O Rio Grande do Sul apresentou melhora significativa nos indicadores do mercado de trabalho no trimestre encerrado em dezembro, em comparação com o mesmo período de 2021. A taxa de desemprego caiu de 8,1% para 4,6% nesse intervalo, ao mesmo tempo em que o rendimento médio subiu: passou de R$ 2.893 para R$ 3.204, conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) divulgada nesta terça-feira (28) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Na média do país, a desocupação ficou em 7,9% no trimestre e em 9,3% na média para todo 2022 — nível mais baixo desde 2015, quando alcançou 8,6%. Já a renda média nacional atingiu R$ 2.808 após uma alta de 8,3% em relação ao mesmo período do ano anterior.
A cifra de 4,6% de desocupados no Estado é o patamar mais baixo verificado para qualquer trimestre desde o final de 2014, quando os últimos três meses do ano, como agora, repetiram essa cifra. O recuo no índice de pessoas desocupadas é positivo, mas, ao menos em parte, reflete um fenômeno secundário.
— Essa taxa também caiu em relação ao trimestre anterior (quando havia ficado em 6%) porque tivemos 87 mil pessoas saindo da desocupação no Rio Grande do Sul em relação aos três meses anteriores. Mas nem todas elas se tornaram ocupadas: uma parte deixou a força de trabalho — esclarece o coordenador da Pnad Contínua no Estado, Walter Rodrigues.
Dentro desses 87 mil ex-desocupados, 66 mil conseguiram trabalho. Mas uma fatia minoritária, correspondendo a 21 mil pessoas, deixou de ser contabilizada no índice de desemprego porque abandonou o mercado laboral, ou seja, não procura mais uma vaga. Apesar disso, Rodrigues observa que o recuo do indicador é uma boa notícia principalmente na comparação com o ano anterior, período em que a variação se mostra mais significativa.
— Em 2021, avançamos muito na vacinação (contra a covid-19), tivemos pessoas voltando ao mercado de trabalho, mas o Estado ainda estava muito impactado — observa o coordenador da Pnad, em referência ao patamar de 8,1% de desempregados.
O professor de Economia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Maurício Weiss lembra que, no ano passado, houve melhora geral na economia do país.
— Essa melhora se deu especialmente até o segundo ou meados do terceiro trimestre no Brasil e no Rio Grande do Sul, sobretudo em setores relacionados com a indústria — sustenta Weiss, lembrando ainda que o pagamento de benefícios sociais, como diferentes auxílios e adiantamentos oferecidos pelo governo federal, também teve impacto.
O professor da UFRGS explica que o mercado de trabalho tende a refletir com algum atraso as variações macroeconômicas por razões como prudência dos empregadores ou fatores burocráticos de contratações e demissões, o que pode ajudar a explicar os dados positivos verificados mais para o final do ano. Observa ainda que, pelo menos na comparação com o trimestre imediatamente anterior, os últimos meses são favorecidos por um aquecimento sazonal vinculado ao período de festas.
Essa taxa também caiu em relação ao trimestre anterior porque tivemos 87 mil pessoas saindo da desocupação no Rio Grande do Sul em relação aos três meses anteriores. Mas nem todas elas se tornaram ocupadas: uma parte deixou a força de trabalho
WALTER RODRIGUES
Coordenador da Pnad Contínua no Estado
Os dados da Pnad no Estado confirmam as avaliações de Weiss sobre o bom desempenho da indústria em solo gaúcho. Conforme Walter Rodrigues, a quantidade de pessoal ocupada no setor industrial cresceu de 873 mil para 995 mil entre os últimos trimestres de 2021 e 2022. Na agricultura, que vem sofrendo novamente com uma dura seca, o número de trabalhadores recuou de 680 mil para 625 mil.
Outro avanço captado pela pesquisa é a elevação no rendimento médio dos gaúchos, quando se levam em consideração todos os trabalhos (quando há mais de um, e não apenas a principal atividade). Analisando-se os trimestres finais de cada ano, esse valor havia recuado de R$ 3,1 mil para R$ 2,8 mil entre 2020 e 2021, mas voltou a subir e, em dezembro passado, chegou a R$ R$ 3,2 mil.
Walter Rodrigues chama a atenção, porém, para o alto índice de informalidade no Estado – que se repete em nível nacional. Apenas no Rio Grande do Sul, são 1,88 milhão de pessoas que trabalham informalmente. Em todo o Brasil, são 38 milhões de trabalhadores sem registro oficial.
No cenário nacional, a média anual de empregados sem carteira de trabalho assinada atingiu 12,9 milhões em 2022. A cifra é recorde para o indicador desde o início da série histórica, em 2012.
Juros e cenário global serão desafios para 2023
Apesar dos indicadores favoráveis relativos ao Rio Grande do Sul, há dúvidas sobre como os índices deverão se comportar ao longo dos próximos meses.
O coordenador da Pnad Contínua no Estado, Walter Rodrigues, observa que a pesquisa já indica quedas mais moderadas nas taxas de desocupação no cenário nacional. Do terceiro para o quarto trimestre do ano passado, o recuo foi de 1,4 ponto percentual no Estado, e de apenas 0,8 ponto na média nacional.
— Ainda não sabemos se essa diminuição no ritmo nacional de queda da desocupação vai se difundir em Estados como o Rio Grande do Sul. Vamos ter de aguardar os primeiros dados de 2023 para ver como vai ficar — analisa Rodrigues.
O professor de economia da UFRGS Maurício Weiss sustenta que fatores como a manutenção da taxa de juros em patamar elevado (mantida em 13,75% ao ano pelo Banco Central), a desaceleração da economia no país e no mundo, além da prolongada guerra na Ucrânia, podem impactar a economia e o mercado de trabalho no país — e, como consequência, no Estado.
— Talvez essa melhora no mercado de trabalho, se os juros não forem reduzidos, nesse contexto mais pessimista, não se mantenha. Ao menos que alguma questão local, que eu não vislumbro até o momento, mude isso. Vamos esperar o próximo trimestre — afirma Weiss.