O Banco Central revisou ligeiramente a previsão de queda do Produto Interno Bruto (PIB) do país para 2016. De acordo com o Relatório Trimestral de Inflação, divulgado na manhã desta terça-feira, a estimativa de recuo do PIB passou de 3,5% para 3,3%.
O resultado previsto para 2016 pelo Banco Central sinaliza uma melhora do indicador em relação ao ano passado, quando a economia caiu 3,8%. Essa análise das previsões foi influenciada, entre outros fatores, pela menor queda esperada para a indústria. O recuo projetado para o PIB do setor é agora de 4,6%, ante uma baixa de 5,8% estimada anteriormente.
"A melhora reflete o desempenho acima do esperado para o setor no primeiro trimestre", explica o relatório. O destaque negativo observado pelo BC é a piora das projeções para o PIB do setor agrícola. A estimativa passou de uma alta de 0,2% para um recuo de 1,1%. Essa reversão é decorrente de revisões para baixo das projeções do IBGE para as safras de soja, cana-de-açúcar e milho.
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A previsão de queda de 2,4% para o PIB de serviços foi mantida. Nesse setor, segundo o Banco Central, os maiores recuos serão observados nas atividades de comércio (6,5%) e de transportes, armazenagem e correio (5%). Apenas os segmentos de atividades imobiliárias e de aluguel não deverão apresentar desempenhos negativos no ano, e, sim, estabilidade.
O Banco Central também vê os primeiros sinais de reversão da deterioração das estimativas para os investimentos. A projeção da chamada Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) passou de um recuo de 13% para 11,6% em 2016. Essa terceira retração anual consecutiva foi impactada pelos desempenhos negativos projetados para a construção civil. O consumo do governo deve recuar 0,8% em 2016, ante previsão anterior de queda de 0,7%. Já a estimativa de queda do consumo das famílias passou de 3,3% para 4%.
Mais inflação neste ano e convergência para a meta apenas em 2017
O Relatório Trimestral de Inflação (RTI) também mudou a ênfase da diretoria colegiada da instituição ao falar da adoção de medidas necessárias para assegurar o cumprimento do regime de metas. Agora, essas ações não se dirigem mais aos preços em 2016, sendo apenas relacionadas à convergência da inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), para a meta de 4,5% em 2017.
Para este ano, o BC passou a ver que a inflação subirá 6,9%. O índice está acima da conta anterior de 6,6%. Para 2017, o relatório prevê inflação de 4,7%.
O documento manteve a avaliação de que "o cenário central não permite trabalhar com a hipótese de flexibilização das condições monetárias". O BC considera que há avanços no combate à inflação, mas ressalta que a sua continuidade depende de ajustes – principalmente fiscais – na economia.
Até o relatório de março, escrito ainda sob o comando de Alexandre Tombini, o Banco Central dizia que adotaria essas medidas necessárias também para circunscrever a inflação aos limites estabelecidos pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) em 2016. Agora, o primeiro documento de Ilan Goldfajn deslocou a frase sobre a adoção de medidas, relacionando-as à promessa de entregar a inflação no centro da meta no próximo ano.
"O Comitê de Política Monetária (Copom) buscará circunscrever a inflação aos limites estabelecidos pelo CMN em 2016 e adotará as medidas necessárias de forma a assegurar a convergência da inflação para a meta de 4,5%, em 2017", diz o relatório.
A mudança decorre do prazo necessário para que as ações de política monetária tenham efeito na dinâmica de preços do país. De acordo com a literatura econômica, essa transmissão leva de seis a nove meses para acontecer. Portanto, qualquer medida adotada pelo Copom a partir de agora só deve impactar mesmo a inflação do próximo ano.
O economista-chefe da Infinity, Jason Vieira, afirmou em nota que o documento do BC sinaliza uma postura mais dura em relação ao combate à inflação. "Concluímos que os juros devem permanecer inalterados até a reunião de outubro, no mínimo", diz. Atualmente, a Selic está em 14,25% ao ano.