Pressionado por aumento na demanda e dificuldade para comprar imóveis em ambiente com juro elevado, o aluguel está mais caro em Porto Alegre. O valor do aluguel residencial subiu 7,22% no acumulado de 12 meses fechados em fevereiro deste ano. Essa é a maior alta nesse recorte de tempo nos últimos nove anos. O dado considera residenciais que estão disponíveis para locação e não os já alugados. Crédito mais caro e restritivo, que diminui o número de financiamentos, recomposição de preços e retomada em alguns setores da economia estão entre os fatores que ajudam a explicar esse movimento, segundo especialistas e integrantes do setor.
Para ter uma ideia do salto, em fevereiro do ano passado, o aumento no preço dos imóveis para locação fechou em 2,69% no acumulado de 12 meses. Os dados fazem parte de pesquisa do Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis (Secovi-RS). O estudo avalia o valor do metro quadrado para locação usando uma média que leva em conta tipos diferentes de moradias residenciais em todas as áreas da Capital. No levantamento de fevereiro, período mais recente com dados divulgados, foram usadas informações de 60 bairros na cidade, com oferta suficiente para fins metodológicos.
O presidente do Secovi-RS, Moacyr Schukster, atribui o aumento nos preços do aluguel a uma conjunção de fatores. Reajuste após período com preços em patamares estáveis, menos pessoas comprando imóveis e maior procura por locações diante de retomada econômica ajudam a compor esse cenário, segundo o dirigente. Schukster afirma que atualização na oferta é outro ponto nesse processo:
— Tem a entrada de apartamentos novos. Isso também modifica a média, porque pega aluguel um pouco maior.
Schukster também cita a volta ao trabalho presencial com mais fôlego em algumas atividades, o que aumenta a busca por moradia mais próximas do emprego para maior qualidade de vida. Todos esses movimentos ajudam a aumentar a procura por aluguel, segundo o executivo. Nesse sentido, reforça a regra de mercado de oferta e demanda, provocando um salto nos preços.
A escalada nos valores do aluguel em Porto Alegre tem como pano de fundo o ambiente econômico pressionado por inflação alta e taxa Selic estacionada em 13,75%. A Selic, o juro básico do país, é a referência para uma série de taxas atreladas ao crédito. O mercado imobiliário, que conta com ciclos longos de produção e de pagamento por parte dos clientes, é sensível a financiamentos. Portanto, costuma sentir os impactos de juro alto, principalmente na parte dos imóveis de médio valor.
Nesse sentido, o professor Alberto Ajzental, coordenador do curso de Negócios Imobiliários da Fundação Getulio Vargas (FGV), afirma que o crédito mais caro e restrito afasta parte dos interessados em adquirir residência própria:
— Você pode atribuir o aumento no aluguel ao aumento da procura diante da maior dificuldade de compra do imóvel. Basicamente o que explica é o mercado, esse aumento de demanda.
Ajzental salienta que a falta de confiança por parte dos trabalhadores em relação ao avanço da economia nos próximos meses também coloca parcela dos potenciais compradores no grupo dos que seguem alugando diante da incerteza.
Comparando os valores por metro quadrado para aluguel em fevereiro de 2023 apenas com o mesmo mês do ano passado, os bairros Jardim Lindóia, Belém Novo e São Sebastião estão entre os que apresentam as maiores variações (veja mais abaixo). Segundo o Secovi-RS, isso ocorre pela entrada de imóveis novos, com valor diferenciado e área menor. Isso eleva o valor médio de metro quadrado.
Próximos meses
O movimento observado em Porto Alegre segue o extrato do país, segundo indicadores que acompanham a variação de preços de locação. Dado da última edição do Índice de Variação de Aluguéis Residenciais (IVAR), pesquisado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), mostra que os aluguéis residenciais acumulam alta de 8,90% em 12 meses fechados em março. O índice da FGV analisa informações de quatro capitais: Porto Alegre, Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte.
O presidente do Secovi-RS avalia que os preços do aluguel, mesmo que em ritmo menor, devem seguir avançando neste ano. A consolidação das atividades em um ambiente com situação sanitária controlada é um dos motivos que embasam a estimativa do executivo:
— A minha impressão é de que o imóvel vai continuar tendo uma valorização. As pessoas estavam acomodadas quando não podiam se mover. Agora, o pessoal já está com mais confiança e começando a mudar o padrão, procurando apartamentos melhores.
Schukster afirma que, apesar do aumento na procura por imóveis para alugar, a média para locar segue na faixa de 13 meses em Porto Alegre. Ou seja, a velocidade de locação segue estável. No entanto, o presidente reforça que, por se tratar de uma média, tem casos de locais que são alugados em uma semana e outros ficam sem cliente por mais de um ano.
O professor Alberto Ajzental também projeta cenário com aumento nos preços das locações. Com o juro elevado e a falta de reformas segurando a atividade econômica, o mercado imobiliário seguirá travado em algumas áreas, na avaliação do especialista:
— Creio que a taxa de juro seguirá alta e a economia deve piorar. Esse ano será difícil e toda a parte de venda de imóvel vai cair. (...) Tem tendência de queda para a venda e de manutenção ou alta para locação.