A projeção para a inflação de fevereiro no Brasil mostra que a alta de preços segue aquecida, diminuindo o espaço para antecipação do corte na taxa de juro básico. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), que registra a prévia de inflação no país, avançou 0,76% em fevereiro – acima dos 0,55% de janeiro. Em 12 meses, a taxa acumulada é de 5,63%, patamar ligeiramente abaixo dos 5,87% acumulados nos 12 meses imediatamente anteriores. Mesmo com alta puxada por efeitos sazonais em fevereiro, especialistas afirmam que persistência da inflação, expectativa sobre a volta de impostos de combustíveis e incerteza no âmbito fiscal dificultam redução mais célere na Selic.
Oito dos nove grupos de despesa pesquisados pelo IBGE tiveram alta de preços em fevereiro, com destaque para educação. Esse segmento costuma ter alta no período diante de reajustes que normalmente são praticados no início do ano letivo. Os dados foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (24).
Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor de estudos e pesquisas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), afirma que a persistência da inflação e a possível reoneração dos combustíveis dificultam ainda mais corte no juro nos próximos meses:
— Se antes o Banco Central já era resistente em reduzir a Selic, agora, com inflação mais alta do que o esperado e expectativa de aumento de impostos nos combustíveis, fica mais difícil o BC reduzir a Selic.
A volta da oneração nos combustíveis ainda não foi definida pela União. A redução, prorrogada logo no início da nova gestão, vale apenas até a próxima terça-feira (28). O governo Lula avalia prorrogar temporariamente, por dois meses, a desoneração dos impostos federais sobre a gasolina e o etanol. Outra alternativa seria elevar os tributos de forma gradual. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, defende a volta da cobrança, enquanto a ala política do governo defende a manutenção da redução de tributos.
O economista André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), afirma que a prévia do IPCA veio dentro do esperado, principalmente por fatores sazonais no grupo de educação em fevereiro. No entanto, ele destaca que os núcleos de inflação, que excluem efeitos temporários, mostram alta persistente no acumulado de 12 meses. Isso somado a uma elevação de preços ainda forte em serviços e bens duráveis joga uma possível redução da Selic apenas para o terceiro trimestre na avaliação de Braz:
— Tirando esses itens que tem efeito temporário, a gente percebe que a inflação está bem espalhada e persistente. Os núcleos se sustentam com variação em 12 meses acima do patamar acumulado pelo próprio índice. Estão mais próximos dos 8%, enquanto o índice está em torno de 5,5%.
O economista-chefe da Suno Research, Gustavo Sung, afirma que, mesmo com desaceleração em 12 meses, o índice de difusão segue elevado:
— A difusão do grupo de serviços foi bastante elevada. Isso é um sinal de que o Banco Central deve ficar de olho e atento em relação à inflação.
Sung destaca que incertezas sobre arcabouço fiscal e reforma tributária também são alguns dos fatores que podem influenciar decisões sobre o juro no país.
O economista-chefe da agência de classificação de risco Austin Rating, Alex Agostini, afirma que, mesmo com aspectos sazonais no âmbito do grupo de educação, a prévia de inflação mostra que a alta de preços segue aquecida. Esse ambiente dificulta retração no juro no curto prazo, segundo o economista:
— Isso só reforça que a inflação continua rodando acima da meta e mantém esse cenário de taxa de juro alta até meados deste ano.
Na região metropolitana de Porto Alegre, a prévia de inflação ficou abaixo da média nacional. O IPCA-15 na Grande Porto Alegre foi de 0,52% em fevereiro, 0,18 ponto percentual acima do resultado de janeiro. Nos últimos 12 meses, o IPCA-15 acumulou 4,73% na região, acima dos 4,07% observados nos 12 meses imediatamente anteriores.
Os preços do último IPCA-15 foram coletados de 13 de janeiro a 10 de fevereiro de 2023 e comparados ao período de 14 de dezembro de 2022 a 12 de janeiro de 2023. O IBGE destaca que o IPCA-15 difere do IPCA, a inflação oficial do país, somente no período de coleta e na abrangência geográfica. O IPCA costuma sair nos primeiros dias de cada mês, mostrando o resultado do mês imediatamente anterior.