Centenas de pequenos estabelecimentos comerciais podem fechar as portas até o final do ano devido à crise em Porto Alegre e Alvorada. A projeção é do Sindicato dos Lojistas do Comércio de Porto Alegre (Sindilojas), entidade que conta com 2,6 mil associados e representa 18 mil empresas nas duas cidades.
Segundo projeção do presidente do Sindilojas, Paulo Kruse, os estabelecimentos ameaçados empregam hoje cerca de 2,5 mil trabalhadores. Além do alto preço dos aluguéis, também contribuem para o atual momento a conta de luz, o aumento no custo da mão de obra e a redução no volume de vendas.
Seis visões de como o varejo deve enfrentar a crise
- Do total das lojas estabelecidas, 5% ou 6% dos pequenos estabelecimentos em Porto Alegre devem fechar as portas até o fim do ano - estima Kruse.
O maior risco é das que vendem calçados, confecções e ferragens, mas também há impacto em outros segmentos. As mais suscetíveis são as pequenas, que têm de um a cinco funcionários. A maior dificuldade está no fato de não terem dinheiro suficiente em caixa para enfrentar a redução na procura. Com despesas fixas para pagar e sem recursos que entrem para cobri-las, muitos pensam em encerrar atividades.
A receita de empresas que superaram a crise e agora buscam oportunidades
- O aluguel se manteve alto, e as vendas (de confecções) caíram por falta de frio. O pessoal ficou sem giro e têm de fazer empréstimos com juro alto. Custo fixo estável e venda em queda inviabilizam o negócio - explica Kruse.
Em três meses, de abril a julho deste ano, o total de imóveis comerciais à venda na Capital subiu 15,57%, em um fenômeno que, conforme o Sindilojas, estaria ligado à crise do comércio. No primeiro semestre, conforme dados da Junta Comercial do Rio Grande do Sul, 2.257 estabelecimentos varejistas fecharam as portas em Porto Alegre e Alvorada - no período, abriram 5.227 empresas.
Provável consequência do aumento na oferta, preços de salas e conjuntos comerciais diminuíram. O Secovi-RS, que representa as empresas de compra, venda e locação de imóveis, aponta que, de maio a julho passado, o valor médio do metro quadrado na Capital recuou 1,02%, de R$ 3.656,03 para R$ 3.618,77.
Para o Sindilojas, esse comportamento dos aluguéis comerciais é uma das maiores esperanças para a normalização das pequenas lojas a partir do próximo ano.
- Em toda Porto Alegre, pode-se ver um grande número de lojas para alugar. O preço dos aluguéis está caindo. A partir de 2016, a tendência é de uma reacomodação de preços - avalia Kruse.
Dona de duas unidades é forçada a optar por uma
Faz quase um mês que a microempresária Otília Maslinkiewicz esteve no Shopping Total para retirar as últimas prateleiras da Maria Chica. A loja de presentes e acessórios era uma das duas unidades que ela mantinha em sociedade com a irmã, Carolina, em Porto Alegre. Em razão da crise, a dupla decidiu fechar a loja do shopping, mantendo em atividade apenas a de rua, na Avenida Protásio Alves.
Segundo Otília, as duas já estavam tentando reduzir os custos desde o final da Copa do Mundo de 2014. Na época, além das duas sócias, a Maria Chica contava com três funcionários. Hoje, tem apenas um.
- As vendas vinham caindo desde a Copa, mas o quadro ficou crítico de abril para cá. Desde então, o movimento caiu 70% - avalia a empreendedora.
Antes da medida extrema, as irmãs haviam negociado a redução no valor do aluguel do espaço no shopping. Obtiveram uma redução de R$ 1,2 mil no valor cobrado originalmente, de R$ 6 mil mensais.
Comerciante ainda espera que 'fase passe'
Entretanto, na avaliação da dupla, o abatimento não seria suficiente para garantir a sustentação do negócio no longo prazo. Por isso, decidiram focar na loja de rua, cujo aluguel custa R$ 3 mil, em torno da metade do que pagavam no shopping.
- O custo da loja (do shopping) é bem mais alto, e o movimento caiu bastante. Assim, decidimos concentrar a atividade na loja de rua. Vamos esperar esta fase passar e ver os rumos que vamos tomar - explica Otília.