A Fimec abriu as portas de sua 46ª, na terça-feira, em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos, e quando encerrar a programação, na tarde desta quinta-feira (9), a sensação será a de que o setor calçadista gaúcho e nacional avançou mais um degrau em direção aos desejados novos mercados ao redor do mundo.
O otimismo, explicam os organizadores da feira, que reúne couros, produtos químicos, componentes, máquinas e equipamentos para os curtumes e a fabricação de calçados e acessórios, pode ser explicado pela quebra de uma nova barreira para a internacionalização. É o que diz o Marcio Jung, diretor-presidente da Fenac, coordenador da programação, ao lembrar que a presença de argentinos, peruanos, bolivianos, chilenos, uruguaios, colombianos e até a venezuelanos, entre outros “vizinhos”, já garantia o evento com o reconhecimento de “o maior da América Latina”. Acontece que, neste ano, informa Jung, delegações africanas e asiáticas, com destaque para África do Sul, Bangladesh, Burkina Faso, Camarões, Egito, Índia, Irã, Mauritânia contribuem para a soma de 37 nações credenciadas.
— Se Novo Hamburgo já era considerada a capital nacional do calçado, agora, na Fimec, somos a capital mundial — empolga-se Jung.
Mas o que buscam as cerca de 20 mil pessoas em circulação pelos pavilhões cercados por 450 expositores? Essa é fácil, afirma o dirigente: “inovação e sustentabilidade”. Não é para menos, o que não faltam são lançamentos que contribuem para a redução de impacto e a eficiência nas mais variadas etapas da cadeia de produção do setor que empregava, até fevereiro, 87 mil profissionais apenas no Rio Grande do Sul.
Gerson Luis Berwanger, presidente da Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos (Assintecal), lembra que há 30 anos a atividade dos curtumes, por exemplo, ocupava o centro das discussões sobre a poluição de rios. Hoje, comenta, pelo contrário, os tratamentos de efluentes criados pela indústria gaúcha são vendidos para os demais Estados do país.
— Essa fase foi superada há muitos anos, agora, a questão é fazer com que os processos adotados apareçam e gerem valor ao nosso produto. Até porque outra coisa que ficou para trás foi a ideia de competir com o preço chinês, não tem como, mas dá pra ganhar em qualidade e por atender o que o mundo pede nos padrões de sustentabilidade.
Algumas novidades
Tem o Lona Pet, um fio de poliéster produzido com garrafas PET e pode ser usado como cabedal de calçados, fabricação de bolsas e acessórios e forração. A solução da JR, que possui unidade em Sapiranga, auxilia a reduzir os descartes em aterros sanitários.
Na mesma linha, a Artecola oferece opção para reaproveitamento da borracha vulcanizada na produção de novas partes, como couraças, que estruturam a parte frontal dos modelos. A tecnologia exclusiva da empresa na América Latina já recuperou 2,2 toneladas de resíduos, em apenas quatro meses, o que gerou a produção de 800 mil pares de sapato no processo.
Ou ainda a menina dos olhos da FCC e muitos participantes. Trata-se de um termoplástico inédito, que permite solados com 99,9% de fontes renováveis. Trocando em miúdos, substitui o que, antes, era feito com derivados do petróleo (poluente) por milho e trigo (não os para consumo humano) e também pode ser reaproveitado no final do ciclo. A novidade é algo bastante buscada por grandes marcas, como Adidas e Nike, comenta o CEO Marcelo Reichert. A fabricante gaúcha, de Campo Bom, que desenvolve soluções em materiais para o setor calçadista há meio século, aderiu de vez ao ESG (governança corporativa, social e ambiental). Investiu R$ 60 milhões no ano passado e planeja outros R$ 120 milhões até 2025.
— Há 20 anos, buscamos impactar positivamente o meio ambiente. Hoje, isso já é uma exigência do novo público consumidor que passa para os calçadistas e determina que nós possamos oferecer esse tipo de soluções. E não há como contornar o que pede o consumidor — resume Reichert.