O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, salientou a estudantes e convidados da London School of Economics and Political Science (LSE), em Londres, que o Brasil sai agora da pior recessão econômica da sua história. "A recessão dos últimos dois anos foi a mais longa e a mais profunda da história do País", relatou durante a apresentação intitulada "Reform to recovery: where next for the Brazilian economy?"
O ministro fez um breve resumo da história econômica brasileira recente. Segundo ele, no curto prazo, o Brasil cresceu com base no consumo e no crédito, que era, muitas vezes, subsidiado pelo governo. Houve também expansão dos gastos públicos, o déficit primário começou a crescer e isso levou o risco país a subir. "Junto com isso, o governo também teve uma mente intervencionista em áreas como energia, gás e petróleo e isso diminuiu a confiança das empresas e dos consumidores. Os investimentos caíram", salientou.
Ao mesmo tempo, comentou Meirelles, o Banco Central teve de elevar os juros básicos da economia, com a inflação em alta. O consumo caiu e a crise se formou. Mesmo neste caminho, salientou ele, os gastos públicos cresceram em porcentagem do PIB de 2007 a 2016.
A resposta do governo agora para essa crise está sendo em focar em dois tipos de reformas. As reformas estruturais, como a aprovação da PEC do teto, a reforma trabalhista, a da Previdência e tributária, e reformas macroeconômicas, como regulação setorial, ajuste fiscal e mercado de crédito.
Reforma da Previdência
Meirelles reforçou que prevê a aprovação da reforma da Previdência pelo Congresso Nacional em outubro ou, no máximo, no início de novembro.
Meirelles apresentou uma explicação detalhada sobre o envelhecimento da população no País e o impacto dos gastos da Previdência nas contas públicas brasileiras, argumentando sobre a necessidade de mudança. Ao mesmo tempo, declarou, o governo está preparando a reforma tributária em parceria com acadêmicos, técnicos do governo e o Congresso Nacional.
TLP
Meirelles,fez mais uma vez uma ampla defesa da Taxa de Longo Prazo (TLP), aprovada recentemente pelo Congresso Nacional e que substituirá a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), que é subsidiada pelo governo. A TLP seguirá taxas de mercado. Segundo ele, um dos principais pontos da mudança será que o efeito da política monetária dirigida pelo Banco Central ficará mais forte sobre a economia.
Para o ministro, a TJLP é uma das razões para os juros altos no Brasil. "As taxas de mercado tinham de ser desproporcionalmente maiores, puxadas pelo BC, porque grande parte do mercado corporativo era subsidiada", disse. Isso criava distorção, segundo ele. A mudança está marcada para começar em 1º de janeiro do ano que vem. "Cada vez mais a política monetária vai aumentando seu poder gradualmente e permitindo que taxas menores gerem resultados mais eficazes."
Com jeito de professor, Meirelles também escolheu um aluno para falar sobre toda a burocracia no Brasil, usando-o como exemplo para falar sobre o tempo que um empresário demora para abrir uma empresa no País. Durante o evento, ele também citou o programa fiscal destinado ao Rio de Janeiro e a modernização de regulações de vários setores da economia, como de óleo e gás. O ministro falou ainda sobre o histórico da inflação, sobre o desempenho dos indicadores de confiança e sobre a evolução da taxa de desemprego. "Leva tempo para o mercado de trabalho reagir", considerou.
O ministrou defendeu ainda que a entrada do Brasil na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) - que foi solicitada no primeiro semestre e agora aguarda a resposta dos membros da entidade - será de "fundamental importância". "Com a OCDE, Brasil poderá modernizar várias áreas em conjunto com outros membros", disse.
PIB
Meirelles previu que a projeção do governo para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2018 é de 2%. "Mas o viés é de alta", comentou. Mais cedo, ele disse ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado, em Bruxelas, que não se surpreenderia se a taxa de crescimento no ano que vem for de 3%.
Durante a apresentação, Meirelles também apresentou três cenários com projeções médias para o PIB e o PIB per capita em 10 anos, considerando 1) um quadro mais pessimista, sem aprovação das reformas; 2) um quadro com aprovação parcial das reformas indicadas pelo governo e 3), com a aprovação na íntegra das propostas do governo, num cenário otimista. No primeiro, o PIB seria de 2%; no segundo, de 3,7%, e, no terceiro, de 4,5%. "É uma taxa muito alta", avaliou.