Tradicional destino fronteiriço para compras de brasileiros, Rivera, no Uruguai, cidade gêmea da gaúcha Santana do Livramento, está longe de retomar os tempos áureos em que era invadida por hordas de turistas. A crise se arrasta por três anos, fruto da desvalorização do real ante o dólar e da redução da renda entre os compradores brasileiros, causando o fechamento de free shops e demissões de trabalhadores.
O feriado de Tiradentes, apesar de não ter alcançado o volume de circulação dos tempos de bonança, foi uma lufada de esperança para o comércio uruguaio. Sobretudo na sexta-feira, Rivera esteve movimentada. Os hotéis ficaram sem vagas, turistas zanzavam carregando sacolas, enquanto outros lotavam os restaurantes. No sábado à noite, centenas de pessoas povoaram a Praça Internacional, junto ao obelisco que demarca a fronteira, para curtir festival de música e cerveja artesanal.
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A expectativa é de que a dose se repita no feriadão do Dia do Trabalho, o terceiro em sequência logo depois da Páscoa e Tiradentes. Na maioria dos estabelecimentos, o dólar foi cotado a R$ 3,19. O patamar ainda é considerado elevado, longe dos cerca de R$ 2,50 praticados até meados de 2014, quando acabou a época dourada de compras na fronteira. Mas os R$ 3,19 atuais são convidativos se comparados aos mais de R$ 4 já alcançados. Embora a série de feriados no Brasil e a leve queda do dólar possam sugerir retomada, os comerciantes uruguaios seguem reticentes.
– Melhorou, mas chega segunda-feira e cai tudo. Depois da Copa (2014), ficou horrível – diz Miguel Nunes Queirolo, proprietário de uma loja de roupas masculinas e femininas na Avenida Sarandi, a principal do comércio fronteiriço de Rivera.
Não é exagero afirmar que Queirolo é um sobrevivente. O negócio dele fica na Galeria Arcos, que está com 26 lojas vazias e apenas seis alugadas.
Ele precisou renegociar o aluguel, reduzido em 50%, e cortou outros custos.
– Tudo o que acontece no Brasil se reflete aqui.
A classe média-baixa não vem mais. Eram os que mais gastavam. Quem continua vindo é de classe média-alta, que não passa na minha loja – diz Queirolo.
A crise leva comerciantes a adotarem estratégias que, em outros tempos, seriam consideradas desatinos. Única pessoa a atender na Shady, pequena loja de cosméticos, Juan Gomez estava pedindo no feriadão de Tiradentes R$ 2,90 para cada dólar. Mas o preço base, geralmente definido por grandes redes como Siñeriz e Barão, estava em R$ 3,19. Em dias de semana, Gomez radicaliza e chega a baixar a cotação para R$ 2,70 graças a cortes na margem de lucro.
– Ganha-se muito pouco, mas é melhor do que não vender nada. Ao menos atrai clientes – relata.
As queimas de estoque também são alternativas. Luan Suzin, de Farroupilha, saiu carregado de uma loja da Barão. Comprou 84 unidades da batata Pringles e, de brinde, levou 84 latas de energético. Ele avaliou que, apesar do dólar ainda alto, vale a pena comprar em quantidades maiores para poder barganhar.
– Achei caros os eletrodomésticos – conta o morador da serra gaúcha, que foi à fronteira acompanhado da família.