A multinacional Philip Morris anunciou que pretende abandonar a venda de cigarros no Reino Unido. Nesta sexta-feira (5), questionada se a ação poderá ser replicada em outros mercados, como o brasileiro, a dona das marcas Marlboro e L&M declarou que a iniciativa reforça um "compromisso global de longo prazo". A empresa mantém unidade em Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo, e vem buscando substituir os produtos por itens de "risco reduzido".
Uma das apostas da empresa no Reino Unido deverá ser na venda do IQOS, que aquece o tabaco em vez de queimá-lo. Embora afirme que o produto não é um cigarro eletrônico, a multinacional poderá encontrar barreiras para a comercialização no Brasil, já que essas mercadorias não possuem regulamentação específica no país.
Considerada uma das principais compradoras de folhas de tabaco no território nacional, a companhia promete não abandonar "o compromisso" com agricultores inseridos nessa cadeia, já que a empresa também precisa delas para a fabricação dos produtos de risco reduzido. "Nossa visão de construir um futuro sem fumaça não significa construir um futuro sem tabaco", argumenta a Philip Morris.
Presidente da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Tabaco, Romeu Schneider avalia que, se a multinacional adotar no Brasil medida semelhante à do Reino Unido, o Vale do Rio Pardo não seria afetado imediatamente.
– As pessoas acostumadas a fumar cigarros tradicionais não devem adotar outro tipo de produto com facilidade. Os novos fumantes, sim, se habituariam de maneira mais fácil. Isso reduziria o consumo, o que já está no radar, porque os cigarros que aquecem o tabaco em vez de queimá-lo apresentam quantidade menor do que os tradicionais – analisa Schneider.
O dirigente acrescenta que a iniciativa da Philip Morris no Reino Unido pode ser vista como um teste de mercado e "não deve causar alarde" no Rio Grande do Sul. Para ele, se a ação não for bem recebida pelos consumidores, não deverá se espalhar para outros locais.
– Se uma empresa faz isso, certamente sobrará mais mercado para as outras que estão na ativa no mercado. A demanda irá se distribuir. Simplesmente imaginar que aqueles que fumavam cigarros da Philip Morris vão parar de fumar, eu não acredito nessa possibilidade – opina.
A intenção de abandonar a venda de cigarros no Reino Unido foi divulgada pela multinacional em uma campanha em jornais britânicos e em seu site oficial. "Todos os anos, muitos fumantes desistem do cigarro. Agora é nossa vez", afirma o anúncio.
No Brasil, a companhia emprega cerca de 3 mil pessoas. Além da unidade gaúcha, a Philip Morris mantém um escritório em Curitiba, no Paraná.
Confira, na íntegra, a nota da Philip Morris enviada para GaúchaZH:
"A iniciativa do Reino Unido reforça o compromisso global de longo prazo da PMI de substituir cigarros por produtos de risco reduzido, como produtos de tabaco aquecido, que são melhores alternativas para os adultos fumantes do que cigarros. No Brasil, a Anvisa tem a oportunidade de regulamentar já nas próximas semanas esses novos produtos através da revisão da RDC 90, que regulamenta todos os produtos de tabaco. Nossa visão de construir um futuro sem fumaça, não significa construir um futuro sem tabaco. Nosso principal produto de risco reduzido é um produto que contém tabaco, o que reforça nosso compromisso com a cadeia produtiva do tabaco no Brasil."