Parece ser um fenômeno global, influenciado pelo tipo de discurso que inunda as redes sociais, mas o debate econômico no Brasil está especialmente contaminado pelo espírito dos "trolls". Quanto mais a figura de linguagem ou a frase for feita para humilhar, desrespeitar e desconstituir, mais sucesso faz quem a pronuncia ou escreve. Como geralmente o alvo é o governo, é preciso compreender a espécie de ressaca da overdose de ufanismo e da atitude de encarar críticas tecnicamente fundamentadas como mero exercício de oposicionismo militante.
Feita a constatação, é preciso seguir em frente. Brilhantes economistas e antigos ocupantes de cargos na gestão da economia, que poderiam contribuir para elevar o nível do debate em um momento crucial para o país, perdem tempo precioso afiando a ironia e polindo figuras de linguagem deselegantes. Os que tentam ser propositivos, ainda que não tenham mágica para sair da crise, com frequência são atacados, em vez de críticas fundamentadas.
"No Brasil, infelizmente, não há debate. Há apenas as falácias, cognitivas ou ideológicas", escreveu há pouco a economista Mônica de Bolle, longe do espectro nacional-desenvolvimentista. O exemplo escolhido é esse para evitar leitura simplista. O desrespeito e a desconstituição não têm só uma mão. Ex-dirigentes que cobram do governo a grandeza da admissão de erros não precisam incorrer na mesma soberba. Economistas têm melhores recursos do que adjetivos de mau gosto. Empresários que reclamam da falta de confiança mas alimentam o clima "não tem solução" contrariam seus próprios interesses. E governo que não consegue mostrar o rumo precisa encontrá-lo com urgência.