A nova meta fiscal de déficit de R$ 159 bilhões para 2017 e 2018 deve ser votada pelo Congresso Nacional na tarde desta quarta–feira (30). Segundo economistas consultados por Zero Hora, se o governo não honrar novamente a promessa de gastos, a crise político-econômica será acentuada e a corrida eleitoral pode ser afetada.
Quando o governo anunciou a revisão da meta, em 15 de agosto, a equipe econômica explicou que a mudança era feita por "substancial queda de receitas". O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, afirmou que esperava ter arrecadação maior durante o ano, mas que a expectativa foi frustrada – entre os motivos, a crise na economia, que ainda persiste.
Leia também:
Cinco impactos no dia a dia causados pela alteração da meta fiscal
Por que o governo Temer revisou a meta fiscal?
Comissão do Congresso aprova projeto que aumenta rombo no orçamento do governo Temer
Se o Planalto se perder novamente nas previsões e não der conta de respeitar a nova meta fiscal, o governo deve se afundar em uma crise ainda maior, afirmam especialistas consultados por ZH.
Na economia, o Brasil sofreria dos mesmos cinco efeitos já projetados para os próximos meses: aumento da dívida pública, dos juros e dos impostos, redução no consumo, perda da credibilidade da equipe econômica e corte de gastos. A diferença é que todos esses cinco fatores seriam ainda mais fortes.
– O desemprego continuará elevado. Se o cenário se deteriorar, estaremos em uma situação mais complexa. O governo terá a credibilidade ainda mais afetada – avalia Fernando Ferrari Filho, professor de economia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). – Mas mesmo as agências de rating não devem nos rebaixar. Precisaria ter algo muito mais grave, como o agravamento da crise político-institucional, uma reivindicação generalizada da população nas ruas ou se o cenário internacional, que hoje nos dá fôlego, piorasse – acrescenta.
Se a crise política é um ingrediente explosivo, uma segunda revisão na meta fiscal seria a fagulha inicial. Para Alfredo Meneghetti Neto, professor de economia do setor público da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), uma nova alteração pioraria ainda mais a situação do governo Temer. Na esteira, a oposição teria mais armas para as eleições do ano que vem.
– A base aliada iria se fragmentar ainda mais, porque o governo Temer sofreria uma rejeição muito grande. Isso teria um impacto na corrida eleitoral – avalia.
A médio prazo, quem também sofreria o pênalti seria o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, o maior responsável por arquitetar a política econômica. Nos bastidores, ele dá sinais de que pretende se candidatar, no futuro, à presidência. Questionado sobre o assunto, ele deu um sorriso como resposta. O sucesso na recuperação da economia seria a menina dos olhos em uma eventual corrida eleitoral.
Caso a meta seja mais uma vez alterada e o governo mostre que não conseguiu controlar as despesas do governo para arrecadar mais do que gasta, a pretensão de Meirelles virar presidente vai por água abaixo.
– Uma nova revisão pode trazer uma nova falta de confiança no governo que se encerra. Meirelles será o maior prejudicado caso queira se candidatar no futuro – reflete Meneghetti Neto.