Na segunda-feira, 31 de agosto, quem acompanha os critérios das agências de avaliação de risco sentiu calafrios na espinha. Sob o argumento da transparência, o orçamento da União enviado ao Congresso foi enviado ao Congresso com previsão de déficit de R$ 30,5 bilhões. Déficit ocorre quando as despesas são maiores que as receitas, sem contar o pagamento do juro da dívida.
Agência vê mais risco de calote e tira nota de bom pagador do Brasil
Na comparação com o orçamento doméstico, significa algo como a família fazer as contas do mês e chegar à conclusão que não teria sequer dinheiro para pagar o supermercado e as compras do dia a dia, deixando pendurada as contas de água, luz, telefone, prestação da casa própria.
"Só a retomada do crescimento tira o Brasil dessa situação", diz Renan Calheiros
Significa, para um país, que seu endividamento vai aumentar, porque a parcela de juros não quitada vai se incorporar ao chamado "principal". Tudo o que as agências de avaliação de risco avaliam é isso: a capacidade de um devedor quitar suas dívidas conforme o combinado.
Ao mandar orçamento com déficit para o Congresso, parecia que o governo brasileiro mandava um aceno às agências de classificação de risco: vejam, não temos como nos comprometer com o equilíbrio fiscal. A partir de então, a perda do grau de investimento passou a ser questão de tempo. Mas nem o mais pessimista observador imaginava que seria tão rápido: apenas nove dias. As agências costumam ser mais lentas. Em mais de uma ocasião, só rebaixaram a nota para o nível de "calote" quando os países de fato descumpriram prazos.
No início do ano, quando já havia sinais de deterioração das contas públicas brasileiras, provocado pelas "pedaladas" expostas publicamente, foi preciso um longo processo de convencimento para impedir a perda da nota que inclui o Brasil no clube da elite dos bons pagadores. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, empenhou seu discurso para impedir a perda da nota que inclui o Brasil no clube de elite dos bons pagadores.
Na semana passada, o economista Paulo Rabello de Castro, sócio de uma empresa de rating nacional que avalia a dívida soberana do Brasil, afirmou à coluna que, na sua avaliação, o Brasil nunca havia sido "grau de investimento". O título de sócio, portanto, seria provisório.
Nesta quarta-feira, em entrevista ao jornal Valor concedida antes do anúncio da Standard & Poor's, a presidente Dilma Rousseff afirmara que se esforçaria para ter superávit no orçamento de 2016. O governo se deu conta do que seria um estrago ainda potencial. Tarde demais. Se quiser evitar o ainda pior - a perda da segunda nota em grau de investimento, que espantaria do Brasil os fundos de pensão institucionais - será preciso provar compromisso com o equilíbrio fiscal. Se é que ainda dá tempo.