia gaúcha até setembro de 2023 (2,5%). O resultado indica recuperação do campo em relação ao ciclo passado, quando a seca foi ainda mais severa.
Conforme o pesquisador do DEE, Martinho Lazzari, dada a relevância da agricultura para a economia do Rio Grande do Sul, o impacto da falta de chuva foi mais devastador do que o dos excessos, como as enchentes que arrasaram o Vale do Taquari:
— Se levarmos o ano inteiro em consideração, o impacto da estiagem é maior que o efeito do excesso de chuva, principalmente pelo período em que a seca ocorre, pegando a soja.
Além da agropecuária, os serviços também somaram alta até o terceiro trimestre, de 2,9%. No sentido inverso, a indústria retraiu 5% de janeiro e setembro.
Mirando 2024, a tendência é de que o ano seja de "recuperação cíclica" para o Rio Grande do Sul, na avaliação do economista-chefe da CDL. Não significa crescimento anormal, e sim o fato de devolver uma parte das perdas dos últimos anos
— Ao que tudo indica, devemos ter uma safra mais próxima de um padrão normal. Na indústria, nada sinaliza que tenhamos paradas de produção e consequentes perdas. Essa combinação de agro e indústria deve contribuir para uma melhora da economia — diz Frank.