O preço da gasolina acelerou na largada deste ano. No Rio Grande do Sul, o combustível rompeu a barreira simbólica dos R$ 5, o que pressiona o bolso de consumidores e desafia empresas em meio à crise econômica. De janeiro a março, a alta acumulada chegou a 23,5% nos postos gaúchos.
Na semana de 21 a 27 de março, a gasolina comum custou R$ 5,711, em média, no Estado. No período da virada de ano, entre 27 de dezembro e 2 de janeiro, o litro estava em nível inferior, R$ 4,626. Ou seja, ao longo do primeiro trimestre, o combustível ficou quase R$ 1,10 mais caro — a alta de 23,5% vem dessa comparação. GZH consultou os valores na pesquisa semanal da Agência Nacional do Petróleo (ANP).
Se serve de alívio para os gaúchos, o preço perdeu força nos últimos dias, embora siga em patamar elevado. Entre 14 e 20 de março, a gasolina alcançou a marca de R$ 5,814, em média, descendo para R$ 5,711 na sequência.
A alta acumulada em 2021 pode ser atribuída a um conjunto de fatores. Na hora de definir os valores dos combustíveis nas refinarias, a Petrobras leva em consideração as variações do petróleo no mercado internacional. Após despencar no começo da pandemia, em 2020, a commodity engatou reação com a reabertura da economia global. Isso deixou os preços aditivados para os consumidores no Brasil.
O petróleo tem sua cotação em dólar. Logo, quando a moeda americana sobe, os combustíveis também são impactados. Foi o que ocorreu de janeiro a março. Depois de fechar 2020 perto de R$ 5,20, a taxa de câmbio aumentou neste ano, para a faixa de R$ 5,70.
— Os preços praticados pela Petrobras têm convergência com o petróleo, que está atrelado ao dólar. Quando essas variáveis se alteram, para mais ou para menos, têm efeito no valor para o consumidor. De fevereiro a março, vimos elevação significativa na gasolina — avalia Edson Silva, economista-chefe da consultoria ES Petro.
Presidente do Sulpetro, que representa os postos gaúchos, João Carlos Dal’Aqua menciona que o setor vive período de dificuldades, já que as vendas foram reduzidas pela pandemia.
— É um momento de muita instabilidade. As elevações que ocorrem nas refinarias são repassadas para os postos automaticamente — diz Dal’Aqua. — A manutenção da política de paridade internacional da Petrobras é muito importante, mas a flutuação dos preços poderia ser um pouco mais suave — completa.
Com sinais de trégua do petróleo nos últimos dias, a estatal anunciou, na quarta-feira (24), redução de 3,7% para a gasolina e de 3,8% para o óleo diesel nas refinarias. Isso quer dizer que o preço da gasolina passará a cair nas próximas semanas? Depende.
Além do petróleo e do câmbio, os valores de combustíveis carregam o peso tributário. Em 1º de abril, o preço médio ponderado ao consumidor final (PMPF) da gasolina terá aumento no Rio Grande do Sul. O valor de referência, também chamado de preço de pauta, passará de R$ 5,4200 para R$ 5,8404.
É sobre o PMPF que incide a alíquota de 30% de ICMS da gasolina. O preço é determinado a cada 15 dias, após pesquisa da Receita Estadual sobre os valores cobrados nas bombas.
— A estrutura de cálculo de ICMS cria um descompasso, e não estou querendo botar a culpa em alguém. Quando o preço começa a descer nas refinarias, o imposto é calculado com base em valores anteriores. Isso traz uma dificuldade para os postos. De novo: não existe um culpado por isso, é uma estrutura toda que está por trás — pontua Dal’Aqua.
O preço da gasolina nas bombas varia até R$ 1,13 em 13 municípios gaúchos que integraram a pesquisa da ANP. Entre 21 e 27 de março, o maior valor foi registrado em Pelotas, no Sul, onde o litro custou R$ 6,299. Canoas, na Região Metropolitana, teve a menor marca: R$ 5,169.
Alto grau de incerteza dificulta projeções
O elevado grau de incertezas sobre a economia mundial dificulta projeções de analistas para o preço da gasolina nos próximos meses. A crise sanitária é a principal causa de interrogações, frisa João Luiz Zuñeda, sócio-fundador da consultoria MaxiQuim:
— A covid-19 traz dificuldades para o ambiente econômico. O preço do petróleo pode se acomodar, enquanto a pandemia e a crise política no Brasil podem pressionar o dólar.
Economista-chefe da consultoria ES Petro, Edson Silva chama atenção para outro fator interno: a troca de comando na Petrobras. Segundo ele, ainda não há clareza sobre os rumos da estatal.
Em meio ao avanço dos preços dos combustíveis, o presidente Jair Bolsonaro anunciou, em fevereiro, que o general da reserva Joaquim Silva e Luna substituirá Roberto Castello Branco na companhia.
— A atual política de preços da Petrobras vai continuar? A troca na presidência desagradou o mercado financeiro. Aumentou a incerteza — pontua o economista.
No cenário externo, analistas também acompanham os desdobramentos do encalhe de um navio de grande porte no Canal de Suez. É que o local recebe cerca de 12% do comércio mundial. A paralisação gerada pelo incidente prejudica o fluxo de mercadorias diversas, incluindo petróleo. Eventuais impactos nos preços internacionais dependeriam da duração do caso.