A véspera de um novo dia decisivo para o futuro da Grécia foi de revelações da dupla que desafiou o senso comum e a liderança da zona do euro. O resultado foi menos romântico do que sugeria a postura do primeiro-ministro Alexis Tsipras e de seu ex-ministro de Finanças Yanis Varoufakis.
Uma semana depois de renunciar ao cargo depois da vitória do "não" no plebiscito - sendo que havia ameaçado tomar essa decisão em caso de vitória do "sim" -, Varoufakis admitiu que não saiu para "facilitar as negociações", como disse pouco antes de pegar sua moto e sair por aí.
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À revista britânica New Statesman, revelou ter entregue o cargo por ter sido derrotado, por quatro votos a dois, na proposta de jogar duro com os sócios. Seu roteiro passava por emitir IOUs (sigla para a expressão em inglês I owe you, eu lhe devo, que representa uma espécie de moeda paralela), forçar a renegociação da dívida do país e retomar o controle do banco central da Grécia. Seria uma forma de "amedrontar" os credores e obter um acordo melhor.
Ainda mais desconcertante foi a entrevista de Tsipras à TV pública ERT, emissora que ele reabriu ao assumir o governo. Justificou assim sua reviravolta:
- Assumo a responsabilidade por um texto em que não acredito, mas que assinei para evitar o pior para o país. Uma falência desordenada levaria não só ao colapso do sistema bancário e ao desaparecimento de todas as poupanças, mas obrigaria à emissão de moeda que seria drasticamente desvalorizada por não haver reservas que a suportassem.
Se Tsipras sabia disso, porque insistiu em um plebiscito que representou uma vitória de Pirro e só frustrou mais os gregos - tanto por exasperar os sócios do euro e aumentar sua fome por sacrifícios quanto por fazer crer que havia chance de menos austeridade? Diante dessas afirmações, só resta a tese de que o jovem político grego tentou blefar diante de tubarões. E foi dilacerado.