O Brasil bateu dois recordes próprios no Relatório Global de Competitividade 2015/16, elaborado pelo Fórum Econômico Mundial e divulgado nesta terça-feira O país caiu para sua pior posição e tombou inéditos 18 degraus no pódio dos mais competitivos.
Entre 140 países, o Brasil aterrissou na 75ª posição. São 27 postos abaixo do 48º lugar conquistado em 2012, melhor desempenho desde 2006, quando a pesquisa, iniciada em 1977, ganhou a atual metodologia, que agora permite comparações entre um ano e outro. Segundo o ranking, o país está abaixo de alguns de seus principais concorrentes, como México, Índia, África do Sul e Rússia, e de economias menores como Uruguai, Peru, Vietnã e Hungria.
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A decadência do Brasil de um ano para outro ocorreu por uma soma de fatores, segundo a pesquisa. Houve deterioração dos dados macroeconômicos, perda de confiança do empresariado - observada em pesquisa de opinião realizada neste ano - e também a comprovação de uma complexa rede de corrupção em funcionamento no país, evidenciada pela Operação Lava-Jato.
- Como não avançou em questões regulatórias e tributárias e na infraestrutura melhorou pouco, basicamente em aeroportos, o Brasil acabou perdendo muitas posições no ranking - afirma o professor Carlos Arruda, coordenador do Núcleo de Inovação da Fundação Dom Cabral (FDC), uma das parceiras do Fórum Econômico na coleta e análise dos dados.
A pesquisa mostra que no quesito sobre a força das instituições o Brasil perdeu 27 posições. O motivo foram variáveis associadas à ética nas relações entre o setor público e privado e à corrupção.
- Indicadores como confiança pública em políticos (138ª), pagamentos irregulares e subornos (112ª), comportamento ético das firmas (133ª) e proteção aos interesses de acionistas minoritários (78ª) estão diretamente ligados aos recentes escândalos de corrupção que envolveram poder público, partidos políticos e iniciativa privada - avalia o relatório.
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A pesquisa evidencia a perda de confiabilidade tanto de representantes e agentes públicos quanto de empresários e altos executivos. - Um dado que mostra a perda de credibilidade no setor privado é a pouca eficácia dos conselhos corporativos (que passou da 56ª para a 79ª posição) - afirma Arruda.
Além de ter piorado em relação a outras economias - em 2014, era o 57º entre 144 países -, o país ainda registrou recuo na nota em relação à economia mais competitiva - que, pelo sétimo ano consecutivo, é a Suíça. Na pesquisa de 2014, o índice geral do Brasil era de 4,34. Neste ano, é de 4,08.
- Isso significa que o Brasil ficou menos competitivo em relação a si mesmo - afirma Arruda. Ou seja, não foram os outros países que melhoraram e deixaram a economia brasileira para trás. "O Brasil piorou", resume.
Vai piorar
Os recordes negativos no ranking do Fórum Econômico Mundial levam em consideração a evolução dos dados macroeconômicos de 2014. Ou seja, só no ano que vem a pesquisa vai capturar o que está ocorrendo neste ano na economia brasileira. Entre alguns fatores desfavoráveis, haverá o aumento do déficit nominal do setor público, o estouro da taxa de desemprego e a alta da inflação, além da perda do grau de investimento da agência Standard & Poor's.
Como alento, a boa notícia é que a depreciação cambial é vista como um ponto favorável. É um fator, segundo o professor Arruda, que pode estimular a internacionalização das empresas a partir das exportações.
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O ganho de produtividade pode vir da maior exposição do empresário brasileiro a mercados globais, especialmente por meio das exportações, na avaliação de Arruda. O professor observa que a abertura internacional brasileira, já pequena, recuou entre os estudos de 2014 e 2015. Ele cita que o total das vendas ao exterior equivalia a 12,5% do PIB no relatório de 2014. No estudo deste ano, responde por 11,2% do PIB. O indicador da Suíça é de 59,6%. O da China, 24,8%.
- Quanto mais incentivo o Brasil tiver para competir no mercado internacional, mais prováveis os ganhos de produtividade"- afirma Arruda.
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Do lado do setor público, o professor diz que é necessária a realização de acordos bilaterais, mais céleres que iniciativas multilaterais. Do lado do setor privado, salienta que o empresário precisa considerar estratégias de internacionalização dos negócios. Ele argumenta que várias companhias servem de exemplo. Cita empresas do setor de papel e celulose e do ramo de máquinas e equipamentos.
- Há várias empresas brasileiras que adotaram a estratégia de 'global players'. E essa é a agenda positiva de que o Brasil precisa. Buscar mercados traz desafios no início, mas gera ganhos no longo prazo - afirma.