A entrega de refeições e de produtos em casa é uma das principais demandas dos consumidores em meio às normas do distanciamento social e às restrições impostas ao funcionamento de diversas atividades econômicas.
E essa foi a saída que empreendimentos encontraram para ampliar sua atuação nos últimos meses.
Da alimentação ao e-commerce, veja três exemplos de investimentos recentes no Rio Grande do Sul. E conheça um banco com fortes características digitais que está reforçando sua presença física no Estado.
União de empresários da gastronomia
Com atendimento abalado pelo coronavírus, bares e restaurantes de Porto Alegre figuram entre os estabelecimentos que mais sofreram com a queda no faturamento desde o início da pandemia. Muitos tiveram de mudar a forma de operação da noite para o dia. Alguns acabaram fechando as portas, outros ainda resistem, mas poucos decidiram investir.
Nessa adversidade, seis empresas da Capital se uniram para viabilizar um empreendimento coletivo, o Galpão Food Hub. Localizado no bairro Sarandi, o projeto reúne Fornellone, Gambrinus (essas duas com novas marcas), Tartoni Ristorante, Tokyo Sushi Lounge, Usina de Massas e Usina do Pastel em um mesmo espaço.
Pelo menos cinco operações já estão ativas, por meio da venda por aplicativos, sites ou telefone. Em breve, o galpão pretende lançar plataforma digital própria na qual os consumidores poderão realizar os pedidos diretamente. O espaço também ficará aberto ao público.
Investimento de R$ 2 milhões, o projeto era pensado desde o ano passado. O aluguel do espaço, por exemplo, já estava alinhado antes da pandemia. O aporte acabou dividido pelos empreendedores e cada um encontrou uma maneira diferente para manter a iniciativa de pé. Alguns usaram cartão de crédito, outros tinham recursos reservados e teve quem pegou empréstimo.
— Houve dificuldade absurda, já que os restaurantes chegaram a ficar fechados e com receita praticamente zero. Cada marca se virou para conseguir aportar os valores. Nos endividamos, jogando esse problema mais para frente — diz Áureo Martinez, sócio da Usina de Massas e um dos articuladores do Galpão Food Hub.
Ao compartilhar a estrutura, o empresário estima que os custos mensais de cada operação caem pela metade em relação às unidades mantidas individualmente. O espaço deve gerar cerca de 45 empregos diretos, segundo ele. Uma parte dos funcionários contratados pelas marcas é formada por pessoas que haviam sido demitidas durante a crise.
Nova franquia com ajuda da telentrega
Negócios que já estavam habituados a operar no sistema de telentrega ou pegue e leve antes da pandemia conseguiram atenuar os efeitos da queda de faturamento após as restrições ao atendimento presencial e, em alguns casos, puderam se expandir. Foi justamente o bom desempenho das vendas pela internet nos últimos meses que levou a pizzaria Domino’s a abrir a quarta franquia em Porto Alegre. O estabelecimento no bairro Cidade Baixa teve inauguração em julho.
— Quando começou a pandemia, chegamos a pensar em não abrir novas franquias. Mas as vendas no delivery cresceram bastante e vimos que havia uma oportunidade aí, principalmente para atender essa região (Cidade Baixa e os bairros próximos) — diz Gean Silva, diretor de expansão da Domino’s no Brasil.
A nova loja teve investimento de cerca de R$ 1 milhão e abriu 15 vagas. Silva explica que, antes da pandemia, o Rio Grande do Sul havia se transformado no foco prioritário da marca no país.
Toda a operação na Capital é liderada por um único franqueado, que tem a exclusividade da marca em Porto Alegre e preferência para a abertura de unidades no Estado. O empreendedor já estava capitalizado antes da crise, o que viabilizou o empreendimento.
Antes da crise, os negócios online representavam metade do faturamento da empresa em Porto Alegre. Ainda que a restrição para consumo dentro das lojas da Capital tenha afetado a outra metade da receita, a tendência é de que a renda obtida com a telentrega siga crescendo e acabe compensando a redução das vendas no salão nos próximos meses.
— Com o crescimento do delivery podemos abrir até mais uma unidade neste ano — projeta Silva.
A empresa ainda está definindo se irá inaugurar uma quinta unidade em Porto Alegre ou se irá estrear em outras cidades. Uma possibilidade é que o aporte seja realizado em Canoas. Locais como Caxias do Sul, Pelotas e Santa Maria também estão no radar da rede de pizzarias.
Gigante de e-commerce de olho no RS
Com lojas de rua e shoppings fechados durante a pandemia, empresas que apostam em vendas online viram a demanda por produtos crescer nos últimos meses. Em meio ao avanço do e-commerce mundo afora, uma gigante do setor olha para o Estado.
Neste mês, a colunista de GaúchaZH Giane Guerra antecipou a informação de que a Amazon instalará um centro de distribuição de produtos no Estado. A unidade deverá ficar em Nova Santa Rita, na Região Metropolitana, com potencial de gerar mil empregos. Procurada, a empresa evita comentar o assunto neste momento. Há expectativa de que o anúncio ocorra em breve.
Sediada nos Estados Unidos, a Amazon viu o lucro dobrar no segundo trimestre deste ano. No período, o resultado chegou a US$ 5,24 bilhões. Em igual intervalo de 2019, o ganho havia sido de US$ 2,62 bilhões. Entre abril e junho, a gigante também registrou crescimento de 40,2% na receita, para US$ 88,9 bilhões.
O debate sobre a instalação de uma unidade da Amazon no Rio Grande do Sul ganha força depois de o Estado perder outro investimento de uma grande empresa de comércio eletrônico. Em junho, o Mercado Livre confirmou que desistiu de instalar um centro de distribuição de produtos em Gravataí, na Região Metropolitana. O revés no investimento teria ocorrido após divergências em negociações com o governo do Estado. A estimativa era de que o negócio gerasse 500 empregos.
Conforme dados do movimento Compre & Confie, só em junho o comércio eletrônico faturou R$ 236,2 milhões em vendas na Grande Porto Alegre. Na comparação com igual período do ano passado (R$ 126,1 milhões), a marca representa crescimento de 87,3%. O estudo também revela que houve 629,4 mil pedidos na região, em junho, o que corresponde a um salto de 90,5% frente ao mesmo mês de 2019 (330,4 mil).
Banco digital reforça rede física
Mesmo tendo um modelo de negócio calcado na experiência de atendimento digital, o banco gaúcho Agibank está reforçando sua rede de pontos de atendimento presencial. Nem mesmo a pandemia interrompeu o processo de abertura de novas unidades no país. Uma das mais recentes é a loja conceito inaugurada em Porto Alegre, em julho, que servirá como referência para as agências da marca.
Na contramão do formato tradicional de agência bancária, o Agibank quer disseminar o conceito de “antiagência”. Ou seja, o espaço de atendimento não tem porta giratória apitando, nem vidros separando os atendentes dos clientes e conta com largos espaços de convivência. Além disso, não há uso de papel para abrir contas ou contratar serviços. Tudo é feito no celular.
Mas por que um banco digital abre agências físicas em um momento no qual a maioria das instituições financeiras opta por fechar pontos? A resposta está no perfil dos clientes do Agibank.
Em torno de 50% dos correntistas têm mais de 50 anos. Neste sentido, os espaços físicos têm o papel de servir de suporte, principalmente ao público que está se familiarizando com aplicativos e operações bancárias digitais.
— A ideia é levar a experiência digital para um formato que esse cliente possa entender. A agência física é um ponto de ensinamento, que facilita o processo de alfabetização digital desse cliente, sem pressão — afirma Glauber Correa, diretor de negócios do Agibank.
Além da nova unidade na Capital, o Agibank abriu outros 23 pontos no Rio Grande do Sul desde março. Nos próximos meses, sete novos espaços devem ser inaugurados no Estado. Ao todo, o investimento na expansão no mercado gaúcho totaliza R$ 4 milhões e deve gerar cem postos de trabalho até o final do ano. No país, a empresa já conta com 630 pontos e pretende chegar a 700 ainda em 2020.