BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Os governos do presidente Jair Bolsonaro e do ditador Nicolás Maduro iniciaram conversas formais para o restabelecimento de energia elétrica venezuelana para Roraima.
Dirigentes da Eletronorte (estatal responsável por comprar a eletricidade enviada ao estado pela usina de Guri, na Venezuela) se reuniram na tarde desta quinta-feira (16), no Senado, com Freddy Efrain, o principal diplomata a serviço de Maduro no país.
O objetivo da reunião foi tratar dos detalhes técnicos para a retomada do envio de eletricidade da Venezuela para Roraima.
"Os venezuelanos querem saber qual a forma que o Brasil vai usar para fazer o pagamento. Ficou acertado que a Eletronorte vai dar essa fórmula na segunda-feira (20) e dizer como vai fazer o pagamento", afirmou o senador Telmário Mota (PROS-RR), que intermediou o encontro.
"A Eletronorte vai dizer qual é a forma para fazer esse pagamento. A gente passa para Venezuela e, acatando, ela já libera [a eletricidade]", completou o parlamentar.
Roraima é o único estado do Brasil que depende da energia venezuelana, por não faz parte do sistema interligado nacional (SIN).
Desde o acirramento da crise no país vizinho, o envio de eletricidade da hidrelétrica de Guri, na Venezuela, vinha enfrentando uma série de interrupções, principalmente pela falta de manutenção na linha de transmissão.
O fornecimento de energia do país vizinho está totalmente cortado desde o início de março, quando um mega-apagão deixou a Venezuela às escuras durante seis dias.
O estado brasileiro passou a ser abastecido integralmente por termelétricas, que custam mais caro do que a eletricidade venezuelana.
Quando o fornecimento de Guri foi interrompido, a fronteira do Brasil com a Venezuela estava fechada e as relações com Maduro viviam uma tensão sem precedentes.
O presidente Bolsonaro não só reconheceu o líder opositor Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela, como passou a atuar fortemente no cenário internacional pela saída de Maduro do poder.
Se a atuação contra o ditador nos fóruns internacionais continua, ao menos na fronteira entre os dois países o nível de tensão diminuiu nos últimos dias.
O governo venezuelano anunciou no último dia 10 de maio a reabertura da fronteira entre as cidades de Pacaraima (no Brasil) e Santa Elena de Uairén (na Venezuela).
Isso possibilitou o início das conversas para o restabelecimento da energia venezuelana para Roraima.
O tema é de extrema importância para Maduro, uma vez que o país é alvo de sanções dos Estados Unidos, que limitam o acesso do regime a recursos internacionais.
De acordo com o senador Telmário Mota, a fatura que o Brasil paga para ter acesso à eletricidade de Guri é de cerca de R$ 264 milhões por ano.
A retomada do envio de eletricidade depende justamente do meio que será utilizado para garantir os pagamentos, segundo o senador. O objetivo é encontrar uma rota financeira que não viole as sanções impostas pelos EUA.
A Folha questionou a Eletronorte sobre a reunião. "A Eletronorte participou da reunião com o objetivo de buscar soluções para a retomada do suprimento de energia ao estado de Roraima", respondeu a empresa.
A crise de fornecimento de energia em Roraima fez com que Bolsonaro declarasse o linhão de Tucuruí um empreendimento de infraestrutura de interesse da política de defesa nacional.
O projeto visa criar uma linha de transmissão para ligar Roraima ao sistema interligado de abastecimento de energia elétrica, o que acabaria com a dependência da eletricidade do estrangeiro.
A obra ainda não começou e mesmo com uma construção acelerada -em razão da decisão de Bolsonaro de declará-la de interesse nacional- só deve ficar pronta nos próximos anos.
Quando a fronteira com a Venezuela foi reaberta, Bolsonaro disse que tratava-se de uma "medida inteligente" por parte de Maduro. "Parece também que a energia elétrica vai ser restabelecida, isso ajuda.
Mas não nos deixa longe de buscar longe de buscar a construção do linhão Manaus-Boa Vista", declarou o presidente.