Correção: entre 10h48min e 16h38min, o texto informava incorretamente que o ágio da oferta pelo aeroporto Salgado Filho era de 844,7%. O percentual correto é 211%. A informação foi corrigida pela Anac e atualizada abaixo.
O grupo alemão Fraport AG Frankfurt venceu o leilão de disputa pelo Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, em concorrência realizada pela Agência Nacional da Aviação Civil (Anac) na manhã desta quinta-feira na sede da BM&FBovespa, em São Paulo. A empresa apresentou a maior proposta para assumir a administração do Salgado Filho pelos próximos 25 anos, prorrogáveis por mais cinco.
O valor total que será pago pelo Salgado Filho é de R$ 382 milhões, sendo R$ 290 milhões pagos de imediato ao governo federal, no ato de concessão (correspondentes a 25% sobre o valor mínimo de outorga, que era R$ 123 milhões, mais o ágio, que é a diferença sobre o preço mínimo). Conforme a Anac, é o maior ágio dos quatro aeroportos leiloados, 211% superior ao valor mínimo de outorga. No total, a União irá arrecadar R$ 3,720 bilhões com o leilão.
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O Fraport venceu a disputa por viva-voz com a Zurich, após ambas apresentarem uma proposta inicial para assumir o Salgado Filho – os envelopes foram entregues na última segunda-feira e apresentados nesta quinta-feira. Em sua primeira oferta, o Fraport havia oferecido o valor de contribuição inicial de R$ 230,5 milhões (correspondente a 25% do lance inicial, mais um ágio sobre o valor mínimo de R$ 123 milhões), superando a oferta de R$ 133,3 milhões feita pela suíça Zurich.
No viva-voz, foram alternadas sete propostas, com diferença de valores de cerca de R$ 10 milhões sobre os lances anteriores, em uma disputa que levou uma hora e meia e era intercalada também por propostas pelos outros aeroportos no pleito (Florianópolis, Fortaleza e Salvador). A proposta vencedora foi de R$ 290,512 milhões.
Entre as obrigações contratuais está a necessidade de fazer a ampliação da pista do aeroporto em mais 920 metros, dentro de um prazo de 52 meses após assinar o contrato de concessão, o que deve ocorrer até julho. Também será exigido do grupo vencedor que faça ampliação do terminal de passageiros e erga um novo prédio-estacionamento.
O resultado surpreendeu analistas do setor, que previam pouco interesse pelo terminal gaúcho em razão da complexidade das obras e de um possível ceticismo quanto ao aumento no número de passageiros. O Grupo Fraport opera o aeroporto de Frankfurt, um dos mais movimentados da Alemanha, e mais nove terminais na Europa, Ásia e América do Sul, onde é responsável pelo aeroporto de Lima, no Peru.
O aeroporto de Porto Alegre foi o único entre os quatro leiloados nesta quinta-feira com prazo de concessão mais curto: 25 anos, ante 30 anos dos terminais de Florianópolis, Salvador e Fortaleza (nos quatro casos, há possibilidade de prorrogação por cinco anos). Conforme Renato Sucupira, presidente da BF Capital, empresa que efetuou os estudos de viabilidade dos aeroportos de Porto Alegre e Florianópolis para o leilão, essa decisão se deve à impossibilidade de ampliar o Salgado Filho no ritmo em que se espera que cresça o número de passageiros.
Para elaborar o edital, a Anac previu que até 2042 o fluxo anual de passageiros passaria dos 8,4 milhões em 2015 para 22,8 milhões, demanda superior à capacidade do terminal de Porto Alegre, mesmo que todas as reformas sejam feitas. O aeroporto não suportaria mais cinco anos neste ritmo. Dessa forma, explica Sucupira, a demanda teria de ser deslocada para um segundo aeroporto a ser construído na Região Metropolitana.
– Para atender a todos usuários previstos, seria necessário construir uma segunda pista no Salgado Filho, o que não é possível em razão da limitação das dimensões do terreno, cercado por residências – afirma. – A solução seria um novo aeroporto.
A tese gera controvérsias. Especialistas em aviação dizem que os números da Anac são superestimados, e não retratam a realidade do crescimento de passageiros. O terminal porto-alegrense é apresentado no edital com um movimento defasado: em 2016, o uso do aeroporto caiu de 8,4 milhões para 7,6 milhões de passageiros, e, para chegar ao número estipulado pela Anac, o Salgado Filho teria de triplicar a demanda, o que é considerado improvável.
– A previsão da Anac é utópica – alerta Paulo Menzel, da Agenda 2020 – Nenhum aeroporto no mundo conseguiu triplicar a demanda em 25 anos, e se considerarmos as dificuldades na economia e a perda de até 40 voos diários do Salgado Filho nos últimos anos, essa hipótese fica ainda mais remota.
Caso se decida pela construção de um novo aeroporto, o principal candidato é o 20 de Setembro, entre os municípios de Nova Santa Rita e Portão. Estudos prévios sugerem que o novo terminal poderia atender a voos internacionais, deixando o Salgado Filho como hub doméstico – semelhante à situação de Congonhas e Guarulhos em São Paulo.
Clique nos pontos abaixo para ver quais obras são esperadas no Salgado Filho
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Movimento de passageiros no Salgado Filho em cada ano
2012 - 8,261 milhões
2013 - 7,993 milhões
2014 - 8,447 milhões
2015 - 8,354 milhões
2016 - 7,648 milhões
Fonte: Infraero
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Como o Salgado Filho chegou à disputa
- Valor mínimo de outorga: R$ 123 milhões
- Movimentação de passageiros: 7,6 milhões (2016)
- Investimentos exigidos: R$ 1,9 bilhão
- Receita prevista em 2017: R$ 265 milhões
- Tempo de concessão: 25 anos, prorrogável por mais cinco
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Os outros aeroportos que foram a leilão
- Fortaleza (Aeroporto Plinio Martins)
Valor mínimo de outorga: R$ 1,44 bilhão
Movimentação de passageiros ao ano: 6,3 milhões
Investimentos necessários: R$ 1,4 bilhão
Receita prevista para 2017: R$ 175 milhões
Prazo de concessão: 30 anos (mais cinco prorrogáveis)
- Salvador (Aeroporto Dep. Luis Eduardo Magalhães)
Valor mínimo de outorga: R$ 1,24 bilhão
Movimentação de passageiros ao ano: 9 milhões
Investimentos necessários: R$ 2,35 bilhões
Receita prevista para 2017: R$ 270 milhões
Prazo de concessão: 30 anos (mais cinco prorrogáveis)
- Florianópolis (Aeroporto Hercílio Luz)
Valor mínimo de outorga: R$ 211 milhões
Movimentação de passageiros ao ano: 3,7 milhões
Investimentos necessários: R$ 960 milhões
Receita prevista para 2017: R$ 106 milhões
Prazo de concessão: 30 anos (mais cinco prorrogáveis)