Emparedada pelo escândalo da Operação Lava-Jato, pela queda do preço internacional do petróleo, pela alta do dólar, que faz sua dívida encostar em níveis insustentáveis, e pelo peso dos investimentos necessários para cumprir suas obrigações legais, a Petrobras dá sinais públicos de fragilidade. Na semana passada, a OTC Brasil, espécie de ''braço'' nacional da feira mais importante de óleo e gás do planeta, com origem em Houston, no Texas, exibiu um buraco na área de exposições: era o estande destinado à Petrobras, que ficou vago às vésperas da abertura. A estatal, que passou a cortar tudo o que pode, eliminou mais esse custo e colocou suas dificuldades em uma vitrine internacional
No sábado, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, achou conveniente adiantar, na distante Marrakesh (Marrocos), que o governo poderá rever a obrigatoriedade de a empresa participar com o mínimo de 30% nos investimentos no desenvolvimento de novas áreas do pré-sal. É a única das quatro paredes que oprimem a Petrobras que o governo pode, de forma legítima, derrubar. Não será a redenção, apenas a remoção do que é, no momento, mais um fardo que pesa na tentativa de devolver a estatal à tona.
Se o que Levy propõe, agora, for realmente a visão de governo, não a pessoal, e a ideia avançar, certamente haverá reações. Não faltará quem acuse, desta vez, pressão das gigantes petrolíferas e ''entreguismo'' oficial. O momento passa, mas o discurso perdura.
É bom lembrar que, há quase um ano, na esteira da sétima fase da Lava-Jato – a que não tirou mais o assunto das manchetes –, o ex-diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP) Haroldo Lima, um nacionalista exacerbado e filiado ao PC do B, já defendia o fim das exigências de exclusividade e de participação mínima da Petrobras em 30% das novas áreas do pré-sal. A proposta de Lima era participação preferencial, não compulsória, quando houvesse ''interesse e condições''. Neste momento, por mais que o primeiro elemento exista, o segundo claramente falta.
Nos próximos dias, a estatal tem de publicar as informações financeiras do terceiro trimestre – ainda dentro do prazo, mas mais tarde do que costumava fazer nos tempos dos bons números. Como aderiuao Refis, terá um desembolso extra de R$ 2 bilhões. O trimestre também concentra a fase de impacto cambial mais agudo. Apesar do rombo no casco, a Petrobras é quase grande demais para afundar. Mas terá de jogar carga ao mar se quiser evitar o naufrágio.