O presidente da Shell, Ben van Beurden, posicionou a Petrobras como prioridade entre os investimentos globais da empresa. Em coletiva de imprensa para falar sobre a fusão com a BG, o executivo afirmou que o país está entre os três mais importantes onde investe. Em seguida, posicionou o Brasil como o "mais importante em nossa carteira".
A Shell é parceira da Petrobras no campo de Libra, no pré-sal da Bacia de Santos. Além de águas profundas, como o pré-sal, ele disse que a companhia tem interesse em ser líder no mercado de gás natural liquefeito.
– Esperamos que o pré-sal continue a ser um investimento interessante – disse Beurden, sem, no entanto, detalhar a cotação mínima para que o investimento na área seja viável.
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O presidente da Shell ressaltou a importância da parceria com a Petrobras e afirmou que, diante da crise, espera que "a lógica prevaleça" na petroleira brasileira. E completou que o país "será uma destinação importante dos investimentos por pelo menos uma década", afirmou.
Executivo teme reflexos da corrupção na Petrobras
Os escândalos de corrupção na Petrobras foram um fator de análise de risco sobre a fusão entre a Shell e a BG, segundo o presidente global da Shell. O executivo afirmou que a companhia fez uma análise sobre a exposição legal das empresas aos escândalos, sem que houvesse algum fator de risco.
– Tivemos que levar em consideração esse escândalo e como isso afeta a capacidade de investimento da Petrobras, além de algumas premissas macroeconômicas. De parte da Shell, sempre tivemos como postura seguir as leis, e não tivemos dificuldade disso. Mas analisamos se havia exposição legal da BG aos escândalos e não vimos nada – afirmou van Beurden durante o anúncio global.
O executivo ainda considerou que os escândalos podem afetar todo o setor de óleo e gás no país, como a capacidade de investimentos da cadeia de fornecedores e o seu ritmo de desenvolvimento.
– Talvez a cadeia de fornecedores sofra impactos, com a diminuição de atores, com uma taxa de desenvolvimento menos rápida, o que pode afetar o valor da cadeia. Tudo isso foi levado em consideração, quando passamos pela due dilligence inicial, trabalhamos de forma muito clara sobre esse tema – completou.
A Shell iniciou nesta segunda-feira a operação conjunta com a BG, quase um ano após o anúncio da fusão orçada em US$ 70 bilhões, em abril. A operação passou por aprovação dos órgãos regulatórios de todos os países em que as duas empresas operam.
Com a fusão, a Shell torna-se a maior empresa privada em operação no país, além de principal parceira da Petrobras em campos do pré-sal. Libra Ben van Beurden afirmou que o campo de Libra, no pré-sal da Bacia de Santos, é um projeto prioritário para a empresa, "de três ou quatro décadas".
– Pensamos nisso para avaliar investimentos e custos – disse.
A estratégia da companhia é ser líder em projetos de águas ultraprofundas, como o pré-sal, e no mercado de gás natural liquefeito (GNL). Beurden, no entanto, evitou falar sobre negociação de compra e ativos da Petrobras nessas áreas. Ele disse apenas que não examina oportunidades de investimento em refinarias no Brasil.
Em tempo de crise, o foco da companhia é financeiro e não a produção de petróleo em si.
– Meta de produção é coisa do passado – ressaltou Beurden, complementando que os custos de produção serão naturalmente reduzidos, à medida que os fornecedores baixarem os preços dos seus bens e serviços, por causa do desaquecimento da demanda.
Durante todo o dia, o presidente da empresa estará reunido com executivos dos dois lados. O objetivo, daqui para frente, será quadruplicar o volume de produção até o fim da década.
– A fusão fará com que a Shell seja uma das melhores companhias da indústria – disse.
Empresa demonstra interesse em ampliar atuação no pré-sal
Em meio às discussões sobre alterações no marco regulatório do pré-sal, para permitir a participação de empresas estrangeiras na operação dos campos de águas profundas, a Shell confirmou que tem interesse em atuar no segmento. Para Ben van Beurden a abertura a outras petroleiras além da Petrobras diminui o risco da operação e amplia os investimentos no país.
– Estou ciente que há discussão sobre o papel da Petrobras no pré-sal. Nossa posição é que cabe ao governo e ao Congresso definir. Mas, penso que faz sentido chamar outros parceiros com tecnologia, grandes investidores. Não vejo como isso não traria vantagem para o Brasil – afirmou o executivo.
Atualmente, pela legislação em vigor, a Petrobras é operadora única do pré-sal e tem a obrigação de participar com 30% em todos os campos ainda a serem leiloados no pré-sal. Esses pontos são questionados pelas petroleiras multinacionais, diante da crise internacional do petróleo e, principalmente, da fragilidade financeira da Petrobras.
– Isso (a abertura) disseminaria o risco, traria mais capacidade e mais investimento. Se fosse consultado, diria que é uma boa ideia. Se vier a acontecer, estamos em posição de querer um papel nesse contexto – completou van Beurden.
Beurden também afirmou que se reuniu com a presidente Dilma Rousseff no último ano para apresentar o projeto da fusão e a importância do país no portfólio da Shell. Segundo ele, a empresa acredita nos fundamentos "sólidos" da economia e do mercado brasileiro, que terá prioridade nos investimentos da companhia.
– A presidente não precisa que eu lembre que esse setor é muito importante para o Brasil e que é uma fonte de receita importante ter investidores como nós terem o Brasil como país número 1. Obviamente, pensamos na estabilidade da estrutura regulatória e fiscal. Essa é a preocupação de qualquer investidor – concluiu Beurden.