Após o primeiro ano da pandemia, quando caiu 6,8%, a economia gaúcha terminou 2021 com crescimento: o Produto Interno Bruto (PIB) do Estado teve alta de 10,4% no período. A retomada passa por avanços mais robustos na indústria e, principalmente, na agropecuária. O crescimento da economia do Estado é maior do que o da média nacional. No país, o PIB de 2021 fechou com avanço de 4,6%. Crescimento sobre uma base fraca de 2020 e trégua da estiagem estão entre os fatores que explicam o resultado estadual.
Os dados foram divulgados pelo Departamento de Economia e Estatística, da Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (DEE/SPGG), na manhã desta quarta-feira (16). O PIB do Rio Grande do Sul somou R$ 582,968 bilhões.
No quarto trimestre de 2021, o indicador avançou 3,3% ante o trimestre imediatamente anterior. Já na comparação com o quarto trimestre de 2020, a variação foi de 5% no Estado. No Brasil, o desempenho para os mesmos períodos foi de 0,5% e 1,6%, respectivamente.
A agropecuária avançou 67,5% no PIB de 2021. A recuperação da estiagem que afetou a produção do campo em 2020 é um dos fatores que ajudam a explicar o desempenho do setor, segundo o DEE.
Após perdas expressivas em 2020, quando caiu 29,5%, a recuperação no agronegócio foi puxada por altas na produção de soja (80,8%), trigo (68,5%), fumo (19,4%), arroz (6,8%) e milho (4,3%).
"A boa notícia é que estamos com um nível de PIB bastante elevado, levemente inferior ao registrado no pico da série, no segundo trimestre de 2013, ano em que também houve recuperação da safra de grãos no Estado", afirmou a chefe da Divisão da Análise Econômica do DEE, responsável pelo indicador, Vanessa Sulzbach, em comunicado.
O economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz, reforça que o crescimento exponencial da agropecuária em 2021 ocorre diante da comparação com uma base fraca de 2020, ano prejudicado por pandemia de coronavírus e estiagem.
— Em 2021, temos a retomada da economia e uma safra muito boa. Estou comparando um ano muito bom contra uma base fraca. Um ano de recuperação econômica e de safra com uma base fraca — pontua o economista.
Logo após a agropecuária, a indústria figura com o segundo melhor avanço entre os setores: 9,7%. Todas as atividades registraram desempenho positivo no ano passado na indústria.
A indústria de transformação, segmento de maior representatividade na economia do Estado, teve alta de 11,8%. Eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana cresceu 1,6%, a indústria extrativa mineral avançou 4,8%, e a construção, 7,4%.
Nos serviços, o comércio (6,6%) colaborou para a alta de 4,1% no setor. O desempenho também foi puxado pela performance dos segmentos de outros serviços (7,5%), serviços de informação (7,1%) e transportes, armazenagem e correio (7%). Das 10 atividades do comércio pesquisadas, seis tiveram resultado positivo no ano passado.
Vanessa Sulzbach, do DEE, afirma que os serviços demoraram mais para engatar retomada em 2021 na comparação com os outros setores. Essa dinâmica ocorre em um contexto onde o segmento sofreu com as restrições de circulação e de abertura de negócios diante da crise sanitária, segundo Vanessa:
— Os serviços foram muito afetados pela pandemia. A gente viu a indústria começando a recuperar lá no terceiro trimestre de 2020 e começou 2021 muito bem. Os serviços, dadas algumas restrições, demorou um pouco mais por recuperar.
2022
Apesar o bom avanço do PIB em 2021, que ocorreu sobre uma base fraca de 2020, os pesquisadores responsáveis pela pesquisa ligam sinal de alerta para 2022.
A chefe da Divisão da Análise Econômica do DEE afirma que, além da inflação e juro em alta, a estiagem que castiga o Estado e possíveis efeitos da guerra no leste europeu podem piorar o cenário da economia do Estado nos próximos meses. Nesse sentido, ela cita a estimativa de perdas na produção na agropecuária:
— É possível que tenha aumento de custos na nossa produção do agro, que já está sendo afetada pela seca e agora tem esse desafio adicional. Além de toda a questão macroeconômica, a gente tem uma seca severa neste ano. Então, as condições são desafiadoras para 2022.
O economista-chefe da Farsul afirma que os efeitos da guerra na Ucrânia serão conhecidos no longo prazo, pois ainda não é possível cravar a duração do conflito. Já em relação à estiagem, Antônio da Luz projeta que os danos na produção gaúcha vão provocar PIB negativo neste ano, com maior queda no segundo semestre.