Faltou velocidade na reação do Planalto à perda do grau de investimento. Parecia promissora a disposição do ministro Joaquim Levy ir ao Jornal da Globo, com realismo e serenidade, avisar que viriam "mais cortes do que em outros casos" e a reunião de emergência convocada pela presidente Dilma.
Ao não anunciar medidas concretas à tarde, Levy frustrou expectativas. Evitar que outra agência rebaixe o Brasil a grau especulativo pode ser difícil, mas o bom senso recomenda que se tente.
É do Planalto a responsabilidade da perda que, para usar uma palavra do vocabulário de Dilma, não é trivial. Mas o Congresso divide o peso do retrocesso. O sinal mais promissor veio do líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS), que prometeu para esta sexta-feira os primeiros cortes.
Levy promete ações só para o fim do mês e frustra expectativas
Entenda os motivos e as consequências do rebaixamento da nota do Brasil
Para avançar com mais imposto, o governo precisa afiar a tesoura antes. A partir daí, haverá duas opções: o custo desordenado da recessão aprofundada pela intensificação da saída de capital do país ou a mais organizada, por meio de tributos socialmente justos e economicamente suportáveis.
Mesmo sem novos rebaixamentos, o dólar vai subir e arrastar a inflação. Por ironia, justo nesta quinta-feira, o day after da pior notícia para a economia nessa supersafra de inquietações, o IPCA mensal desacelerou forte, para 0,22%, a menor para um mês desde 2010.
Nada para festejar, por ser efeito da recessão produzida pela desconfiança e pela alta do juro, mas era um sinal na direção certa. Analistas projetam o câmbio comercial em R$ 4,50 até o final do ano. A trégua inflacionária será curta.
Se o susto não fizer o Planalto se reorganizar, a economia pode reorganizar o Planalto.