Nomeada para a presidência da Caixa Econômica Federal, Daniella Marques pretende criar um comitê de crise com uma força-tarefa para apuração das denúncias de assédio sexual no banco. À frente da Caixa, a ex-secretária do ministro da Economia, Paulo Guedes, pretende reforçar ainda mais a governança do banco estatal e montar uma estrutura de apuração das denúncias e isolando a crise do resto do negócio da Caixa para não contaminar a operação da instituição financeira.
Daniella deve tomar posse no início da próxima semana, depois da renúncia do ex-presidente Pedro Guimarães, envolvido em um escândalo de assédio sexual e moral durante a sua passagem pelo banco estatal, desde 2019.
O nome de Daniella Marques precisa ser aprovado antes pelo comitê de elegibilidade da Caixa. Ela já foi exonerada do seu cargo no Ministério da Economia, onde comandava a Secretaria Especial de Produtividade e Competitividade.
No Ministério da Economia desde o início do governo Jair Bolsonaro, a futura presidente da Caixa se dedicou nos últimos meses ao programa "Brasil Pra Elas" que investe em mais crédito dos bancos federais para as mulheres e na educação empreendedora por meio de consultorias (capacitação e qualificação) da rede nacional do Sebrae. Para isso, ela montou uma equipe de mulheres.
Denúncias de assédio e renúncia
Acusado por diversas funcionárias da Caixa de diversos tipos de assédio sexual, o executivo Pedro Guimarães deixou a presidência do banco na tarde dessa quarta-feira (29) após uma conversa com o presidente Jair Bolsonaro. O Palácio do Planalto já tinha conhecimento de todas as acusações que recaiam sobre Guimarães na noite anterior, quando o escândalo veio à tona em uma reportagem publicada pelo site Metrópoles, com informações detalhadas por cinco funcionários do banco. Bolsonaro, porém, mesmo orientado por sua campanha eleitoral a se manifestar contra o episódio, preferiu segurar o seu desfecho até o dia seguinte, quando o cenário já se mostrava completamente insustentável para Guimarães.
O Ministério Público Federal vai apurar se mais dirigentes da Caixa praticaram, acobertaram ou trabalharam para abafar as denúncias contra Pedro Guimarães na Corregedoria-Geral da Caixa, vinculada diretamente à Presidência da empresa. O órgão foi criado em 2015, para fiscalizar as atividades funcionais e a conduta dos seus empregados, gestores e dirigentes, inclusive de forma preventiva e pedagógica, com sugestões de melhoria das atividades e processos de trabalho.
Alvo de processo investigativo aberto pelas vítimas no Ministério Público Federal, Guimarães afirma, no documento, que foi alvo de "uma situação cruel, injusta, desigual e que será corrigida na hora certa com a força da verdade". O agora ex-presidente da Caixa diz que "as acusações não são verdadeiras e não refletem a minha postura profissional e nem pessoal". Sustenta ainda que tem "a plena certeza de que estas acusações não se sustentarão ao passar por uma avaliação técnica e isenta" e que decidiu se afastar neste momento para se "defender das perversidades lançadas contra mim, com o coração tranquilo daqueles que não temem o que não fizeram".
Henriete Bernabé será presidente interina
O conselho de administração da Caixa Econômica Federal informou nessa quinta-feira (30), através de nota, que a vice-presidente de Habitação do banco, Henriete Bernabé, ocupará interinamente a presidência até que a nova CEO, Daniella Marques, tome posse. Ainda de acordo com a nota, os procedimentos internos de elegibilidade de Daniella estão sendo iniciados.
Na nota, o conselho da Caixa afirma também que tomou conhecimento da "possível existência de procedimento" de investigação contra o ex-presidente Pedro Guimarães, no dia 28 de junho, e que o presidente do órgão solicitou que o comitê de auditoria buscasse informações sobre a existência de investigação sobre os mesmos fatos nas instâncias do banco.