Embora o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no segundo trimestre de 2021 tenha ficado no campo negativo, com leve recuo de 0,1% sobre o período anterior, o resultado não surpreendeu alguns setores produtivos do Estado. O desempenho, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira (1º), interrompe uma sequência de três altas trimestrais consecutivas, mas mantém a soma dos bens e serviços produzidos no país no mesmo patamar do início de 2020, ou seja, no período pré-pandemia.
No setor agropecuário, por exemplo, com baixa de 2,8% em relação aos três meses anteriores, o economista-chefe da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Antônio da Luz, explica que a leitura do resultado do PIB total pode ser feita por dois diferentes ângulos:
— Podemos ver o copo meio cheio ou meio vazio. Quem quiser ver meio vazio, vai fazer a comparação com o trimestre anterior, com crescimento praticamente igual. Quem quer ver o copo cheio, que seria a forma mais correta, vai olhar este trimestre na relação com o exato trimestre do ano anterior – argumenta.
No segundo caso, a alta verificada pelo IBGE é de 12,4%. Por essa base de comparação, os avanços são de 17,8% na indústria, 10,8% nos serviços e 1,3% na agropecuária. Por isso, Luz considera o desempenho “muito” positivo e espera que o crescimento econômico, com acúmulo de 6,4% no semestre, continue em igual ritmo.
Para o economista da Farsul, 2021 ainda terá os impactos da crise hídrica e da inflação elevada. Juntos, esses fatores devem frear o PIB no encerramento do ano. Ainda assim, diz, é possível sonhar com algo suficiente para recuperar a queda de 4,1% no PIB do ano passado.
Já nos serviços, com alta de 0,7% na comparação com trimestre anterior, o vice-presidente e coordenador da divisão de economia da Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande Sul (Federasul), Fernando Marchet, comenta que os dados ficaram dentro das projeções. Isso acontece, de acordo com o dirigente, mesmo que uma parcela do mercado estivesse mais otimista quanto à recuperação no consumo das famílias, o que acabou não ocorrendo.
Com o percentual consolidado, Marchet estima que PIB termine 2021 com avanço de 5,3%. A projeção, explica, foi mantida, justamente, pela recuperação nos serviços, setor que responde por quase 60% do PIB. Para 2022, a entidade estima novo crescimento, desta vez, em 2,6%.
No mercado de capitais, o sócio-diretor da Fundamenta Investimentos, Valter Bianchi Filho identifica que a diferença entre as expectativas e a realidade foi pequena e confirma que os impactos da pandemia ainda são colhidos no atual momento. Por essa razão, projeta melhorias nos próximos trimestres:
— Isso tende a se refletir tanto na confiança das pessoas quanto no impulso ao consumo e, por consequência, na produção. Entendo que os próximos dois trimestres terão uma dinâmica diferente da que vigorou até agora.
Setor de serviços
O professor da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Marcelo Portugal também pontua que os dados ficaram dentro do esperado, ou seja, próximos da estabilidade. E reforça que os números revelam uma recuperação da economia, ainda que de maneira desigual, diante da recessão causada pelo coronavírus e pelas medidas de quarentena.
O economista explica que a agropecuária foi afetada negativamente por condições climáticas desfavoráveis (principalmente milho, café e algodão). A indústria, por sua vez, foi impactada negativamente pela desorganização das cadeias de suprimento gerada pelas medidas anteriores de quarentena, diz:
— Por outro lado, o setor de comércio e serviços, muito afetado pela pandemia, demonstrou recuperação significativa no período.
Para o segundo semestre, Portugal projeta que o país deverá voltar ao ritmo de crescimento lento que vinha sendo observado antes do início da pandemia.
Em nota técnica, o Ministério da Economia considerou que é necessário observar a qualidade do crescimento econômico desde a retomada no terceiro trimestre de 2020. De acordo com o texto, a recuperação corre, principalmente, no setor privado, com aumento do investimento e da poupança no setor público.
“Essa melhora da retomada é fruto de medidas que buscam a melhor alocação de recursos, sejam pelo aumento da produtividade através de reformas pró-mercado e pela consolidação fiscal. Por fim, cabe ressaltar que, para reverter de forma sustentável o diagnóstico do baixo crescimento da economia brasileira é necessário combater as causas da baixa produtividade e da má alocação de recursos”, diz a nota.