Foi preciso que o Ministério da Fazenda emitisse nota, no início da noite desta sexta-feira, para desmentir que Joaquim Levy estivesse deixando o cargo. Como há um mês, também em uma sexta-feira, o mercado especulou o dia inteiro sobre a suposta saída de Levy do governo. Na manhã, a saída era considerada certa: a bolsa caía e o dólar subia. À tarde, houve um momento em que se apostou na permanência de Levy: a bolsa subiu e o dólar recuou. No fechamento, a dúvida voltou, a bolsa cedeu e o dólar reagiu.
Ao voltar ao ministério, depois de uma reunião com a presidente Dilma Rousseff no Palácio do Planalto, Levy não fez muita questão de esclarecer. Aos repórteres que o esperavam com perguntas sobre a permanência ou não, deu apenas boa noite. Só depois disso saiu a nota da assessoria: ''Ele não pediu demissão, não existe carta de demissão. Levy continua trabalhando e se esforçando pelo futuro do país''.
No dia 18 de setembro, o rumor da queda de Levy havia dividido atenções com o do rebaixamento da nota do Brasil pela Fitch.
Um dos boatos demorou quase um mês para se confirmar, mas virou fato. No dia anterior à especulação sobre Levy, a Fitch cortou a nota de crédito da dívida pública brasileira. Não é improvável que, com o segundo, ocorra o mesmo.
Quando Levy foi indicado, havia dúvidas se teria apoio dentro do Planalto para adotar seu programa. Conseguiu emplacar parte das medidas que havia planejado, mas um naco substancial ficou pelo caminho.
A prioridade do governo foi garantir sua própria sustentação, não o equilíbrio das contas. E Levy segue isolado, sofrendo ataques quase diários de petistas. A gota d'água teria sido o do petista-mor, Luiz Inácio Lula da Silva, que falou em público sobre o ''prazo de validade'' do ministro.
Quem aposta na permanência de Levy pondera que Lula discursa "para a base partidária" ao criticar o ajuste fiscal. Quem acredita no prazo de validade estima que a decisão do Congresso sobre vetos de Dilma a itens ainda pendentes da “pauta-bomba” pode selar seu destino. O que pode ocorrer se isso se confirmar ficou claro nesta sexta: uma nova onda de incerteza.