Na programação de ensino escolar de crianças e adolescentes não faltam fórmulas e cálculos de matemática. Por outro lado, normalmente há uma lacuna sobre como aplicar esse conhecimento aliado à educação financeira. Percebendo essa carência, a Escola Municipal de Ensino Fundamental Nossa Senhora de Caravaggio, em Farroupilha, vem inovando e aplicou um projeto todo voltado para a temática.
A ação da escola teve início em outubro e contempla todos os alunos: desde os pequenos do pré, que têm por volta de 5 anos, até os mais velhos do 9º ano, com cerca de 14 anos. O projeto foi sugerido pela Secretaria da Educação do município:
– Na atual fase que em que vivemos, de crise no país todo, percebemos que mais do que nunca esse assunto é pertinente – destaca Lucia Gil da Silva de Lima, professora que ajudou a implantar o projeto na escola.
As atividades variam conforme o ano escolar dos alunos.
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Para os menores, conta Lucia, o assunto é tratado de forma lúdica, com contação de histórias e confecção de cofrinhos. Já os estudantes maiores chegam a elaborar um orçamento familiar de suas casas, calculando despesas e receitas.
– Não imaginava que certas contas eram tão caras. Aprendi, com as atividades, que é importante economizar para ter um futuro bom – ressalta Eduarda Bristot, de 13 anos.
Além da gestão financeira, assuntos como sustentabilidade e reaproveitamento norteiam as atividades do projeto. Uma feira da escola estimulou os alunos a trocarem brinquedos usados entre si. Outra ação de reciclagem proporcionou um banco novo para o pátio:
– A ideia é conscientizar a todos, desde cedo, da importância de planejar e de valorizar o dinheiro – explica Lucia.
A iniciativa tem despertado a atenção dos alunos. Lucas Pazin, 13 anos, resume o aprendizado dos alunos com as atividades:
– Vimos que temos de saber bem como ocupar o nosso dinheiro, assim é possível comprar as coisas que a gente precisa e futuramente conseguiremos comprar até uma casa.
"A educação forma um adulto mais consciente e responsável"
Além da escola, é imprescindível que a temática da educação financeira seja tratada com as crianças em casa. O alerta é de Catherine Chiappin Dutra, coordenadora de Ciências Contábeis e Gestão Financeira do Centro Universitário da Serra Gaúcha (FSG):
– O aprendizado precisa ser contínuo, estendido para dentro de casa e com o comprometimento de todos – reforça.
Valores éticos e de responsabilidade também devem ser aliados nesse aprendizado:
– É preciso que se aprenda, desde cedo, a eleger prioridades. A educação financeira forma um adulto mais consciente e responsável – acredita.
Aprender os preceitos de gerir bem o orçamento, destaca a coordenadora, é importante para as contas pessoais para o uso profissional:
– Mesmo que um estudante opte por ser médico, por exemplo, ele vai precisar gerir o consultório. Implantar essa cultura de responsabilidade é fundamental a todos.
Evolução
:: A partir dos 2 anos: a criança começa a compreender o significado de comprar e percebe que o dinheiro é um meio para obter o que se deseja.
:: Por volta dos 5 anos: a criança consegue entender as relações de valor. Brincar de supermercado, por exemplo, pode tornar esse aprendizado ainda mais divertido.
:: A partir dos 6 anos: seu filho já é capaz de começar a cuidar do próprio dinheiro. Se puder, dê uma pequena mesada e explique quais gastos devem sair dali – por exemplo, o lanche da escola. Se o dinheiro acabar antes, não se deve fazer adiantamentos e complementações.
:: Em torno de 11 e 12 anos: o pré-adolescente já tem maturidade o suficiente para fazer algumas escolhas de prazo mais longo, como optar entre gastar e poupar. Administrar uma mesada é uma boa maneira de desenvolver a capacidade de planejar e tomar decisões – e conviver com as consequências. É uma boa fase para ensiná-lo a evitar desperdícios no dia a dia e mostrar, por exemplo, que economizar em água, luz e telefone pode ajudar na compra de um novo computador que todos vão usar.